Há 100 anos, entre os dias de 13 e 17 de fevereiro de 1922, acontecia na cidade de São Paulo a Semana de Arte Moderna, evento que deixou profundas marcas nas artes brasileiras. Marcas que repercutem até os dias atuais.

A Semana de 22, como ficou conhecida, se revelou ao longo do tempo como um assunto inesgotável. Um tema que sempre recebe documentos esquecidos, novas interpretações, novos questionamentos, leituras inovadoras, teses contemporâneas, discussões abrangentes, abordagens renovadoras e muito mais.

Em comemoração ao centenário da Semana de Arte Moderna dezenas de livros estão previstos para serem lançados ao longo de 2022. Obras que revelam os caminhos do modernismo brasileiro e seus artistas. Os primeiros títulos, lançados esta semana pela editora Companhia das Letras, envolvem “Diário Confessional” de Oswald de Andrade, “O Guarda-Roupa Modernista” de Carolina Casarin, “Modernismos 1922-2022” organizado por Gênese Andrade, “Parque Industrial” de Pagu e “Serafim Ponte Grande” de Oswald de Andrade.

Lançamento totalmente inédito, “Diário Confessional” traz, pela primeira vez, a transcrição dos 16 cadernos de anotações escritos por Oswald de Andrade entre 1948 e 1954. Os cadernos manuscritos tinham como objetivo dar origem ao livro de memórias que Oswald pretendia escrever, projeto que foi interrompido com sua morte em 1954.

Um dos elementos constante nas anotações pode ser descrito como as inúmeras tentativas do escritor em sair do inferno financeiro em que se viu imerso em seus últimos anos de vida. Manuel da Costa Pinto, organizador do livro, descreve a situação com as seguintes palavras: “Se há uma tônica dominante no “Diário Confessional”, é exatamente esta: a insegurança econômica que pouco a pouco vai ocupando espaço cada vez maior no registro de um cotidiano atormentado por credores e por infrutíferas iniciativas de vender bens, conseguir empréstimos, negociar hipotecas”.

“O Guarda-Roupa Modernista”, fruto de tese de doutorado de Carolina Casarin, investiga a relação do casal Tarsila do Amaral (1886 – 1973) e Oswald de Andrade (1890 – 1954) com a moda francesa. E como a autorrepresentação de ambos, através das roupas escolhidas, ajudou a definir a estética do modernismo.

Nas palavras de Carolina Casarin, “as roupas contribuíram para o projeto artístico de elaboração de uma estética moderna e nacional, a ideia de brasilidade modernista se inscreveu na aparência e nos trajes do casal”. A autora também identifica que Tarsila e Oswald estabeleceram uma íntima relação com a alta-costura francesa, especialmente na figura do estilista Paul Poiret (1879 – 1944).

“Modernismos 1922-2022”, organizado pela professora Gênese Andrade com consultoria de Jorge Schwartz, reúne 30 ensaios de professores e pesquisadores do modernismo brasileiro. Cada um dos ensaios aborda elementos e trajetórias do modernismo brasileiro em análises que abarcam várias áreas e diferentes abordagens.

Na definição da organizadora, o objetivo dos ensaios reunidos no livro é “festejar sem deixar de questionar, preencher lacunas, provocar novas reflexões, ser um elo entre a Semana de 22 e seus desdobramentos, revisitar suas memórias e fortuna crítica, provocar revisões e fazer valer o sentido dos manifestos: tornar públicas e trazer para o debate as manifestações e as obras artísticas modernistas, reconhecendo suas virtudes e controvérsias, seu caráter agregador e polêmico, as relações com seu contexto político, social e cultural de produção e recepção, ao longo desses 100 anos, com o mesmo vigor que moveu seus protagonistas”.

Pagu (Patrícia Galvão) publicou “Parque Industrial” em 1933, com 21 anos de idade. Em sua própria definição, trava-se de um “romance panfletário” que tinha como objetivo denunciar a vida humilhante dos operários e mostrar a desigualdade promovida pelo sistema capitalista.

De caráter panfletário, o romance traz o retrato da vida proletária em uma grande cidade a partir da perspectiva marxista. Na época, a própria militância comunista considerava Pagu (1910 – 1962) uma “agitadora individual, sensacionalista e inexperiente”, o que a obrigou publicar o livro com pseudônimo.

Considerada a obra mais rebelde e radical de Oswald de Andrade, “Serafim Ponte Grande” foi publicado originalmente em 1933. Com estrutura fragmentada, o romance é formado por colagens que misturam ficção, memórias, sátira, anotações, diálogos e muito mais. Haroldo de Campos chamou-o de “romance-invenção”.

Narra as desventuras de Serafim, um funcionário público piadista pouco exemplar que possui no quintal de sua casa o único canhão da cidade. Passando por todo tipo de aspirações burguesas em meio às transformações industriais de São Paulo, o personagem trafega entre os papéis de herói e bandido. Como fortuna crítica o volume traz textos de Paulo Roberto Pires, Haroldo de Campos, Borges Carneiro e Múcio Leão.

Serviço:

“Diário Confessional”

Autor – Oswald de Andrade

Organização – Manuel da Costa Pinto

Editora – Companhia das Letras

Paginas – 560

Quanto – R$ 99,90 (papel) e R$ 39,90 (e-book)

“O Guarda-Roupa Modernista – O Casal Tarsila e Oswald e a Moda”

Autor – Carolina Casarin

Editora – Companhia das Letras

Paginas – 288

Quanto – R$ 109,90 (papel) e R$ 44,90 (e-book)

“Modernismos 1922-2022”

Organização – Gênese Andrade

Editora – Companhia das Letras

Páginas – 869

Quanto – R$ 159,90 (papel) e R$ 49,90 (e-book)

“Parque Industrial”

Autor – Pagu

Editora – Companhia das Letras

Páginas – 112

Quanto – R$ 49,90 (papel) e R$ 29,90 (e-book)

“Serafim Ponte Grande”

Autor – Oswald de Andrade

Editora – Companhia das Letras

Paginas – 216

Quanto – R$ 74,90 (papel) e R$ 39,90 (e-book)