Curitiba História, arte e cultura nem sempre são proporcionadas apenas em visitas a museus ou áreas de patrimônio da humanidade. Os cemitérios guardam verdadeiras relíquias de vários perídos históricos e podem ser opções de passeio interessantes. O brasileiro (superticioso!) encara com certa rejeição a possibilidade de necropóles servirem como atrativos turísticos. No País, esses lugares remetem basicamente ao sentimento de tristeza e perda causado pela morte de entes queridos. Apesar disso, vale o esforço de encarar essas verdadeiras ''cidades dos mortos'' com bons olhos. Elas reúnem acervo histórico e artístico que não podem ser desprezados, mas sim valorizados pela população, como vêm sendo praticado em diversos países europeus e até da América Latina.
Atenta a esse filão pouco explorado, a Prefeitura de Ponta Grossa trabalha para colocar em prática um roteiro cemiterial que incremente o turismo da cidade. O destino é o Cemitério Municipal São José, inaugurado em 1881, reduto da história sócio-política-cultural e religiosa do município, que possui túmulos de grandeza arquitetônica, como os de imigrantes com lápides escritas até em indioma árabe, hebraico, polonês e alemão , o jazigo de Corina Portugal, o mais visitado e considerado milagroso por muitos, e o maior mausoléu da necrópole que é a capela do Barão de Guaraúna.
''Nosso cemitério é lindo de morrer'', brinca a diretora do Departamento de Turismo de Ponta Grossa, Márcia Droppa. De acordo com ela, serão discutidas com o Conselho de Turismo da cidade e agências propostas de viabilidade de rotas turísticas com possibilidade de inclusão do cemitério nos roteiros religioso, histórico-cultural e arquitetônico. ''Destaco no municipal uma estátua de São Jorge e uma réplica da Pietá, que são belíssimas. Mesmo a pessoa que não tenha conhecimento profundo da arte pode ir até o cemitério só para observar. É uma galeria a céu aberto'', aconselha Droppa, que pode estar a frente de um trabalho pioneiro no Estado. ''Incluí-lo no roteiro turístico também será uma forma de preservá-lo'', acrescenta.
A responsável por apresentar o potencial turístico do cemitério São José é a turismóloga Cristina Kasprzak, 26 anos, que fez sua monografia de conclusão de curso, em 2004, propondo a inclusão de um roteiro turístico cemiterial no lugar. Ela fez o levantamento bibliográfico, mapeamento e seleção de todos os túmulos que possuíam características para o roteiro turístico. Nessa etapa, foram identificados os sepulcros com datas anteriores a 1942, os diferentes estilos arquitetônicos, os túmulos de ordens religiosa e militar e personalidades da sociedade local, sendo selecionados 70, entre jazigos e mausoléus.
De acordo com o trabalho, o cemitério São José se destaca por apresentar construções funerárias com uso de material durável, adornos elaborados e esculturas, financiadas pela elite pontagrossense, detentora de uma das maiores fortunas do Paraná, entre 1890 e 1930. ''A proposta desse tipo de turismo não é atrair multidões, mas pessoas movidas pela curiosidade ou interessadas na arte e história encontradas nos cemitérios. Com um bom planejamento, a elaboração de roteiros cemiterial pode ser uma nova opção de atrativo para o município e região que está inserido'', justifica Kasprzak.