Os 34 anos de carreira não fizeram com que Kadu Moliterno deixasse de se surpreender com o alcance da televisão na sociedade brasileira. Às vésperas de virar um cinquentão, o eterno Juba do seriado ''Armação Ilimitada'' esbanja entusiasmo na hora de falar do médico Rodrigo, papel que interpreta em ''Porto dos Milagres''. A exaltação é maior ainda por causa do bom momento do personagem. No capítulo em que Rodrigo foi preso, a novela de Aguinaldo Silva atingiu o maior pico de audiência desde sua estréia: 59 pontos. ''Atuar numa novela no horário nobre e com um ibope como esse é igual ao Guga ganhar um torneio do Grand Slam'', vibra Kadu.
Apesar da boa audiência de ''Porto dos Milagres'' mantém uma média de 48 pontos , a novela literalmente não caiu nas graças do público. Nas ruas, pouco se comenta da história e os personagem criados por Aguinaldo Silva e Ricardo Linhares. Kadu defende uma tese para situação tão paradoxal. ''O que acontece com 'Porto' é por ser uma novela voltada para o entretenimento. Não é uma novela de fofocas'', imagina Kadu. Ele acredita que a antecessora, ''Laços de Família'', tinha um maior efeito junto ao público por tratar de assuntos do cotidiano. ''Então, as pessoas discutiam a questão social e de saúde no dia seguinte. Já agora, as pessoas se divertem na hora e depois acabou'', conclui o raciocínio o ator.
''Porto dos Milagres'' é o segundo trabalho consecutivo de Kadu junto com Aguinaldo Silva. O primeiro foi como empresário Figueira em ''Suave Veneno''. Demonstrando uma sinceridade inesperada, Kadu não esconde uma certa frustração com o personagem. Ele conta que chegou a conversar com os diretores da emissora para saber qual era o futuro do Figueira na trama. ''Fiz muitas cenas dramáticas. Por isso, foi um trabalho muito pesado'', confessa o ator. Ao interpretar o médico Rodrigo, o sentimento é completamente diferente. O ator se diz até identificar com algumas características do personagem. Principalmente com preocupação social demonstrada por Rodrigo. ''Ele é um cara do bem. Então, caiu como uma luva neste momento de minha carreira'', completa.
O fato de estar sempre interpretando personagens mais jovens em relação a sua verdadeira idade é outro motivo que entusiasma o ator. Ele atribui ser sempre escalado para papéis da mesma faixa etária por ter poucos atores na faixa dos 30 e 40 anos na Globo com sua experiência. ''Realmente, há uma carência'', enfatiza Kadu. Por isso, ele acredita que os autores sempre o imaginam fazendo personagens com o perfil do Rodrigo. Em ''Porto dos Milagres'', por exemplo, Kadu forma par romântico com uma atriz 25 anos mais jovem, no caso Paloma Duarte. Em ''Armação Ilimitada'', Paloma chegou a interpretar a namorada do Bacana, garoto vivido por Jonas Torres no seriado. ''Acho muito engraçado tudo isso. Mas enquanto forem me dando este tipo de papel, vou fazendo'', diverte-se.
Kadu só volta a adotar um discurso sério e preocupado na hora de comentar o atual momento da televisão brasileira. Para ele, a programação vem passando dos limites. Só que Kadu não culpa somente as redes e nem mesmo o próprio governo. Em sua casa, por exemplo, é ele quem impõe os limites de tudo ao que os três filhos assistem. ''Temos o controle remoto nas mãos. Então, podemos controlar a educação de nossos filhos'', acredita Kadu. Nem mesmo às novelas em que o ator participa, os filhos têm acesso. Ele acha que personagens como a espevitada Socorrinho, interpretada por Mônica Carvalho, não vão acrescentar em nada na formação dos mais jovens. ''O que vou falar para minha filha no momento em que a Socorrinho estiver transando num bordel?'', questiona Kadu, que também não tem o hábito de emendar um trabalho seguido no outro. Ele acha fundamental descansar a imagem, pelo menos, um ano depois de ter concluído um trabalho na televisão.