Lilia Schwarcz toma posse na ABL e saúda minorias
Historiadora com vários livros publicados é a 11ª mulher a ocupar uma cadeira na Academia Brasiliera de Letras
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domingo, 16 de junho de 2024
Historiadora com vários livros publicados é a 11ª mulher a ocupar uma cadeira na Academia Brasiliera de Letras
Yuri Eiras/ Folhapress
RIO DE JANEIRO - Diante de uma Academia Brasileira de Letras lotada, com discursos marcados pela pauta antirracista, a historiadora Lilia Schwarcz, de 66 anos, tomou posse como imortal.
A cerimônia na noite de sexta-feira (14) na sede da ABL, no centro do Rio de Janeiro, teve presença da ministra Carmen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, do ministro Silvio Almeida, da pasta de Direitos Humanos, e do presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, além de novos colegas acadêmicos de Schwarcz, como a atriz Fernanda Montenegro, o compositor Gilberto Gil e os escritores Ailton Krenak e Ruy Castro, colunistas da Folha de S.Paulo.
A imortal Rosiska Darcy de Oliveira, responsável por apresentar a nova acadêmica, disse que Schwarcz é "herdeira da linhagem dos grandes historiadores". "Essa paulistana de pele branca é uma intelectual presente na luta antirracista", disse a madrinha da posse. O colar, parte do rito, foi entregue a Schwarcz pelo ex-chanceler Celso Lafer.
Schwarcz ocupa a cadeira número 9, que era do diplomata e historiador Alberto da Costa e Silva, a quem a autora chama de "um segundo pai". Costa e Silva morreu em novembro de 2023, aos 92 anos.
"É uma amizade de mais de 30 anos. Uma amizade feita com projetos, reuniões, telefonemas semanais, viagens. O Alberto é uma grande influência afetiva. Eu perdi meu pai muito jovem, não nego que Alberto ocupou um lugar. Ele me chamava de filha", disse Schwarcz.
"Ele era também uma influência intelectual tremenda, sobretudo nessa defesa incansável de populações que ficaram tanto tempo sem os direitos mais básicos da República. Alberto sempre denunciou o racismo."
11ª MULHER NA ABL
Pesquisadora e professora, Schwarcz foi escolhida em março por 24 dos 38 acadêmicos aptos a participar de sua eleição e se tornou apenas a 11ª mulher a integrar a organização desde que foi fundada, em 1897. A primeira foi Rachel de Queiroz em 1976.
Hoje, cinco mulheres -Schwarcz, Oliveira, Montenegro, Ana Maria Machado e Heloisa Teixeira- e 35 homens integram a Academia.
"As instituições públicas e privadas têm o papel de encampar lutas da sociedade brasileira. Uma luta muito forte é pela diferença. Entro na ABL no momento em que a Academia dá vários sinais de abertura para as populações negras que são maioria, mas minorizadas na representação, abertura para a população LGBTQIA+, para indígenas, para mulheres", afirmou a historiadora.
Schwarcz venceu diversas vezes o prêmio Jabuti, a última delas no ano passado, pelo juvenil 'Óculos de Cor'. Ela prepara outra reflexão sobre questões raciais para agosto, com "Imagens da Branquitude".
É ainda autora de livros como as biografias "As Barbas do Imperador" e "Lima Barreto - Triste Visionário", o "Dicionário da Escravidão e da Liberdade", com Flávio dos Santos Gomes, e "Brasil: Uma Biografia", com Heloisa Starling, além de ser uma das fundadoras da editora Companhia das Letras ao lado do marido, Luiz Schwarcz.
A Academia tem recebido mais holofotes nos últimos anos, adicionando nomes mais populares a suas cadeiras e atendendo à pressão popular para que o espaço seja ocupado por vozes mais diversas.
Em 2018, a escritora negra Conceição Evaristo foi candidata com uma campanha nas redes sociais a seu favor, mas a Academia escolheu o cineasta branco Cacá Diegues. Presente na posse desta sexta, Evaristo foi saudada por convidados e imortais.
"Pode ser um sinal", diz a escritora ao jornal sobre os cumprimentos. "Não temos o poder de interpretar, mas pode ser um bom sinal. Certas temáticas antes eram quase tabus, mas os espaços como a ABL precisam discutir, apresentar novas propostas, ou ficarão para trás."