Curitiba - O ator José Maria Santos (1933-1990) nasceu em Guarapuava e ganhou reconhecimento nacional depois de receber o kikito de melhor ator no Festival de Cinema de Gramado por sua atuação no filme ''Aleluia Gretchen'', dirigido por Sylvio Back na década de 70. O cineasta Sylvio Back nasceu em Ponta Grossa e começou a carreira em Curitiba, dirigindo o longa ''Lance Maior'', em 1968. Depois disso, dirigiu dezenas de longas e curtas-metragens que ganharam projeção internacional. Esses e outros nomes de atores e diretores ligados ao cinema paranaense estão no livro ''Dicionário de Cinema do Paraná'', de Francisco Alves do Santos. Lançado na terça-feira, na Cinemateca de Curitiba, o dicionário é resultado de um trabalho de pesquisa desenvolvido durante três anos.
Nesse período, o autor da obra, que também é cineasta e crítico de cinema, pesquisou a produção do cinema paranaense desde o seu início, em 1907, até os profissionais envolvidos em produções realizadas até o ano de 2003. Publicada em edição simples pela Fundação Cultural de Curitiba, a obra vai além de citar diretores e atores. Registra também os acontecimentos mais importantes ligados ao cinema produzido no Paraná. No ensaio de abertura da obra, por exemplo, o autor resgata as primeiras exibições realizadas no Estado, em 1897, no antigo Teatro Hauer. No livro, o ator salienta que as exibições de cinegrafistas locais tiveram início apenas em 1907, quando Anníbal Requião (1875 - 1929) registrou o desfile comemorativo ao aniversário da República daquele ano.
Os primeiros festivais de cinema do Paraná também são citados, desde o Festival de Cinema Brasileiro, que teve apenas uma edição até o Festival de Cinema, Vídeo e DCine de Curitiba, criado em 1996. Mas segundo relato do autor, as premiações que aconteceram na década de 60 ganharam mais projeção do que os próprios festivais. A festa de entrega do troféu Tribunascope de Ouro (que durou de 1959 a 1965), por exemplo, teve direito até a presença dos astros americanos Janet Leight e Anthony Perkins no palco do antigo Cine Vitória, em Curitiba.
A extensa bibliografia consultada pelo autor permitiu a reconstituição de quase um século da filmografia local, demonstrando que o pioneirismo de Anníbal Requião teve continuidade em João Baptista Groff (1897 - 1970), realizador de ''Pátria Redimida'' (1930), o principal filme do período mudo paranaense. A obra, que se transformou num clássico do cinema documentário brasileiro, é sobre a revolução getulista iniciada em Porto Alegre (RS), em 3 de outubro de 1930, e seus desdobramentos em São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná, com imagens raras e históricas da passagem de Getúlio Vargas por Curitiba.
A relação de pioneiros do cinema paranaense tem ainda os nomes de Arthur Rogge (1886 -1972), autor de vários documentários curtos, como ''Didi Caillet'' (1929), miss Paraná daquele ano; José Cleto (1901 -1960), que realizou o documentário ''Nossa Terra'' (1928); Ikoma Udhiara (1882 - 1972), com relevantes registros do desenvolvimento do norte paranaense; além de Vladimir Kozàk (1897 - 1979), tchecoslovaco naturalizado brasileiro que fez os principais registros indígenas do cinema do Paraná.
Francisco Alves registra que por anos o cinema no Paraná contou apenas com documentários e cinejornais, realizando o sonho dos longas-metragens somente a partir da década de 1960. Os primeiros longas foram ''Senhor Bom Jesus da Cana Verde'' (1967), dirigido pelo frei capuchinho Gabrielângelo Caramore e Juracy Garanhani, numa iniciativa da cidade de Siqueira Campos; ''Maré Alta'' (1968), de Eugênio Contin, com enredo de aventuras rodado nas ilhas do litoral do Paraná.
O autor dá sequência à pesquisa percorrendo as décadas de 1970, 1980 e 1990, além de citar também primeiros anos do novo milênio, levantando o trabalho dos realizadores. Francisco Alves dos Santos nasceu em Salinas (MG), em 1946,mas veio para o norte do Paraná aos dois anos de idade. Desde 1971 mora em Curitiba, onde se formou em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná e em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná. Suas publicações anteriores são ''Cinema Brasileiro 1975'' (1975), ''Cinema, Igreja e Poder - O Filme Religioso no Brasil'' (1992), ''Cinema no Paraná - Nova Geração'' (1996) e ''Cinema no Paraná - Anos 90''. Francisco também é autor de vários curtas-metragens, muitos deles premiados nacionalmente.
Serviço:
- ''Dicionário de Cinema do Paraná'', de Francisco Alves dos Santos, editado pela Fundação Cultural de Curitiba.