Imagem ilustrativa da imagem Literatura empoderada
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Em abril, três datas importantes comemoram o livro e, consequentemente, divulgam a importância da literatura. Dia 2 de abril foi instituído o Dia Internacional do Livro Infantil, cuja data foi escolhida por ser o aniversário de nascimento de um dos mais importantes nomes da literatura infantil, o escritor dinamarquês Hans Christian Andersen, autor dos contos infantis como "Soldadinho de Chumbo", "Patinho Feio" e "A Pequena Sereia". Já no dia 18 de abril é comemorado o Dia Nacional do Livro Infantil, dia que marca o aniversário de nascimento do precursor do gênero no país, o escritor Monteiro Lobato, constituindo metade da sua produção literária. No dia 23 de abril é a vez do Dia Mundial do Livro, data homenageia várias obras literárias e seus autores conscientizando sobre os prazeres da leitura.

Além das datas, existem outras inúmeras iniciativas – privadas e políticas públicas – com o objetivo de estimular o incentivo à leitura desde a infância, principalmente porque o número de leitores no Brasil ainda é muito pequeno quando comparado a outros países. O índice de leitura no país indica que o brasileiro lê apenas 4,96 livros por ano – desses, 0,94 são indicados pela escola e 2,88 lidos por vontade própria. Esses dados foram divulgados em 2016 - último levantamento existente - e compuseram a quarta edição da Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada pelo Ibope por encomenda do Instituto Pró-Livro. Os resultados também reforçam a análise de que o hábito de leitura é uma construção que vem da infância, influenciada por terceiros, especialmente por pais e professores.

Obrigatoriedade no currículo
Apesar de várias críticas que recebeu ao longo de sua elaboração, em dezembro de 2018, foi aprovada a BNCC (Base Nacional Comum Curricular), documento que guiará os currículos de todas as escolas públicas e privadas no Brasil. O texto, referente às etapas da Educação Infantil e Ensino Fundamental, já foi homologado e passa a servir de referência obrigatória para a construção dos currículos de estados, municípios e escolas. Uma dessas mudanças no currículo é na Língua Portuguesa que, agora, se divide em eixos organizadores tais como: Oralidade, Leitura, Escrita, Conhecimentos Linguísticos e Gramaticais e Educação Literária. Este último, por sua vez, deverá contemplar categorias do discurso literário, reconstrução do sentido do texto literário, experiências estéticas, o texto literário no contexto, sociocultural e interesse pela leitura literária.

Para Olivia Coelho, Mestre em Educação, pesquisadora do Clique (Grupo de Pesquisa em Currículo, Linguagens e Cotidiano de crianças pequenas e bebês) da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), a literatura infantil permite traduzir a sociedade para as crianças. "Não é um tipo "menor" ou "menos importante" de literatura; é parte do esforço de integrar as crianças ao meio em que vivem, para que entendam a ética que permeia a sociedade, assim como o passado e o presente", comenta. Nesse sentido, ela sugere que haja empoderamento infantil por meio da literatura. "É preciso que se tenha o amplo entendimento de que o empoderamento não se trata de "dar poder", ainda que seja o significado literal. Empoderamento é o instrumento para autonomia, é o reconhecimento de si enquanto um sujeito de direitos (civis, sociais, políticos), um sujeito que tem voz e vez na sociedade e, mais que isso, é reconhecer o outro enquanto um sujeito de direitos também. Logo, aprender que o respeito deve permear essas relações".

Segundo ela, a literatura se apresenta, portanto, como um instrumento potente para abordar vários assuntos. "É por meio da literatura que podemos nos juntar com as crianças e contar a história de uma princesa que é forte e independente, em vez de reforçar apenas a ideia de casamento e vida doméstica. A contação de histórias é o momento de ampliar o repertório das crianças para além do que elas conhecem. Se as meninas acreditam que não possam ser cientistas, é contando uma história de uma mulher cientista que despertaremos nela a possibilidade. Por meio da qualificação e do aumento de repertório criamos possibilidades de mundos". E se determinados temas causam receio em pais e equipe pedagógica, ela ressalta dizendo que as próprias crianças é que apresentam muitas indagações. "A escrita de livros infantis que abordam a morte partiu da curiosidade e da percepção das crianças. As crianças percebem que os adultos falam sobre assuntos como as organizações familiares, a desigualdade social, o meio ambiente, e, diante disso, discutem, procuram soluções, brigam. Os temas dos livros infantis são sempre as perguntas das crianças".

Hora do Conto
Antes mesmo da obrigatoriedade prevista na BNCC, há 15 anos, a Secretaria Municipal de Educação de Londrina iniciou o projeto "Palavras Andantes" que, dentre as várias ações contempla a "Hora do Conto", atividade que leva o aluno à biblioteca para contação de histórias semanalmente. No total, são 150 professores contadores de histórias fazem a mediação e incentivo à leitura. Segundo Marcia Batista, coordenadora do projeto, integrante da equipe pedagógica da secretaria, o projeto está presente em 100% das escolas. "Os professores participam de formação continuada que acontece uma vez por mês. Nestes encontros, abordamos a temática de títulos – que vão dos clássicos aos autores contemporâneos – para tratar de assuntos relacionados, principalmente, à cidadania. Existe ainda uma equipe específica para a escolha de materiais ligados à diversidade e questões culturais."