São Paulo, 20 (AE) - Michel Ocelot ainda pode ser pouco conhecido no Brasil, mas é um nome importante da animação mundial. Em 1994, foi eleito presidente da Associação Internacional do Filme Animado, sendo reeleito em 1997. Ocelot é o diretor/animador de "Kiriku e a Feiticeira", que estréia amanhã (21). As crianças vão adorar - a maioria delas se encanta justamente com a personagem da feiticeira, Karabá. Mas os pais não vão arrepender-se de levar os filhos. "Kiriku" oferece atrativos de sobra para adultos, também.
Ocelot gosta de dizer que teve uma infância feliz na áfrica, mais exatamente na Guiné. Sentia que tinha uma dívida sentimental com o continente africano. Consegue saldá-la em "Kiriku. O filme baseia-se num conto da áfrica Ocidental que ele ouviu há muito tempo - a história de uma criança que fala de dentro da barriga da mãe, pedindo para nascer. A mãe responde com determinação que, se ele fala de dentro do ventre dela, pode nascer sozinho. Kiriku ganha o mundo e se defronta com a feiticeira que domina sua aldeia. Em vez de aceitar sua autoridade, temer sua força sobrenatural, luta para libertar o povo da influência dessa mulher má.
Quando um produtor lhe encomendou o roteiro para um filme, Ocelot imediatamente pensou em "Kiriku não Teme Feiticeira", que evoluiu simplesmente para "Kiriku e a Feiticeira. Ele conta que usou o conto africano para desenvolver uma história com questões fundamentais que se perguntava quando criança e com as convicções que assumiu, ao tornar-se adulto. Acima de tudo, aproveitou para retratar a áfrica, suas cores, sua música, seus costumes, de um jeito como o cinema nunca tinha feito antes. Em "O Rei Leão, afirma o diretor, Hollywood utilizou algumas características da áfrica, mas não os africanos.
É um filme visualmente muito bonito, cheio de cores fortes. Ocelot inspirou-se em suas lembranças da áfrica - a aldeia é ocre, a savana, amarela, a floresta, verde-esmeralda, o rio, verde, a cabana da feiticeira é cinza e o desfecho tem a multiplicidade de cores do arco-íris. A trilha de Youssou NDour
considerado um grande nome da música africana, usa instrumentos tradicionais, como o balafon, o ritti, a cora, o xalam, o sabaar e o belon. Ocelot simplesmente não queria instrumentos modernos, sintetizadores, essas coisas. Queria música de raiz.
Falando sobre o filme e seu trabalho, NDour disse que as imagens de Ocelot são idílicas. Não são as imagens da áfrica de hoje, mas de uma áfrica estilizada e mítica, que só existe nos contos infantis.
O diretor trabalha no contraste entre Kiriku, pequeno, frágil, desnudo, e a feiticeira, alta, majestosa, coberta de jóias. E constrói sua história em torno da questão que o menino conduz, ao longo da trama - por que a feiticeira é má? Adultos têm respostas prontas para o que não conseguem responder, diz o diretor. Kiriku não fica satisfeito com essas respostas e tenta decifrar o enigma. Ocelot mudou o conto original, criando um novo fim para Kiriku e a Feiticeira.
Desde os anos 70 trabalhando com animação, Ocelot inclui no seu currículo diversos filmes curtas. Alguns formam séries, como "Gedeon", de 1976 (60 episódios de cinco minutos cada um)
e "Cine Si" (com sete episódios de 12 minutos), de 1992. Kiriku é o primeiro longa do diretor, com 71 minutos. Ganhou os prêmios do Festival Internacional de Filmes Infantis do Cairo, o Grande Prêmio do Festival Internacional de Animação de Annecy, na França, os prêmios de melhor filme para o público adulto e o infantil do Festival de Filmes para Crianças de Chicago e o prêmio do público no Festival de Zanzibar. Na Europa, nos Estados Unidos, na áfrica árabe e na negra, em toda parte Kiriku foi saudado como um acontecimento. É mesmo um acontecimento - uma animação diferente das que habitualmente inundam o mercado audiovisual brasileiro, feita com criatividade e inteligência. Serviço - Kiriku e a Feiticeira. Dublado. Desenho. Direção de Michel Ocelot. Duração de 71 minutos. Livre