Inauguração da sede atual da Biblioteca Pública do Paraná, em 1954
Inauguração da sede atual da Biblioteca Pública do Paraná, em 1954 | Foto: Reprodução



Quando foi inaugurado, em 1954, o prédio da atual Biblioteca Pública do Paraná não possuía elevadores. Para instalar os 20 mil volumes, a única saída era carregar os livros subindo as escadarias do prédio de três andares.
A primeira solução encontrada foi convocar os detentos do Presídio do Ahu para realizar a tarefa. Após trabalharem por algumas horas, os presos exaustos se recusaram a continuar o serviço. Alegavam que aquilo "não era trabalho de presidiário". Preferiam ficar fechados em suas celas a subir escadas com dezenas de livros nas costas.
A segunda solução encontrada foi convocar os bombeiros da cidade de Curitiba para terminar a tarefa. Após algumas horas de trabalho, os bombeiros chegaram a mesma conclusão que os presidiários. Aquilo "não era serviço de bombeiro". As escadarias assustavam tanto gregos quanto troianos.
Este é um dos episódios narrados em "Livro Aberto – Uma História da Biblioteca Pública do Paraná", novo livro do escritor e jornalista Nilson Monteiro que acaba de ser lançada pelo selo Biblioteca Paraná, selo da própria Biblioteca Pública do Paraná.
A obra apresenta a história da instituição fundada em 1857 a partir de depoimentos de funcionários, usuários e escritores. Elementos históricos se misturam com a memória afetiva de um espaço que viveu profundas transformações ao longo de seus 160 anos de existência. O autor também cruza a própria história da instituição com fatos da história do Brasil e acontecimentos mundiais.

Nilson Monteiro escreveu ‘Livro Aberto’ pontuando a história da Biblioteca Pública do Paraná com acontecimentos mundiais
Nilson Monteiro escreveu ‘Livro Aberto’ pontuando a história da Biblioteca Pública do Paraná com acontecimentos mundiais | Foto: Divulgação



Outro episódio relatado por Nilson Monteiro está no fato da instituição possuir, no passado, uma "sala proibida" em seu interior. Nessa sala ficavam trancados os livros que deveriam permanecer longe dos leitores. Geralmente obras eróticas ou simplesmente de temática sexual, e obras de cunho político ou ideológico. Durante da ditadura militar, instalada no país em 1964, a sala ganhou mais e mais volumes que não deveriam ficar acessíveis aos leitores.
Criada em 1857, a Biblioteca Pública do Paraná, teve 13 sedes provisórias até conquistar sua sede própria em 1954 localizada na Rua Cândido Lopes, no centro histórico de Curitiba. Também teve vários nomes ao longo do tempo. Nasceu como Biblioteca Pública do Estado. Em 1937 passou a chamar Biblioteca Pública de Curitiba. Recebeu o nome atual, Biblioteca Pública do Paraná, somente em 1955. Na data de sua criação, seu acervo era constituído por 254 volumes. Hoje seu acerto possui mais de 700 mil volumes compreendendo livros, periódicos, fotografias, mapas, materiais de multimídia, etc.
"Livro Aberto" revela que o segredo da sobrevivência de uma biblioteca não está em ser um depósito de livros. O segredo de uma biblioteca está em sua capacidade de vitalidade. Uma vitalidade que não se manifesta apenas no volume de verbas aplicadas, mas também no comprometimento de seus diretores, funcionários e usuários.
Segundo a lenda, quando o escritor russo Fiodor Dostoiévski estava preso na Sibéria passando fome e frio, escreveu uma carta para a família solicitando o envio de livros. Não desejava roupas para combater o frio, não desejava comida para saciar a fome. Queria apenas livros e mais livros para nutrir a mente e o espírito.

Imagem ilustrativa da imagem LEITURA - Um mar de livros



Serviço:
"Livro Aberto – Uma História da Biblioteca Pública do Paraná"
Autor – Nilson Monteiro
Editora – Biblioteca Paraná
Páginas – 216

[left]Fragmento:

Uma das pérolas entre os cinco mil volumes do acervo atual de obras raras da Biblioteca Pública do Paraná, o livro "Orlando Furioso", do poeta italiano renascentista Ludovico Ariosto, em edição de 1584, foi encontrado, menosprezado pelo descaso e pelo tempo, no subsolo do prédio, em abril de 1994, sem registro de como chegara às estantes da Biblioteca, já que em gestões anteriores não havia preocupação em anotar os nomes dos doadores. Ou seja, foi uma doação anônima.
Sua primeira edição veio ao público em 1516, portanto 16 anos depois do descobrimento do Brasil. Considerada obra-prima da poesia italiana, tornou-se a preferida tanto de famosos, como Miguel de Cervantes (1547 – 1616), Galileu Galilei (1554 – 1642) e Voltaire (1694 – 1778), quanto de anônimos: camponesas costumavam cantar de memória largos trechos do poema, tal era sua identificação com as mulheres injustiçadas retratadas pelo autor.

(Fragmento de "Livro Aberto – Uma História da Biblioteca Pública do Paraná", de Nilson Monteiro)[/left]