Uma palhaça e uma flor seguem juntas, em um caminho difícil, na busca de um lugar melhor. As personagens de “Jasmim e a Última Flor”, espetáculo do grupo Seres de Luz Teatro (Campinas - SP), encaram uma odisseia pela sobrevivência que deve emocionar e divertir o público do FILO (Festival Internacional de Londrina) neste sábado (1°) e domingo (2), como toda boa obra de palhaçaria.

A atriz e palhaça Lily Curcio, que interpreta Jasmim, conta que essa é a história de uma nômade sobrevivente que está zelando por uma última flor - que, de alguma forma, acaba por sintetizar toda a necessidade de cuidado com o planeta.

“Ela trata de defender, de criar para essa flor um clima de alegria, de entusiasmo, de esperança e faz um monte de bobeira para que ela continue viva. É uma travessia constante. Ela sempre está levando essa flor em um carrinho para um lugar mais tranquilo”, diz.

E essa não é uma interpretação solo. A flor é tão protagonista quanto Jasmim e, manipulada a distância pelo técnico Eduardo Brasil, é um forte elemento cênico.

“Ele [Brasil] contracena comigo o tempo inteiro, e isso dá um nível de poesia e surpresa para o público muito especial”, acrescenta Curcio, que diz que seu objetivo é mudar o espectador provocando, emocionando e rindo.

A atriz explica que, assim como outras peças do grupo, “Jasmim e a Última Flor” é resultado de seus sonhos e anseios, e das imagens que lhe causam impacto. Ela já vinha pensando em uma história para a sua palhaça, e isso se concretizou em 2017. Ao lado do palhaço e diretor mexicano Aziz Gual, deu forma ao espetáculo de palhaçaria.

“É o meu forte, a minha paixão, e esse espetáculo quase não tem palavras e trabalha a gestualidade, o lírico e a poesia. E nesse momento tinha na humanidade essa coisa das migrações forçadas, a Guerra da Síria e milhões de pessoas saindo de suas terras. Isso ainda continua, e aí essa ideia da última flor se juntou”, conta Curcio.

Essa é uma temática que passou por diversos espetáculos desta edição do FILO, em que a saída forçada de territórios, seja por mudanças climáticas ou implicações políticas, é uma constante. Para a atriz, é importante levar essas questões para o palco.

“O artista tem papel fundamental para provocar o público, para colocar temas que incentivem a questionar o que está acontecendo conosco e com a sociedade, com o planeta. Acho que a arte é um instrumento incrível”, opina.

Dialogando com elementos tão sensíveis e atuais, o espetáculo, além de despertar o riso, também convida o público a se emocionar. “Tem muitos momentos de poesia, de lirismo, de desespero dessa palhaça. É como uma viagem, uma travessia de emoções”.

Desde 2017, quando saiu do papel, o espetáculo foi apresentado no México, Espanha e nas Ilhas Canárias. “Agora tenho a honra de apresentar em Londrina”.

PALHAÇARIA

Natural da Argentina, Curcio conta que veio para o Brasil em um momento muito difícil de sua vida. E foi por uma causalidade que ela participou de um retiro de clown no LUME [Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas Teatrais da Unicamp], oportunidade em que deu vida à palhaça Jasmim, que vem sendo sua companheira desde então.

Ela ressalta que “ser palhaça mudou a minha vida” e que, a partir do momento em que coloca o nariz vermelho, o mundo fica diferente, com mais liberdade. Inclusive, a atriz acredita que tem ocorrido uma banalização desse elemento.

“Eu acho que [ser palhaço] é uma profissão muito séria, é uma profissão sagrada. E que sempre teve um papel muito importante no universo da cena”, avalia.

EU E A PERSONAGEM

A atriz Lily Curcio fala sobre a construção da sua personagem Jasmim

Lily Curcio como Jasmim, no espetáculo que quase não tem palavras e trabalha a gestualidade
Lily Curcio como Jasmim, no espetáculo que quase não tem palavras e trabalha a gestualidade | Foto: Chris Mayer/ Divulgação/ FILO 2023

“Jasmim é um ser que além de me curar, de sarar minhas feridas, pode ser qualquer coisa. Muitas pessoas falam que quando veem Jasmim, ela não tem idade, pode ser uma velhinha, um menino ou menina de cinco anos. Ela pode ser tudo, e é isso que se trata ser palhaça, e eu não me imagino fazendo outra coisa da minha vida, é muito especial para mim. Então, estar em qualquer lugar do mundo, com qualquer tipo de público, esse estar no palco, no picadeiro, em uma favela, em um campo de refugiados, em um hospital [é especial]. Não importa onde Jasmim está, ela está querendo tocar o coração.”

SERVIÇO

FILO 2023

Jasmim e a Última Flor

Local: Espaço Villa Rica (rua Piauí, 211)

Datas: sábado (1°) e domingo (2), às 19h

Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia-entrada) no site do Filo na plataforma Sympla

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Patrocínio: Prefeitura de Londrina / Secretaria Municipal da Cultura / Programa Municipal de Incentivo à Cultura (Promic).

Apoio: Universidade Estadual de Londrina – Casa de Cultura, Espaço Villa Rica, Fecomércio/Sesc-PR, Kery Grill, Rádio UEL FM, EJ Rosa Amarela, Folha de Londrina, Laboratório de Cenografia e Cenotécnica, Sanepar/Governo do Estado do Paraná, Canto do Marl e Vila Triolé Cultural. Realização: Associação dos Profissionais de Arte de Londrina