Londrina se despede da chef Carol Rocha
Reconhecida nacionalmente, expert da confeitaria londrinense deixa legado pela trajetória ímpar; ela faleceu aos 39 anos
PUBLICAÇÃO
segunda-feira, 26 de agosto de 2024
Reconhecida nacionalmente, expert da confeitaria londrinense deixa legado pela trajetória ímpar; ela faleceu aos 39 anos
Walkiria Vieira
A chef de cozinha Carolina Rocha foi sepultada nesta última segunda-feira (26), aos 39 anos. Além do esposo Ivan e das filhas Valentina, 10 anos e Betina, de sete, deixa os irmãos Cirilo, Luciana, os pais e demais familiares em luto.
Diagnosticada com Covid, a especialista em confeitaria teve complicações em seu estado de saúde em decorrência de um quadro infeccioso bacteriológico - que evoluiu com gravidade e a levou a óbito.
Bastante impactados, amigos, fãs e profissionais da gastronomia e de outras áreas realizaram homenagens à altura da Chef Carol Rocha, como gostava de ser tratada - pois em seus 20 anos de atuação era vista e respeitada como uma pessoa e profissional que espalhava a doçura por onde passava.
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Batizada com o nome de um doce francês apreciado em todo o mundo, Carolina honrou a identidade. Assinava Carolina Rocha, nome que transformou também em uma marca.
Com doçura e determinação, ela inspirou principalmente mulheres que aprenderam a confiar na confeitaria como profissão, como sinônimo de autonomia e também de empreendimento.
Além de uma formação contínua, a londrinense aperfeiçoou seus conhecimentos nos últimos anos e passou a partilhá-los formando profissionais que se esmeravam no trabalho.
Em janeiro de 2023, Carol generosamente dedicou parte de seu tempo a contribuir em uma reportagem para a Folha de Londrina. O tema era o empreendedorismo na área da confeitaria e a prosperidade do negócio. Dividiram o espelho do conteúdo a Boleria Londrinense e a Confeitaria Frühling.
Carol saboreava as palavras ao falar de sua escolha pela confeitaria e do amor por compartilhar os seus conhecimentos. Sorria a cada resposta. Era a sua história. A entrevista está respeitosamente gravada e seu contato era para mim, como repórter, uma honra.
No exercício do jornalismo, existe a oportunidade de conhecer muitas pessoas inspiradoras - nas mais diferentes áreas de atuação. E a perseverança é algo que as torna referências.
Carol foi a grande vencedora do programa Que Seja Doce, do Canal GNT, temporada 2017. Isso a tornou mais notável, foi uma grande conquista, mas sua lida com a cozinha já dava o que contar.
REFERÊNCIA NACIONAL
Interessada, desde menina esperava a hora que os programas de TV mostravam receitas porque tinha vontade de aprender. Embora a mãe não gostasse de cozinhar, a necessidade a levou a cozinhar para fora. Carol cresceu nesse meio e além de observar todo o processo ajudava os pais atendendo ao telefone e embalando saladas e doces aos 10 anos de idade.
A prosperidade chegou, a família abriu um restaurante formal e Carol passou por todas etapas. Sem um curso em sua área e mesmo sem o prestígio profissional, concluiu o curso de jornalismo, mas nunca tirou os olhos, o coração e a consciência de que a cozinha, lugar em permite criar e empreender, era o seu verdadeiro lugar. "Mas na época, era um castigo para quem não deu certo na vida e só restava esquentar a barriga no fogão".
Com o apoio dos pais, Carol fez imersão no curso intensivo de chef de cozinha no ICIF- Italian Culinary Institute For Foreigners, um instituto de culinária italiana para estrangeiros localizado no Rio Grande do Sul. De volta a Londrina, passou dar aulas de Confeitaria no Senac e na Menu Escola de Gastronomia, onde muitas pessoas de Londrina e região tiveram a oportunidade de aprender com ela.
Além do apreço por uma formação técnica, Carol guarda ensinamentos de sua família. "Vai filha, faz mais do que te pagaram", é uma de suas lições para todos os dias de trabalho. "Fui atrás do meu sonho de viver da Gastronomia, pois eu sempre acreditei na importância da gastronomia para a sociedade. É uma profissão difícil, mas que abraça todo mundo, dá um leque de opções para ganhar dinheiro," disse na entrevista à FOLHA no ano passado.
Carol vivia na barra da saia da avó baiana e considerava que sua versatilidade, tanto na cozinha quente como na confeitaria, abriu muitas portas. "Eu observo que a área cresceu e hoje é valorizada, mas faltam profissionais que cozinhem com prazer, pois alguns escolhem por necessidade e não vocação. Eu penso que primeiro temos que escolher a vida que a gente quer e depois a carreira que cabe nela. A vida que eu quero é de inovação, de criar coisas todos os dias. Eu não me encaixaria dentro de um escritório fazendo sempre as mesmas coisas porque eu gosto de exercer a criatividade e na cozinha me sinto realizada", contou à época.
Consultora empresarial, professora universitária, chef de um resort, Carol amava a cozinha. "Costumo dizer, independentemente do que eu estou fazendo, o importante é eu estar na cozinha. É na cozinha que eu me reconheço como pessoa, ser humano e uma pessoa dotada de uma missão que é servir, facilitar a vida das pessoas. Eu me empolgo quando vou elaborar um cardápio, pois penso como se fosse para mim e nas sensações que o cliente final irá ter", declarou à reportagem da FOLHA.
O corpo de Carol Rocha foi sepultado nesta segunda-feira (26), no Cemitério Jardim da Saudade, em Londrina.