Marcos Losnak
Especial para a Folha
A preocupação dos planetas do sistema solar com a degradação da Terra realizada pelos terráqueos está em ‘‘A Reunião dos Planetas’’, história de Marcelo Oliveira
A regra mostra que apenas os homens podem lutar pela preservação do planeta Terra frente a devastação ambiental provocada pelo próprio homem. A lógica é simples: aqueles que são responsáveis pela destruição do planeta, também devem ser responsáveis pela sua preservação.
Mas como o criador da lógica não é tão lógico como parece, talvez precise de alguns beliscões para perceber a dimensão de sua irresponsabilidade. Imagine se os planetas do sistema solar, preocupados com a possibilidade de que a destruição ambiental da Terra se estenda para o resto dos astros, resolvem dar um basta. Algo como atacar a Terra com 5 mil cometas, ou afastá-la de sua órbita, para que os homens desapareçam e o sistema solar possa viver em paz.
Esse é o argumento de ‘‘A Reunião dos Planetas’’, romance infanto-juvenil criado por Marcelo R. L. Oliveira que acaba de ser lançado pela Editora Companhia das Letrinhas com ilustração de Spacca. Professor de química na Universidade Federal de Ouro Preto, Marcelo resolveu deslocar a preocupação dos homens em relação à preservação ambiental da Terra para outras partes envolvidas, o universo como um todo.
‘‘A Reunião dos Planetas’’ não é apenas uma história educativa sobre a importância da preservação da Terra, é também uma viagem pelo mundo da astronomia. Apresenta tanto as características dos oito planetas do sistema solar como as particularidades dos astros como um todo. Ao mesmo tempo que converte os astros em engraçados personagens, oferece informações científicas sobre o Universo.
Na história de Marcelo R. L. Oliveira, Terra é uma tímida personagem – quieta em seu canto, ou melhor, em sua órbita. Todos os planetas são unânimes em afirmar ela é ‘‘gente boa’’, o problema está em uma das criaturas que vivem em sua superfície, os chamados SPTs (Seres Problemáticos da Terra). Acreditam que ao colocar a Terra em perigo, os SPTs também colocarão em perigo todo o sistema solar.
De maneira lúdica, o autor faz uso da Teoria do Caos (dentro do chamado ‘‘Efeito Borboleta’’) para revelar que não existem fatos isolados. Tudo está ligado em cadeia – uma verdadeira teia onde não há justificativas para o modo violento com que os ‘‘Seres Problemáticos’’ tratam sua própria morada.
No final de ‘‘A Reunião dos Planetas’’, a Terra defende-se de maneira lúcida. Defende os SPTs como uma mãe defende seus filhos. Compreendendo que a criatura que destrói seu ambiente é a mesma que admira uma flor, encerra sua defesa com as seguintes palavras: ‘‘É possível que essa vida inteligente possa fazer mais coisas ruins que boas. Pode ser que eu me torne árida, como tantos planetas. Mas os planetas áridos não deixam de ser felizes. Nesse caso, os SPTs se extinguiriam ou fugiriam de mim. Eles têm o poder de escolher. Mas as consequências dessa escolha são naturais. Nada pode fugir às leis naturais.’’
A assembléia chega a conclusão que devem dar um pouco mais de tempo aos SPTs para que aprendam a respeitar a Terra e os planetas. Há apenas uma ressalva nas palavras de Júpiter: ‘‘Para que os SPTs percebam que estão sendo fiscalizados, ordeno que a Terra lhes forneça alguns sinais. Por exemplo: se as matas continuarem a ser queimadas, a Terra deve criar mais desertos. Se a atmosfera continuar a ser poluída, o gelo dos pólos deve derreter, provocando inundações. Se os animais continuarem a ser perseguidos e mortos, o número de novos micróbios e doenças deve aumentar. A cada coisa errada que os SPTs fizeram, quero que a Terra lhes dê um pequeno aviso, até que aprendam.’’
A Reunião dos Planetas – De Marcelo R. L. Oliveira, ilustrações de Spacca, Editora Companhia das Letrinhas, 104 páginas, R$ 16,50.