Conhecido por suas “pinturas físicas”, o pintor londrinense Claudio da Costa converte a psicanálise em instrumento literário em seu novo livro, “Conatus Soturno”.

A obra é formada por três contos. Em “Conatus Soturno”, conto que dá título ao livro, o leitor acompanha as conversas íntimas entre uma pintora e seu psicanalista. “Viagem à Minha Terra” narra o retorno de um homem ao seu passado esquecido. “Edoneu de Kefalonia” narra um mundo imaginário onde o protagonista encara o mundo através de um voyeurismo cínico.

Nascido em São Paulo em 1957, Claudio da Costa reside em Londrina desde 1988. Após uma carreira de publicitário, desde 2011 tem se dedicado exclusivamente a pintar e escrever. Publicou seu primeiro livro, “Ulisses Ensimesmado”, em 1999. Depois vieram “Uma Montanha no Quintal” (2001), “Deus Está Caindo Fora” (2007) e “Claudio da Costa – Pinturas” (2018), livro comemorativo de seus 30 anos de pintura.

“Conatus Soturno” está sendo lançado em formato e-book kindle. A edição em papel deve chegar às livrarias apenas no segundo semestre de 2021. A seguir Claudio da Costa fala sobre sua nova obra.

O título do livro remete a um conceito filosófico. O que o termo significa no contexto do livro?

“Conatus” é um termo usado em filosofia para se referir a uma inclinação inata de uma coisa para continuar a existir e se aprimorar. Um esforço, um impulso, um desejo instintivo de viver. Essa coisa é o universo mental de Pedrina, personagem do conto que dá título ao livro.

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. | Foto: Divulgação

Você tem uma longa trajetória como pintor e também produz literatura. Qual seu interesse na literatura?

Eu tenho uma pulsão que durante muito tempo foi incontrolável. A literatura me faz caminhar mais longamente no “não tempo”, diferentemente da pintura que explode, a literatura caminha comigo, me faz refletir sobre meus julgamentos, sobre meu próprio processo de vida.

E que diferença você estabelece entre pintar e escrever?

A pintura é física, no meu caso. A escrita é mental. Ambos me exigem pesquisar, vagar, mas só a escrita me permite voltar e modificar a obra.

E que relação existe entre sua pintura e sua literatura?

Creio que são um pouco expressionistas as duas. Talvez por ser excessivamente um ser da expressão e do afeto. A pintura eu sei o efeito que causa nas pessoas. Meus escritos, já não sei.

Por que não?

Bem, meus poucos escritos tiveram raros feedbacks. Com as pinturas o efeito é imediato.

Você considera que os contos mais longos de “Conatus Soturno” podem ser considerados autoficção?

Claro que são experiências muito subjetivas que encontrei nestes últimos dois anos. É inegável meu tratamento psicanalítico aparecer, pois são questões de humanidade, não se restringem a um sofrimento singular. Creio, muita gente pode encontrar questões comuns. O sofrimento é universal e maior que a alegria, por durar mais.

A psicanálise faz parte de sua escrita?

Sim, um grande sim! Fui salvo por ela. A psicanálise é a responsável por eu começar a escrever, a colocar para fora minhas angústias em seu início. Eu já pintava, mas aprendi a pintar sem correr risco de vida também. Enfim, me organizou, organizou minha vida.

Sua literatura é povoada de personagens ensimesmados. Por quê?

Acho que o recolhimento em si é muito comum à grande maioria das pessoas. Não se percebe, talvez, a extensão e utilidade disso no dia a dia. O recolhimento é um presente que deveríamos prestar mais atenção, um presente para nos encontrar com nossa verdadeira intimidade.

Então você acha que a literatura pode ser um território propício ao ensimesmamento?

Claro. A literatura possibilita o mergulho que nos torna inconscientes ao mundo exterior. O cinema também. São as duas câmaras do tempo onde nos é possibilitado o recolhimento. Talvez cozinhar também nos possibilite isso.

A protagonista do conto que dá título ao livro é uma artista que destrói sua obra com objetivo de fomentar o desapego. Como esse processo de destruição se relaciona com a arte?

Todo artista, em algum momento, se vê enfrentando a própria linguagem. Muitas vezes nos sentimos falhando, repetindo temas, composições, ao ponto de uma insatisfação monumental nos assolar. É verdade o que digo. Limpamos o passado destruindo obras infelizes, eliminando o que num futuro qualquer possa indicar como sendo o caminho de vias duvidosas aquele que tomamos. É uma questão tanto de higiene mental quanto de preservação de imagem, um trajeto artístico que se queira mostrar controladamente ao público.

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Serviço:

“Conatus Soturno”

Autor – Claudio da Costa

Editora – Kan

Páginas – 73

Quanto – R$ 2,90 (e-book)

Plataforma – Kindle (Amazon)