O imponente Cine-Teatro Ouro Verde também poderia ser incluído na lista do Iphan, segundo o presidente do  Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Paraná
O imponente Cine-Teatro Ouro Verde também poderia ser incluído na lista do Iphan, segundo o presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Paraná | Foto: Isaac Fontana/Frame Photo/Folhapress

Na contramão de Curitiba, capital marcada por obras arquitetônicas coloniais herdadas do século XXI, Londrina se tornou o maior expoente da vanguarda da arquitetura moderna criada no Paraná entre anos 1940 e 1950.

O tombamento do prédio da antiga rodoviária, que na semana passada foi reconhecido pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) como um Patrimônio Cultural do Brasil, elevou a cidade a outro patamar no cenário nacional. Além da construção assinada pelos arquitetos João Batista Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi e inaugurada em 1948, outras importantes obras londrinenses já tombadas em nível municipal e estadual também merecem a atenção do público.

“A cidade de Londrina começou moderna. Ela representava uma terra virgem, que devia ser construída a partir do zero. O Norte Novo do Paraná era uma área de expansão da economia brasileira, a região a ser desbravada para o cultivo do café. Na mesma época, a arquitetura moderna do Brasil obtinha resultados significativos, tornando-se a vanguarda da arquitetura mundial”, contextualiza o arquiteto e urbanista Milton Zanelatto Gonçalves, atual presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Paraná (CAU/PR).

Concebido para abrigar a Casa da Criança, o prédio que abriga hoje a Secretaria Municipal de Cultura é outro marco importante da arquitetura moderna
Concebido para abrigar a Casa da Criança, o prédio que abriga hoje a Secretaria Municipal de Cultura é outro marco importante da arquitetura moderna | Foto: Isaac Fontana/Frame Photo/Folhapress
Concebido para abrigar a Casa da Criança, o prédio que abriga hoje a Secretaria Municipal de Cultura é outro marco importante da arquitetura moderna
Concebido para abrigar a Casa da Criança, o prédio que abriga hoje a Secretaria Municipal de Cultura é outro marco importante da arquitetura moderna | Foto: Isaac Fontana/Frame Photo/Folhapress

Ele credita o perfil modernista da arquitetura de Londrina à forte influência dos projetos executados pelo arquiteto Vila Nova Artigas na cidade. “Tratava-se de um arquiteto vanguardista, criando uma obra de vanguarda na região que representava a vanguarda econômica do Paraná e do Brasil. Posteriormente, com a criação dos cursos de Arquitetura e Urbanismo na cidade, a partir da década 80, Londrina pôde formar os profissionais que passaram a projetar a partir daí. Esses arquitetos, em parte, seguiram a tradição moderna”, aponta.

Segundo o presidente do CAU/PR, o prédio londrinense recém-tombado pelo Iphan reúne inúmeros elementos do modernismo arquitetônico citado por ele. “Na antiga rodoviária de Londrina é possível perceber que Vilanova Artigas se aproveitou de várias experiências realizadas pela arquitetura moderna. Há uma clara influência de Le Corbusier no caso da cobertura invertida (em “asa de borboleta”), herdada da Casa Errazuriz. Também é fácil encontrar a influência de Niemeyer nas cascas ondulantes. Vale ressaltar, ainda, a resolução primorosa do interior do espaço, com a separação em níveis da espera e da chegada, possibilitando uma visibilidade muito grande para quem estava no interior, de acompanhar toda a movimentação local”, detalha.

Na avaliação de Gonçalves, outras construções londrinenses também poderiam fazer parte da lista de bens tombados pelo Iphan. “Acredito que outras obras de Vilanova Artigas em Londrina possam vir a integrar essa lista. São os casos da Casa da Criança (hoje Secretaria Municipal de Cultura) e o Cine-Teatro Ouro Verde. Essas duas obras, junto com o edifício Autolon, formam um conjunto arquitetônico bastante significativo”, conclui.

Imagem ilustrativa da imagem Londrina na vanguarda da arquitetura moderna
| Foto: Divulgação

Arquitetura com relevância nacional

Presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Paraná (CAU/PR), o arquiteto e urbanista Milton Zanelatto Gonçalves salienta a importância que o tombamento do prédio da antiga rodoviária tem para Londrina e para o país. “Em primeiro lugar, o tombamento representa o reconhecimento ao trabalho inovador de Vilanova Artigas, um dos maiores nomes da arquitetura brasileira, e que no caso da antiga rodoviária dividiu o projeto com o arquiteto Carlos Cascaldi. Londrina entra no rol das poucas cidades brasileiras que contam com bens tombados nacionais. Nesse sentido é importante frisar que o Iphan é extremamente rigoroso para conceder tombamentos. Curitiba, por exemplo, conta com apenas dois imóveis tombados pelo Instituto”, enfatiza.

“O tombamento é um acontecimento para a história do patrimônio brasileiro. Agora, o prédio da antiga rodoviária de Londrina faz parte da mesma lista de outros monumentos arquitetônicos do Brasil que já foram tombados pelo Iphan por seus aspectos modernistas. É o caso da Igrejinha da Pampulha, projetada em Belo Horizonte pelo Oscar Niemeyer, e do prédio onde funcionava o Ministério da Educação, no Rio de Janeiro”, destaca o secretário municipal de Cultura, Bernardo Pellegrini, ao ressaltar outras importantes obras executadas por Vilanova Artigas.

“O Vilanova Artigas era arrojado e inovador. Além do prédio da antiga rodoviária, ele criou cerca de 40 projetos em Londrina. Pouca gente sabe, mas o Estádio Vitorino Gonçalves Dias foi projetado por ele, que logo no futuro também faria o Estádio do Morumbi, em São Paulo”, destaca Pellegrini.

O prédio do antigo Fórum, onde está instalada a Biblioteca Pública,  é um bem tombado pelo município de Londrina
O prédio do antigo Fórum, onde está instalada a Biblioteca Pública, é um bem tombado pelo município de Londrina | Foto: Isaac Fontana/Frame Photo/Folhapress

Outros bens tombados

Além do prédio da antiga rodoviária, Londrina possui outros bens tombados em nível estadual e municipal. “Em nível estadual, temos o Teatro Ouro Verde, que também estava em processo de tombamento nacional antes do incêndio. E também o Palacete dos Garcia, que fica na avenida Higienópolis, e o conjunto formado pela Praça Rocha Pombo e pela antiga rodoviária. Já em nível municipal temos a sede da antiga Casa de Cultura, onde hoje funciona a Secretaria de Cultura, e o prédio do antigo Fórum, onde está instalada a Biblioteca Pública”, esclarece Solange Batigliana, diretora de Patrimônio Artístico e Histórico Cultural da Secretaria Municipal de Cultura.

Ela explica que o tombamento garante que os prédios tenham suas concepções arquitetônicas preservadas. “Esse trabalho é feito por comissões formadas na instância na qual o bem está tombado”, explica ao informar que qualquer pessoa pode solicitar o tombamento de um bem material ou imaterial. “Em Londrina, os tombamentos seguem o que está disposto na Lei Municipal 11.188, de 2011. Essa legislação determina dez critérios para que os bens materiais sejam tombados. Entre eles estão o pioneirismo, o uso de materiais e técnicas diferenciadas na construção e o acontecimento de fatos históricos naquele local. Os requerimentos de tombamento de bens materiais e imateriais podem ser feitos pelo e-mail [email protected]”, orienta.

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