São Paulo, 05 (AE) - Seu começo no cinema foi um sonho, como Ludmila Dayer gosta de dizer: ela estudava numa academia de dança espanhola, no Rio, quando foi vista pela produtora de "Carlota Joaquina, Princesa do Brasil". Instruída pela diretora Carla Camurati, Bianca De Filipes procurava uma menina graciosa, que fosse desembaraçada e soubesse dançar flamenco. Em uma hora Ludmila estava contratada. Tinha 10 anos. Aos 13, viveu a ninfeta rodriguiana de "Diabólica", o segundo episódio de "Traição", em cartaz nos cinemas de São Paulo.
Ludmila fica contente ao saber que, no fim de semana, o público do Espaço Unibanco de Cinema aplaudiu seu episódio. "Que legal, foi a mesma coisa no Festival de Brasília do ano passado; no fim, ficamos com o prêmio do público, o Cláudio (seu diretor, Cláudio Torres) ganhou o prêmio de direção e eu fui a melhor coadjuvante".
Ela liga para prêmios, sim. Lembra que, quando fez "Carlota Joaquina", ganhou o prêmio de atriz revelação da Associação Paulista de Críticos de Arte, a APCA. Depois desse, veio o Candango de Brasília. "Prêmios são importantes; massageiam o ego e mostram que eu estou no caminho certo". Nasceu para ser atriz. Sempre quis ser. Encontrou apoio na mãe advogada, de nome Rosane. "É bom porque ela sabe tudo de leis e também é minha empresária; estou bem assessorada", diz. Acrescenta que a mãe não é do tipo que faz tudo para transformar a filha numa estrela. "Ela quer o melhor para mim".
Os críticos apontam Ludmila como a estrela brasileira do ano 2000. Ela ri, revelando seu lado menina, mas fala como gente grande. "Não quero ser uma estrela". Ou melhor, querer, quer, mas morre de medo de ter uma carreira meteórica. Quer ir construindo a sua aos poucos, avançando, conquistando espaços. "Quero ficar", garante.
O sucesso do episódio de "Traição" deve muito à malícia com que ela encarna uma das obsessões de Nélson Rodrigues - a ninfeta. "Alicinha é uma menina má, uma peste", define. Foi divertido fazê-la, mas Ludmila confessa; não gosta de Nélson Rodrigues. Já tentou ler, antes mesmo dos preparativos para o filme e, depois, com muito mais necessidade, mas esbarrou sempre na própria resistência. Seu autor preferido é Sidney Sheldon. "Adoro". Nélson é muito pesado, "muito exagerado", como ela diz.
Foram meses de preparação para fazer Alicinha. Muitas conversas com o diretor, que chegou a mudar o roteiro para que ela se sentisse mais à vontade. "Conversávamos muito e eu dizia que a história já era chocante, o filme não precisava ir além". Dessas conversas saiu o que Ludmila chama de cenas "mais sutis". É um dos aspectos mais fascinantes do cinema, ela assinala - "Não tem de mostrar, pode sugerir - mostrar fica muito vulgar".
Mas ela confessa que foi fundo na maldade e sensualidade de Alicinha. Às vezes, a mãe chegava a dizer: "Se segura, menina". Ela encarnava o descaramento sem medo. Embora assuma integralmente a personagem, sabe diferenciar realidade da ficção. "Fico tomada pela personagem, mas sei que aquilo não é real", garante.
Aos 15 anos, cursa o primeiro ano do 2.º grau. Poderia estar no segundo, mas preferiu parar no ano passado para estudar línguas. Considera o inglês muito importante para a sua carreira de atriz. Ainda não tem planos para o futuro, mas gostaria de cursar cinema, quem sabe ser diretora. Acha cinema o máximo, mas não é uma adolescente como as outras. Gostou de "Titanic", mas Leonardo Di Caprio não faz sua cabeça. "Muito baby", sentencia. Prefere os homens mais maduros - Robert De Niro, Al Pacino, Sean Connery, por quem é "louca".
Numa cena particularmente interessante de "Diabólica", a primeira em que aparece, Ludmila faz um movimento de cabeça que evoca a imagem de um filme de Federico Fellini, o episódio Toby Dommit, de "Histórias Extraordinárias". O crítico pode jurar que aquilo é uma influência de Fellini sobre o diretor, mas Ludmila nega. "Aquilo?", pergunta. "O Cláudio nunca me falou nada, as expressões da Alicinha fui eu que criei". Foi uma premonição felliniana? "Acho que foi muito mais uma casualidade", admite Ludmila, que confessa não ser nenhuma expert no mestre italiano.