O amor possui formas, tipos, meios e maneiras diversas. Mas uma delas acalenta o imaginário dos amantes ao longo de séculos e séculos: um amor capaz de transcender a realidade dos corpos para se ocupar da alma.

É sobre a subjetividade desta forma de amor que o escritor Zeca Corrêa Leite se debruça em seu novo livro, “Perfume de Alfazema e Algumas Confissões Perdidas”.

Escrito em forma de cartas, o romance traz a correspondência entre as personagens Júlia e Frederico. Cartas que revelam a intimidade sentimental de uma relação amorosa à distância. Uma relação que enfrenta todo tipo de tempestade emocional para conquistar, ao longo dos anos, a tranquilidade da transcendência.

Ambientado em algum tempo impreciso da primeira metade do século 20, o romance epistolar narra a história de amor entre dois jovens descobrindo as forças de uma amizade que se transforma em paixão. De uma paixão de se transforma em conflito. E de um conflito que se converte em resgate do amor primordial.

Com um projeto gráfico diferenciado, “Perfume de Alfazema e Algumas Confissões Perdidas” vem acondicionado em uma caixa que remete ao lugar onde a personagem Júlia guarda as cartas que recebe de Frederico. Também há um cuidadoso ramo natural de alfazema que aromatiza o livro.

Escritor e dramaturgo paranaense radicado em Curitiba, Zeca Corrêa Leite é autor de “Domingo José Vai a Festa” (1981), “Quinhentas Vozes” (2001), “Lendas das Águas” (2006), “O Velho e Alguns Escritos” (2017), “Pequenos Poemas Traquinas” (2018) e “Caminhos dos Campos de Curitiba aos Campos Gerais (2018), entre outros. Como jornalista foi correspondente da Folha de Londrina em Curitiba ao longo de décadas.

A seguir Zeca Corrêa Leite fala sobre seu novo livro.

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. | Foto: César Pilatti/ Divulgação

O livro possui a forma de romance epistolar, uma estrutura muito utilizada na literatura de séculos passados. O que levou você a criar o romance em formato de cartas?

“Perfume de Alfazema e Algumas Confissões Perdidas” tem uma peculiaridade, ou então, uma justificativa sobre seu surgimento. Ele nasceu de uma conversa com a produtora cultural Monica Drummond e Rosemeire Odahara, professora de arte, que planejavam editar um livro que contivesse cartas em seu interior. Ficaria sob minha responsabilidade criar alguma coisa nesse sentido, mas passei ao largo da pretensão inicial talvez por engano da minha parte. Deveria criar algo mais leve, breve, como um divertimento, digamos, sem se aprofundar em nada. E o que fiz foi dar vazão aos sentimentos das personagens. Confesso: apaixonei-me por Júlia e Frederico assim que comecei a escrever.

Em “Perfume de Alfazema” a narrativa está quase toda concentrada na vida interior das personagens. Por quê?

Interessante esse pormenor, nunca tinha pensado nisso, de que minha narrativa focasse a vida interior das personagens. Você tem razão: concentrei-me nos sentimentos, nas emoções, nos anseios dos dois jovens. Por que isso acontece? Acho que é devido à característica de trazer para mim aquilo que o outro está sentindo. Veja bem: “o outro”, nesse caso, é a minha própria criação. Então, assumo a “persona” de cada personagem no momento em que escrevo. Durante meses fui a Júlia e o Frederico, o que é normal. Não consigo ser indiferente, nem me distanciar das minhas criações.

Não existe data nas cartas que formam o livro, mas é possível identificar sutis elementos de época. Por que você optou em não datar explicitamente o tempo em que acontece a história de amor entre Júlia e Frederico?

Foi puro capricho meu não datar as cartas, evitar os cabeçalhos. Deu na telha o uso de frases soltas onde deveriam constar dia, mês e ano. Não houve outra intenção a não ser criar uma imagem breve sem necessidade de estar ligada a cada carta.

Ao mesmo tempo em que “Perfume de Alfazema” é a história de um amor eterno, também é a história de um amor que não se realiza. Que amor é esse que existe entre as personagens Júlia e Frederico?

O amor que une os jovens do “Perfume de Alfazema” é um sentimento que transcende. Tenho comigo que eles vivem o amor real, genuíno. Mesmo com todos os contratempos há uma profunda e verdadeira entrega que caminha como um rio nos subterrâneos de suas almas. Creio que as intempéries da vida, as contradições, julgamentos, condenações – presentes nas páginas do livro – são resultado de cegas paixões. Nada disso, porém, atinge o profundo silêncio que atravessa a alma dos que se amam verdadeiramente. A meu ver as personagens do livro perdoam e se perdoam mutuamente, e vivenciam esse amor inebriante muito além do que podemos imaginar.

“Perfume de Alfazema” traz uma história de amor que não se realiza no mundo físico, mas se realiza plenamente no campo da subjetividade. Pode-se afirmar que este é o universo em que sua literatura está fundamentada? Existe uma razão para isso?

Em “Perfume de Alfazema” esse é o universo em que minha literatura se fundamenta. Se futuramente escreverei de modo diverso, não sei, então pelo menos temporariamente meu universo é esse, o da subjetividade. A razão para isso? Bem, são tantas as razões que entremeiam os sonhos, as aspirações, os suspiros, os olhares voltados ao amanhã, ao passado, ao presente, que não dá para clarear com exatidão por onde o coração da gente anda, que paisagens são essas de alegrias e tristezas que o rodeiam e nos levam a escrever o que acabamos escrevendo.

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. | Foto: Divulgação

Serviço:

“Perfume de Alfazema e Algumas Confissões Perdidas”

Autor – Zeca Corrêa Leite

Editora – Edição do autor

Páginas – 126

Quanto – R$ 40,00

Onde encontrar – Com o autor através do whattsapp (41) 99243-9264. Valor de R$ 40,00 + R$ 11,00 de taxa de correio com pagamento efetuado em conta bancária.