Narrar velhas histórias de um novo lugar. Revelar diferentes ângulos sobre uma mesma situação. Enxergar novas perspectivas para questões recorrentes. Este é o caminho literário do jornalista e escritor londrinense Danilo Brandão em seu livro “Tempos Ainda Sem Nome”.

Publicado pela editora Urutau, o volume que reúne 20 contos será lançado na sexta-feira (dia 16), das 17h às 19h, no Sesc Londrina Cadeião dentro da programação da programação da 41º Semana Literária Sesc Paraná.

Em histórias narradas em frases curtas e descrições sucintas, os contos abordam as relações humanas e a insatisfação diante da existência. Em seus contos, Brandão diz que seu interesse literário está em abordar “o desajuste com o qual somos obrigados a lidar todos os dias”.

Radicado em Londrina há mais de uma década, Brandão teve seus contos publicados em diversas revistas literárias brasileiras. Também participou das antologias “Rindo de Nervoso: No Brasil da Barbárie” (2020) e “Marco Zero: Prosa e Poesia Londrinense” (2021).

A seguir, Danilo Brandão fala sobre “Tempos Ainda Sem Nome”, seu livro de estréia.

Você já declarou que quando senta para escrever, a única coisa que pensa é tentar uma nova forma de contar uma velha história. Como é isso?

Acho que é um pouco como Pierre Menard, personagem de Jorge Luis Borges. Às vezes releio alguns contos que escrevi e consigo enxergar as mesmas questões a partir de novas perspectivas. Um eco sem fim dos mesmos assuntos. A gente está sempre tentando recriar. Contar as velhas histórias de um novo lugar. Pode ser uma fala, uma cena da infância ou algo que está escondido no inconsciente. E encontrar esses novos ângulos é a melhor parte de escrever pra mim.

As personagens dos contos de “Tempos Ainda Sem Nome” possuem uma constante insatisfação diante da existência. Qual sua intenção em abordar essa insatisfação contemporânea?

Não acho que seja exatamente uma insatisfação contemporânea. Eu acredito que somos insatisfeitos desde sempre. Ou, ao menos, desde que decidimos que alguns conceitos iriam pairar sobre nossas cabeças durante toda a vida. E isso, aliado com

estímulos da publicidade, utopias econômicas, imagens distorcidas das mídias e muitos outros fatores têm um grande efeito em nós. Esse estado de perene insatisfação sempre me intrigou muito. E acho que acabo refletindo isso em meus personagens.

Danilo Brandão: "O que mais me interessa é esse desajuste com o qual somos obrigados a lidar todos os dias; é um pouco como se fossemos peças de quebra-cabeças diferentes"
Danilo Brandão: "O que mais me interessa é esse desajuste com o qual somos obrigados a lidar todos os dias; é um pouco como se fossemos peças de quebra-cabeças diferentes" | Foto: Divulgação

Sua escrita é caracterizada por fases curtas e descrições telegráficas. Por que a opção por essa linguagem?

Tem alguns fatores que me influenciaram nessa escolha. Em alguns contos, uma tentativa de emular uma linguagem mais próxima da oral, como uma lamentação sem fim dos personagens. Em outros, é para aproximar a linguagem do cinema, da

publicidade, das redes sociais, de todos esses ruídos que permeiam os nossos dias na cidade. Mas, em todas elas, tem a influência de leituras que eu estava fazendo na época que escrevi os contos.

As relações humanas aparecem como temática em grande parte dos contos de “Tempos Ainda Sem Nome”. Para você, o que mais interessa nas relações humanas?

O que mais me interessa é esse desajuste com o qual somos obrigados a lidar todos os dias. É um pouco como se fossemos peças de quebra-cabeças diferentes. Pode até ter encaixe de vez em quando, mas nunca vamos formar uma imagem uniforme. Do jeito

que imaginamos. Isso se reflete em conflitos na família, nas relações afetivas e demais ambientes de convivência. Acho que essa ideia de desajuste infinito é sempre um mote para os meus contos. As pessoas tentando viver no meio de tudo isso.

Os contos “Fique em Casa” e “Querida Amiga” retratam, de forma diferenciada, as agruras da pandemia de covid-19. A pandemia influenciou seus escritos?

Acho que a pandemia influenciou em tudo. A forma de ver o mundo, a escrita, as relações, as nossas ações. Assim como outros grandes eventos históricos também influenciaram. Mas, não consigo pensar em meus textos como pertencentes a uma determinada época ou um retrato de um tempo. Ao menos não enquanto os escrevo. Lembro de uma entrevista que li do escritor Joca Reiners Terron que ele diz que escrever ficção é como dirigir um carro desgovernado, qualquer tentativa de pisar

no freio – por exemplo, determinar que “ah! vai retratar esses tempos de pandemia” – colocaria toda a ideia a perder. E acho essa definição perfeita.

E como é publicar o primeiro livro?

É como vencer o primeiro obstáculo de uma corrida com barreiras. Tem muito desafio pra superar ainda. Como ser lido, por exemplo. Mas, tirando essa parte mais mercadológica, é fechar uma fase e iniciar outra. Agora eu me livrei dessas

histórias e posso começar outros caminhos de criação. E essa é a parte mais legal de todo o processo.

Serviço:

“Tempos Ainda Sem Nome”

Autor – Danilo Brandão

Editora – Urutau

Páginas – 156

Quanto – R$ 52

Onde Encontrar – Pelo site Editora Urutau

Lançamento – Dia 16 de setembro (sexta-feira), das 17h às 19h, dentro da programação

da 41º Semana Literária Sesc (Sesc Londrina Cadeião, Rua Sergipe, 52)

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