"O estudo é a luz da vida". Era a mensagem na capa das cartilhas de alfabetização em alguns estados do País, décadas atrás. A ilustração permitia se arriscar a compreender, ainda que o estudante estivesse aprendendo a juntar vogais e consoantes. Enxergar sem entender é menos que a espreita, é como estar vendado e sem, de fato, fazer uso do sentido.

O espetáculo “Ledores no Breu”, da Cia. do Tijolo, de São Paulo, é a atração desta sexta (13) na Divisão de Artes Cênicas da Casa de Cultura da UEL, como parte da programação do Festival de Dança de Londrina 2023.

VÍNCULOS ENTRE ARTE E EDUCAÇÃO

A montagem, baseada no texto “Confissão de Caboclo”, do poeta paraibano Zé da Luz, e no pensamento e prática do educador Paulo Freire, tem direção de Rodrigo Mercadante, também responsável pela dramaturgia, ao lado de Dinho Lima Flor, que está em cena junto da atriz Patrícia Gifford. Pela primeira vez em Londrina, a montagem do grupo paulistano coloca-se no centro da linha curatorial do Festival deste ano: os vínculos entre arte e educação.

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Como no texto de Zé da Luz, em que um “caboclo” analfabeto mata sua mulher motivado por um grande equívoco, por não ter condições de ler a carta que ela entregaria a outro homem declarando seu amor pelo marido, o espetáculo trata das relações entre as pessoas sem leitura e sem escrita com o mundo ao seu redor. Histórias entrelaçadas que acompanham analfabetos vivendo na era da informação, homens percorrendo distâncias para elucidar suas dúvidas, seus erros e seus crimes.

“Ledores no Breu”, da Cia. do Tijolo, de São Paulo
“Ledores no Breu”, da Cia. do Tijolo, de São Paulo | Foto: Alécio César/ Divulgação

LER SEM COMPREENDER

Há oito anos na estrada, "Ledores no Breu" estreou em Recife, em 2014. No ano seguinte, fez uma temporada no Sesc Ipiranga, em São Paulo, e depois somou 55 participações no Palco Giratório do Sesc - em caráter nacional. Mais recentemente, em 2022, foi a vez de mostrar aos portugueses, em um festival, o espetáculo teatral que esteve em Porto e Coimbra.

Dramaturgo, ator e responsável pelo projeto de luz do espetáculo, Dinho Lima Flor conversou com o Folha 2 antes de chegar a Londrina. De seu ponto de vista, por mais que esteja democratizado o meio digital, o analfabetismo funcional vem desse momento que a pessoa lê, mas não entende o assunto. "A era digital não nos torna mais alfabetizados, pois nos trancamos em um celular sem olhar o mundo. Ficar só em sua vidinha olhando bobagem no celular não acrescenta a alfabetização para a vida e a leitura de mundo. Nessa era digital, há mais analfabetismo: o analfabetismo social, o cultural, analfabetismo político", reflete.

Por outro lado, observa que pouca leitura não significa que a pessoa não tem sabedoria. "Os povos originários não tinham escola, mas liam a natureza, dialogavam com o sol e o vento. O mais importante é saber ler o mundo. Muita gente sabe ler, tem três faculdades, mas são sabem observar as tristezas, questões sociais e as faltas do mundo. Ter leitura é poder cavar possibilidades, ter acesso a uma ferramenta a mais e ter acesso a várias outras literaturas como a indígena. E a nossa luta é que todas as pessoas do País tenham acesso ao código da escrita numa perspectiva de ter dignidade e em escolas que promovam discussões, reflexões e afetividade", pensa.

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LUMINAÇÃO COMO PROTAGONISTA

A iluminação de "Ledores no Abreu" também é protagonista. "Ela antecipa em alguns momentos o que o ator vai dizer. Está entrelaçada com a dramaturgia, abre caminhos, em outros momentos é mais obscura, sendo uma guiadora ativa dessa peça", destaca. E faz um convite aos leitores da Folha de Londrina: "É um espetáculo que dialoga com o Brasil e com um dos dos maiores pensadores e práticos desse País, Paulo Freire. Dialoga também com o público, embora não interativo. Atual, de beleza plástica, promove a reflexão e traz um dos sambas mais importantes e tocados nos últimos três anos no Brasil, "Samba da Utopia". Composto por Jonathan Silva e na voz de Ceumar".

O GRUPO

Criada em 2008, a Cia. do Tijolo foi formada pelo encontro de artistas de dois tradicionais grupos de teatro de São Paulo: o Teatro Ventoforte e a Cia. São Jorge de Variedades. O grupo trabalha tradicionalmente com a poesia como forma de discurso teatral. Ao longo de sua trajetória, ocuparam-se da vida e obra de personalidades que transformaram suas vivências cotidianas em experiências humanas universais, buscando uma profunda relação com seu tempo e sua terra – a exemplo de Patativa do Assaré, Federico Garcia Lorca, Dom Helder Câmara e, agora, Paulo Freire.

O Festival de Dança de Londrina 2023 é uma realização da APD (Associação dos Profissionais de Dança de Londrina e Região Norte do Paraná) e tem patrocínio da Prefeitura Municipal de Londrina / Secretaria Municipal de Cultura, por meio do PROMIC (Programa Municipal de Incentivo à Cultura), com apoio institucional da Casa de Cultura da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Conta ainda com o apoio cultural da Rádio UEL FM.

Serviço

“Ledores no Breu” - Cia. do Tijolo (São Paulo - SP)

Dia: 13 de outubro (sexta-feira)

Horário: 20 horas

Local: Divisão de Artes Cênicas - Casa de Cultura da UEL (Av. Celso Garcia Cid, 205)

Classificação indicativa: Livre

Ingressos para espetáculos:

R$20 e R$10 (meia-entrada)

Vendas Online: sympla.com.br/festivaldedancadelondrina

Vendas presenciais: Teatro Ouro Verde (Rua Maranhão, 85)

Horário de funcionamento: das 16 horas até o início do espetáculo

https://www.youtube.com/watch?v=MI62f4RmXKM