Lia Menna Barreto inaugura mostra na Camrago Vilaça9/Mar, 15:10 Por Maria Hirszman São Paulo, 09 (AE) - Não é a toa que a palavra afeto está sempre presente nos títulos das últimas exposições feitas por Lia Menna Barreto. A artista, que inaugura amanhã (10) à noite sua primeira exposição individual em São Paulo, após uma longa ausência, parece sempre estar em busca de questões que lhe sejam caras e lhe permitam chegar mais perto do público. Se há quatro anos ela conquistou o público da Galeria Camargo Vilaça com uma série de delicadas referências à vida e ao universo de aprendizado infantil - na época estava grávida -, hoje ela volta ao mesmo local com uma série de trabalhos que aproximam ainda mais a arte de sua vivência cotidiana. Algumas dessas obras não apenas ganharam elementos vivos, como requerem um cuidado diário por parte da artista ou de quem venha a possuí-la no futuro. Estão nessa categoria as instalações "Bonecas com Plantas" e "Máquina de Bordar", que ocupam o segundo andar da galeria. A primeira é fruto de uma pesquisa que a artista vem fazendo há dois anos com cabeças de bonecas. Esse estranho painel de cabeças para baixo, transformadas em vasos, provoca sentimentos ambíguos no espectador. Num primeiro contato, esse painel de cabeças tem algo de perverso. No entanto, depois de uma observação mais cuidadosa chega-se à aproximação afetiva desejada por Lia. As diferentes bonecas - e as plantas que hospedam, recolhidas no sítio emque mora, no Sul - ganham vida própria. Segundo ela, essa associação entre a manipulação das bonecas e a idéia de crueldade é uma forma de reduzir, de banalizar o trabalho. Lia prefere ver o caráter formal da obra às eventuais cargas simbólicas contidas nele. "Não estou pensando em fazer crueldades com a boneca, mas sim em colocar vida dentro dela", explica. Em "Máquina de Bordar" o que está exposto, na verdade é o processo de criação. Após ter explorado das mais diferentes formas as experiências infantis de plantar grãozinhos de feijão, Lia acabou "construindo" um equipamento que lhe permite bordar com raízes. A obra consiste em colocar uma série de grãos de milho sobre tecido de algodão usado para fralda, que a artista tem de molhar todos os dias. Quando a planta está com aproximadamente 30 centímetros de altura, pára de receber água e seca, compondo desta forma um bordado. Tempo - Após concluída a operação, nova semeadura é preparada e o algodão já bordado é enrolado, escondendo assim a composição final. "O que me interessa é essa questão da passagem do tempo e o cuidado diário que o trabalho requer", explica a artista, sem negar a possibilidade de mostrar o resultado desse bordado algum dia. O deleite estético fica por conta das assemblages que Lia Menna Barreto compôs utilizando enormes pedaços de seda e elementos variados, como bonecas, lagartixas ou ratos de borracha, e que ocupam o térreo da galeria. Explorando diferentes cores, texturas e utilizando sua velha técnica de colar objetos de plástico por meio do calor, a artista desenha e borda, se aproximando do universo da moda. Nota-se também nestes trabalhos uma evidente influência dos materiais utilizados no resultado final. Lia sempre gostou de descobrir e armazenar novos materiais. Ironicamente, esses trabalhos em tecido refletem a invasão de produtos chineses que vem sendo registrada no comércio brasileiro. É como se o fato de ter usado bonecos de borracha e seda "made in China" acabasse dando a algumas de suas obras um indiscutível aspecto oriental. Serviço - Lia Menna Barreto. De segunda a sexta, das 10 às 19 horas; sábado, das 10 às 14 horas. Galeria Camargo Vilaça. Rua Fradique Coutinho, 1.500, tel. 210-7066. Até 31/3