Ao conferir o cartaz do cinema, é possível encontrar estampado os personagens do Super Mario, clássico jogo de videogame da Nintendo, no lançamento Super Mario Bros, o Filme. Mario, Luigi, Bowser, Princesa, Donkey Kong, e todos os outros, são os protagonistas desde os tempos dos jogos e atualmente estão dominando a tela dos cinemas. Super Mario Bros. - o Filme, estreou no dia 6 de abril e já está consolidado como a maior bilheteria de 2023, somando quase US$700 milhões em todo o mundo.

O artista que não está estampado no cartaz, mas fez parte integral do filme, é o londrinense Alex Angelis, que participou no papel de animador sênior da Illumination Mac Guff, a produtora francesa que desenvolveu o longa-metragem. Se parece curioso um conterrâneo participar de um blockbuster como este, já adiantamos que ele também fez parte de superproduções, como spin offs de A Era do Gelo, Madagascar, e diversas outras animações que estão ativas nos maiores streamings, como Netflix e Disney Plus.

DEDICAÇÃO

Angelis, 33 anos, se apaixonou por animação desde que cursava Design Gráfico, na UEL - Universidade Estadual de Londrina. “Na época o acesso a cursos específicos de animação era menor e não existia muita coisa no Brasil, menos ainda em Londrina. Então, comecei a estudar por conta própria no conteúdo gratuito que encontrava na internet”. E foi assim que tudo começou, com um desejo incrível de chegar a uma carreira internacional, reconhecida, e principalmente, de ter a oportunidade de fazer parte de grandes longas de animação.

Para seguir com o sonho, Angelis sabia que precisaria ir além das fronteiras paranaenses e brasileiras. Para isso, criou mentalmente uma escada, onde cada degrau seria uma conquista. Os primeiros passos foram em estúdios de Londrina, ainda na faculdade, que oportunizaram participar dos primeiros papéis como animador - que já era algo além do design gráfico no qual estava se formando.

“Sempre respeitei muito a equipe em que eu trabalhei, aprendendo com cada um, estando aberto para novos conhecimentos e aprimoramento. Quando sentia que chegava a um limite de conhecimento e desenvolvimento naquele local, buscava por outra oportunidade ainda mais desafiadora”, aponta.

O degrau seguinte foi sair de Londrina para São Paulo, que foi um desafio por si, além da questão profissional. Passado algum tempo desenvolvendo publicidades e curtas para grandes marcas, surgiu uma imensa oportunidade de atuar no Canadá, para a Bardel Enterteinament, onde fez a série All Hail King Julian (Saúdem todos o Rei Julian, na tradução para o português), para a Dreamworks. Este é uma série com alguns dos personagens do sucesso Madagascar. Ainda no Canadá, enquanto estava na Sony Imageworks, participou do primeiro filme de grande porte, Storks (Cegonhas - A História Que Não Te Contaram, na tradução para o português), para a Warner Bros Pictures.

“Neste momento eu já estava apto a desenvolver as cenas nível A, (em uma escala A, B, C), que são as cenas mais relevantes para o filme, de maior impacto. As empresas valorizam a contratação do estrangeiro desta maneira, uma vez que é um grande investimento para a empresa trazer um funcionário de outro país”, explica Angelis sobre a hierarquia dentro das produtoras. Ele também completa que existe uma fase de pré-produção, na qual outros animadores e designers são contratados para desenvolver o personagem e as principais características de expressão, e este momento pode durar meses até ser entregue para a equipe de produção que dará ação às cenas.

Cada produção pela qual Angelis passava conhecimentos eram somados. No projeto seguinte, mudou-se para o estado de Oregon, nos Estados Unidos, e fez parte da Laika, uma empresa que lançou poucos filmes, mas cinco deles haviam sido indicados ao Oscar. “Além de ter uma reputação internacional fenomenal, a Laika tinha um grande desafio que era atuar com o 3D e o stopmotion, duas técnicas diferentes que somavam um resultado incrível, e inédito na minha carreira”, explica.

A GRANDE VIRADA

Todos esses momentos foram importantes para agregar na carreira, mas um deles pode ser considerado o ‘ponto-chave’. “No spin off, Ice Age: Scrat Tales (A Era do Gelo: História do Scrat, na tradução para o português), do estúdio Bluesky, nos EUA, me foi dado o desafio de fazer uma cena de um minuto e seis segundos. Para se ter uma ideia, um segundo na animação é composto por 24 quadros desenvolvidos pelos animadores, e o padrão são cenas de 5 a 8 segundos. Esta cena do quinto episódio da série é uma das raras cenas na história da animação com mais de um minuto e é pauta para estudos em todo o mundo”, explica feliz por ter sido desafiado e por ter cumprido com o desejo diretor naquele momento.

Antes de ser animador sênior na atual produtora francesa, Angelis assumiu o papel de líder no filme Dragonkeeper (Cuidadora de Dragões, na tradução literal para o português) no estúdio espanhol Guardian de Dragones. “Atuando à distância, morando no Brasil, pude trazer minha esposa e filho para perto da nossa família, em Londrina. Hoje em dia as produtoras aceitam melhor o trabalho remoto, o que também abriu oportunidades para profissionais desta área”.

Parafraseando o filósofo Clóvis de Barros Filho: “É esse brio que levará você a progredir intelectualmente”. Angelis sempre teve um grande objetivo a atingir, e traçou um caminho no qual poderia percorrer. “Tem uma frase do meu pai que ajuda a resumir o modo como eu encaro a minha jornada desde o começo: ‘Tudo que deve ser feito, merece ser bem feito!’”.

O MERCADO DE ANIMAÇÃO

O mercado de animação não é muito extenso e há uma grande rotatividade dos animadores que fazem freelancer para os filmes, é algo comum na área. Afinal, um longa-metragem pode ser composto por 50 a 120 animadores que passam pelos processos de pré-produção e produção. Angelis já participou do processo de pré-produção e diz que o resultado no momento de criar as cenas é mais fluido. “Conhecendo bem as características do personagem, desenvolver as cenas posteriormente se torna mais natural. É um processo de construção do personagem desde o início”, explica.

Para quem deseja entrar neste mercado, a sugestão de Angelis é que tenha em mente um foco e se desenvolva profissionalmente para isso. “Em todas as minhas passagens por diferentes produtoras notei que a dedicação dos profissionais era a mesma: intensa. São muitas horas de estudo e muita dedicação para atingir um nível profissional alto.”

Os primeiros contatos da área foram feitos através de fóruns na internet, no começo dos anos 2010, e assim que ele conseguiu se aproximar desses profissionais que já estavam avançados na profissão. “Hoje em dia, o Linkedin é a principal plataforma de contato e de divulgação do seu trabalho. Além disso, é essencial saber inglês para abrir caminhos para o mercado exterior”, sugere.

* Confira a programação de cinema e as sessões do filme Super Mario Bros. no site da FOLHA

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