São Paulo,25 (AE) - É o popular dois em um. Há dois filmes em "Loucos do Alabama", que estréia amanhã (26) em São Paulo. Um deles é um drama sobre o rito de passagem, tratando de um garoto branco que toma lições de vida ao se envolver na luta dos negros por direitos civis no sul dos Estados Unidos, nos anos 60. O outro é uma comédia com uma personagem almodovariana - a Lucille interpretada por Melanie Griffith, que mata o marido opressor e depois circula com a cabeça dele escondida numa caixa.
Desde que "Loucos do Alabama" estreou no Festival de Veneza, em setembro, muitos críticos não escondem sua decepção. Não que achem ruim o filme de estréia do ator Antonio Banderas na direção. Apenas a maioria da crítica não vê por que ele resolveu fazer justamente este filme, que poderia, segundo eles, ser realizado por qualquer outro em Hollywood. Outro poderia ter dirigido "Loucos do Alabama", mas com certeza não o faria tão bem.
"Loucos do Alabama" é uma surpresa agradável. Banderas mostra que aprendeu direitinho suas lições com Pedro Almodóvar, mesmo que seu filme não seja uma comédia rasgada como as que interpretou para o cineasta espanhol. Mas há um toque almodovariano não apenas na personagem de Melanie, que sonha com o universo do cinema, mas também na figura do juiz criado por Rod Steiger.
Casado com Melanie na vida real, Banderas faz uma ode à mulher de sua vida, aquela que o fez ajoelhar-se no chão, ao pedi-la em casamento. Mas Steiger é maravilhoso. Muitas vezes acusado de exagero, o ator (do Método) que ganhou o Oscar por "No Calor da Noite" há tempos andava desacreditado, fazendo pontas em filmes sem importância. Não é exagero dizer que ele cria o juiz de "Loucos do Alabama" com um certo cabotinismo à Marlon Brando, mas é uma criação deliciosa. O personagem é daqueles que conquistam a platéia - um juiz que, como diz tia Lucille, sabe fazer a diferença entre Justiça e o que é justo.
Há humor em "Loucos do Alabama", principalmente quando Melanie está em cena. Mas o próprio Banderas não gostaria que seu filme fosse definido como uma comédia. Prefere vê-lo como um drama, o que é, nas belas cenas que recriam a luta dos afro-americanos por seus direitos. Na história, Peejoe (o garoto Lucas Black) vê um garoto negro ser assassinado pelo xerife racista ao tentar banhar-se numa piscina exclusiva para brancos. Peejoe quer testemunhar contra ele, mas o xerife ameaça ser intransigente com Lucille, caçada pelo assassinato do marido que a impedia de tentar a carreira de estrela em Hollywood.
Um belo drama com deliciosos momentos de humor. Embora François Truffaut dissesse, já nos anos 50, que mestre Jean Renoir havia acabado com esse negócio de gêneros, não é fácil harmonizar as duas linhas narrativas de "Loucos do Alabama". É
com o uso da cor, outra lição que Banderas aprendeu com Almodóvar, um mestre do que, à falta de uma definição melhor, convencionou chamar-se de "comédia dramática".
Mesmo assim, é possível que o espectador se preocupe em saber se Banderas consegue fechar suas duas histórias. Ele o faz e de uma maneira que transforma sua ode a Melanie Griffith numa ode também à liberdade. Essa liberdade que, como diz Peejoe, é tão importante que uns matam e outros morrem por ela. SERVIÇO - Loucos do Alabama. Drama. Direção de Antonio Banderas. Com Melanie Griffith, Cathy Moriarty, David Morse. Duração: 111 minutos. 18 anos. Distribuição: Columbia TriStar