SÃO PAULO - Numa época em que novos documentários sobre artistas da música aparecem o tempo todo, é bom que um deles fuja da fórmula preguiçosa de elencar algumas informações didáticas e filmes de arquivo a declarações de especialistas sobre a obra do biografado. Luiz Melodia (1951-2017) foi uma figura ímpar na MPB e ganha um registro no cinema bem singular. O filme que estreou nacionalmente na quinta-feira (16) será exibido neste sábado (18), no Espaço Villa Rica, em Londrina.

Dirigido por Alessandra Dorgan e com direção musical da jornalista Patricia Palumbo, "Luiz Melodia: No Coração do Brasil" chega ao circuito com a proposta de concentrar toda a narrativa no próprio cantor. A ideia de "dar voz" a Melodia é levada ao pé da letra. São suas histórias e opiniões que montam o roteiro diante do espectador.

Melodia começou sua carreira fonográfica em 1973, com o seminal álbum "Pérola Negra", que surgiu a reboque das gravações da canção de mesmo nome por Gal Costa, no ano anterior, e de "Estácio, Holly Estácio", por Maria Bethânia. Veio em seguida o disco considerado sua obra-prima, "Maravilhas Contemporâneas", e a participação no festival de música Abertura, da TV Globo, levando ao público nacional a canção "Ébano", momento exibido no documentário.

Na verdade, outra caraterística do filme é mostrar quase todas as músicas na íntegra, enquanto produções do gênero costumam oferecer trechos das canções. Isso só enriquece o material. São as canções, misturas ecléticas de rock, samba, blues e o que mais viesse, que trazem todo o talento de Melodia

O filme não tem indicações didáticas sobre a vida de Melodia. Os filmes de arquivos, alguns raríssimos, são dispostos cronologicamente, mas sem que se saiba data ou lugar, porque o trabalho de edição de Joaquim Castro dispensa esse tipo de apoio. Aquilo que Melodia narra e canta vai aos poucos criando um painel completo de vida e obra. Da infância no Estácio, no Rio, ao encontro com as grandes estrelas da MPB dos anos 1970 e até os períodos em que a miopia do mercado e das gravadoras o deixaram sem tanto espaço, cada peça vai se encaixando.