Kiss traz a turnê "Psycho Circus" ao Brasil
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domingo, 28 de março de 1999
Por Jotabê Medeiros
São Paulo, 29 (AE) - Pela terceira vez no Brasil (a primeira com a formação original), a banda americana Kiss traz o mais caro e monumental show de rock da temporada ao País, a turnê "Psycho Circus", que estreou no Dia das Bruxas nos Estados Unidos, no ano passado, lotando o estádio de beisebol dos Dodgers.
No Brasil, a turnê começa no dia 17, no Autódromo de Interlagos, em São Paulo, com a apresentação preliminar da banda de dance metal alemã Rammstein. Cerca de 20 mil ingressos foram postos à venda. Os ingressos custam R$ 50,00 (R$ 25,00 para estudantes) e podem ser comprados na Woodstock Discos, Animal Records, Loja Hanx e Aqualung (informações pelo telefone 421-3988).
O redivivo grupo Kiss é a prova cabal de que, no rock, as coisas às vezes são apenas uma questão de embalagem. Quando esteve aqui recentemente, em 1994, sem sua maquiagem original, o grupo foi apenas atração coadjuvante num festival que tinha Black Sabbath e Suicidal Tendencies. No ano passado, o grupo resolveu investir numa megaturnê com as pinturas brancas na cara e com a formação original. Resultado: estádios cheios pelo mundo todo para a nova e psicótica turnê.
O grupo voltou ao topo. Tornou-se capa da Playboy americana de março - calma, a Playboy não trocou por quatro marmanjos de pernas finas sua ancestral predileção por Mariel Hemingway. Os quatro veteranos do Kiss estão superbem acompanhados na revista, com dezenas de playmates que, segundo o baixista e líder da banda, Gene Simmons, estavam usando na hora das fotos apenas "nossa maquiagem e algum perfume".
Outro sintoma da redenção do Kiss: o cantor e guitarrista Paul Stanley foi convidado para estrelar "O Fantasma da àpera" no Torontos Pantages Theater, no Canadá, e aceitou. Ele ficará dez semanas no palco, a partir de maio, cantando canções de Andrew Lloyd Webber. "É um grande desafio"
diz Stanley. "Eu estou cruzando a linha de um novo território".
O Kiss conquistou hordas de fãs pelo mundo todo com um exército de símbolos: sua maquiagem exuberante, a língua descomunal de Gene Simmons, as roupas negras e performáticas, o estilo meio história em quadrinhos (a Abril Jovem pretende lançar, por ocasião do show, as aventuras do quarteto narradas pelo cartunista Todd McFarlane). Mas foi também por uma associação nunca confirmada com o satanismo - há quem diga que o nome da banda, Kiss, seriam as iniciais de Kids in Satan Service (ou Garotos a Serviço de Satã). A banda sempre negou esses rumores.
Mais que seus 24 discos, a performance pirotécnica do Kiss é um dos reais motivos da longevidade da banda, que surgiu em 1972 como Wicked Lester, em Manhattan, criada por Genne Simmons - naquela época, um garoto judeu nascido em Haifa, Israel, cujo verdadeiro nome é Gene Klein. Na época, Klein era professor primário e de baixo. Encontrou o cantor e guitarrista Stanley e os dois recrutaram o baterista Peter Criss (nascido Peter Crisscoula) por meio de um anúncio na revista "Rolling Stone" e o guitarrista Ace Frehley por outro anúncio no jornal "Village Voice".
Escolhidas as "personas" de cada um para a maquiagem, assinaram contrato com Bill Aucoin, do selo Casablanca, em 1973. Em 1975, o álbum duplo "Alive!" foi gravado, já trazendo o onipresente hit "Rock and Roll All Nite" - que fecha praticamente todas as apresentações da banda, incluindo essa turnê Psycho Circus. Em 1976, outro megahit, "Destroyer", feito sob a orientação do produtor de Alice Cooper, Bob Ezrin.
Outro grande sucesso, a balada orquestrada "Beth", que tem o baterista Criss nos vocais, levou a "Marvel Comics" a publicar uma história em quadrinhos sobre o Kiss, o que consideram uma de suas maiores glórias. O grupo tornou-se uma espécie de símbolo dos anos 70. Em outubro de 1978, começaram os discos-solo dos integrantes da banda. Em 1980, começou a derrocada: Peter Criss saiu, sendo substituído por Eric Carr. Frehley, que costuma entornar garrafas e garrafas de uísque, tornou-se um problema e foi substituído por Vinnie Vincent.
Em 1982, o grupo tentava livrar-se do apelo teatral e tirava as máscaras pintadas. Vincent também deixou o grupo e foi substituído por Mark St. John, que sofria de uma doença rara. Em 1985, veio Bruce Kulick, que permaneceu por uma década na guitarra. O Kiss não levou sorte naqueles anos: em 1991, o baterista Eric Carr morreu de câncer, aos 41 anos. Foi substituído por Eric Singer.
Quase uma dezena de substituições depois, e após sua música ser revisitada por artistas como Lenny Kravitz, eles resolveram retomar o fio da meada, agora já quase cinquentões. Em 1997, fizeram um disco acústico que lhes deu novo fôlego. Singer e Kulick saíram do grupo para o retorno de Frehley e Criss. Estava refeito o elo.
No começo deste ano, foram indicados para um Grammy de melhor performance de hard rock. Perderam para a dupla Robert Page e Jimmy Plant (ex-Led Zeppelin), mas mostraram que ainda estão na parada. Também têm um filme, "Detroit Rock City", já pronto para estrear. Conta a história de quatro rapazes que queriam entrar num show do Kiss, lá pelos idos de 1976.
"Psycho Circus" é um megashow. O palco tem mil metros quadrados e a parafernália eletrônica é transportada por dois boeings. Gene Simmons flutua e cospe sangue, Paul Stanley anda de teleférico sobre o público, Ace Frehley atira com a guitarra e Peter Crissd levita com a bateria em meio à fumaça.