O desânimo que atingiu grande parte da população do planeta no início da pandemia também afetou a rotina de exercícios e ensaios intensos que a londrinense Isabela Orlandeli dedica à dança. Entretanto, o medo e a falta de entusiasmo gerados pela quarentena logo cederam espaço ao rigor e à disciplina habituais na rotina da bailarina. Nem mesmo as limitações das aulas presenciais diárias que durante seis meses tiveram que ser transmitidas pelas telas do celular e do computador foram capazes de diminuir o entusiasmo da aluna da Escola Municipal de Dança de Londrina. O esforço e a determinação da artista acaba de render recompensas grandiosas.

Isabela Orlandeli, 17 anos,  participou de seletivas nacionais e internacionais: foi contemplada com bolsa de estudos na Miami Ballet School e com estágio na  Jeune Ballet de la Scéne, na Suíça
Isabela Orlandeli, 17 anos, participou de seletivas nacionais e internacionais: foi contemplada com bolsa de estudos na Miami Ballet School e com estágio na Jeune Ballet de la Scéne, na Suíça | Foto: Fábio Alcover/ Divulgação

Há duas semanas, a bailarina de 17 anos participou de duas seletivas e saiu vitoriosa de ambas. Na primeira delas, foi contemplada com uma bolsa de estudos concedida pela Miami Ballet School, uma das maiores escolas dos Estados Unidos. Isabela também conquistou a medalha de ouro no Seminário Internacional de Brasília Virtual na categoria Repertório Clássico Sênior. E no mesmo evento foi premiada com um estágio no Jeune Ballet de la Scéne, na Suíça; no Ginasiano Escola de Dança, em Portugal; ganhou inscrição e cursos para o Oklahoma International Dance Festival (EUA); além de cursos e inscrições para os festivais de Franca e Suzano, no interior de São Paulo.

Foi a primeira vez que participei de competições. Fiquei bem surpresa com o resultado, pois só tive duas semanas para ensaiar a coreografia para o seminário”, afirma Isabela ao relatar sua rotina de exercícios. “Sou bastante disciplinada e mesmo desanimada com a pandemia optei por manter os treinos pois pensava nos efeitos que eles teriam a longo prazo. Por isso, mantive a rotina de duas horas e meia de aulas virtuais de segunda a sábado, e aos domingos eu fazia exercícios adicionais por conta própria”, detalha.

Além do mérito próprio, a jovem bailarina credita parte do bom desempenho ao incentivo de seu professor, Marciano Boletti, que integra a equipe da Escola Municipal de Dança. “Nada disso seria possível sem as orientações, a insistência e a confiança que ele depositou em mim. Devo essas conquistas a ele e à qualidade técnica de todos professores da Escola Municipal de Dança com os quais estudei. Pretendo aproveitar ao máximo os cursos que ganhei no seminário e, se possível, no futuro fazer parte de alguma renomada companhia de dança da Europa”, enfatiza.

Integrante do Ballet de Londrina há 27 anos e atuando como professor da Escola Municipal de Dança desde 1997, Boletti diz que já previa um futuro promissor para a premiada jovem. “Para se destacar na dança, além de talento é necessário ter vocação. Isso inclui foco, disciplina, superação, cuidados com a alimentação e aquele sangue nos olhos que demonstra a paixão que a pessoa tem pela dança e a vontade de vencer por meio de seus esforços. E a Isabela sempre demonstrou ter essas características todas”, ressalta.

PATRIMÔNIO CULTURAL

Todos os anos, a Escola Municipal de Dança de Londrina atende uma média de 300 alunos. “Oferecemos o curso regular de balé clássico que tem duração de 8 anos e também cursos livres de dança”, informa Luciana Lupi, coordenadora da escola.

Acredito que nestes 27 anos de existência tenha cerca de 50 mil pessoas devem ter passado pela escola”, afirma Leonardo Ramos, diretor da entidade que integra a Funcart (Fundação Cultura Artística de Londrina). Ele destaca que do total de alunos matriculados, uma pequena parcela acaba se destacando e passa a integrar o elenco do Ballet de Londrina e de outras renomadas companhias nacionais e internacionais de dança.

Ana Carolina Gonçalves está fazendo carreira internacional no Staatliche Ballettschule Berlin, na Alemanha
Ana Carolina Gonçalves está fazendo carreira internacional no Staatliche Ballettschule Berlin, na Alemanha | Foto: Divulgação

É caso dos bailarinos Ana Carolina Gonçalves e Hugo Vargas, entre outros. Acostumados a dividir o palco em espetáculos de dança produzidos em Londrina, os dois jovens agora seguem carreira internacional. Ana Carolina integra desde o início deste ano o elenco da Staatliche Ballettschule Berlin, na Alemanha. “Participei de uma seletiva no Brasil e ganhei uma bolsa de estudos para um curso de três anos em Berlim. Tenho a sorte de dividir meus conhecimentos com meninas de vários lugares do mundo que também estudam aqui. Se eu não tivesse tido a base que tive na Escola Municipal de Dança de Londrina, onde estudei por oito anos, não estaria onde estou hoje. Meu sonho é futuramente ser aceita em uma grande companhia de dança europeia”, relata.

Ex-aluno da Escola Municipal de Dança de Londrina, Hugo Vargas também está vivendo uma experiência totalmente inusitada. “Eu fazia parte do elenco do Ballet de Londrina e nas férias do final do ano passado resolvi visitar meu irmão Anderson Brás, que também é bailarino formado pela Escola Municipal de Dança e que mora em Israel há 16 anos onde trabalha como bailarino da Datsheva, companhia que ele criou. Para eu não ficar totalmente parado durante os dias de folga, pedi permissão para treinar na sede do Israel Ballet, a companhia nacional daqui. Alguns dias depois de ter meu pedido aprovado e de iniciar meus treinos em Tel Aviv, uma das coordenadoras do Israel Ballet disse que gostou dos meus vídeos dançando no Ballet de Londrina e me convidou para substituir um dos bailarinos do grupo. Acabei aceitando o convite e me mudando para cá”, conta.

Hugo Vargas foi visitar o irmão em Israel e acabou sendo convidado a integrar o ballet nacional daquele país
Hugo Vargas foi visitar o irmão em Israel e acabou sendo convidado a integrar o ballet nacional daquele país | Foto: Divulgação

Tenho certeza de que essa oportunidade surgiu por tudo o que eu já tinha aprendido na Escola Municipal de Dança e no Ballet de Londrina. Agora estou podendo trocar experiências com coreógrafos famosos no mundo inteiro e estou adorando essa oportunidade”, enfatiza Vargas.

FORMANDO CIDADÂOS

Na recente seletiva realizada há 15 dias pelo Seminário Internacional de Brasília com bailarinas brasileiras, argentinas e paraguaias, além da londrinense Isabela Orlandeli a Ana Beatriz Lopes, que também é aluna da Escola Municipal de Dança, foi contemplada com inscrição gratuita e cursos para Oklahoma International Dance Festival (EUA).

O objetivo da escola não é especificamente exportar talentos. É formar cidadãos, educadores sociais e gente da melhor qualidade”, ressalta Leonardo Ramos. Ele destaca que muitos dos talentos da escola que ganharam projeção nacional e internacional foram descobertos por meio do projeto Dança Londrina. “Visitamos escolas da rede municipal e oferecemos oficinais de movimento que funcionam como caça-talentos”, revela.

Assista aqui a apresentação de Isabela Orlandeli em Diana and Acteon