Existem coisas que não possuem lugar nas tarefas do dia a dia. Existem sensações que não possuem tempo na velocidade do dia a dia. Existem percepções que não possuem espaço para se manifestar na labuta do cotidiano.

Para resolver esse desacerto de tempo e lugar, a poeta e cineasta Cristina Santeiro encontrou a solução mais poética de todas: criar um tempo e um lugar para aquilo que não tem tempo ou lugar nos afazeres cotidianos.

O resultado está em “Jardim de Inverno & Verão”, livro de poemas que Cristina Santeiro lança nesta quarta-feira (28), às 21 horas, no Cine Teatro Ouro Verde dentro da programação da “Semana Arrigo Barnabé”.

Publicado pela editora Cambalache, a edição traz ilustrações e colagens criadas pelo compositor londrinense Arrigo Barnabé no final da década de 1970. Com uma longa história de amizade com Arrigo, Cristina Santeiro foi responsável pelo primeiro filme sobre o emblemático disco “Clara Crocodilo”, o curta-metragem “A Estória de Clara Crocodilo” de 1980.

Com forte influência de elementos do audiovisual, “Jardim de Inverno & Verão” transforma versos em takes, capítulos em sequências. Para a autora, escrever poemas se apresenta como uma forma de sobrevivência: “Uma forma de lidar com sentimentos que não encontram expressão direta no cotidiano.”

A seguir, Cristina Santeiro fala sobre seu livro e sobre o filme “A Estória de Clara Crocodilo” que será exibido antes do lançamento, às 19h30, no Cine Teatro Ouro Verde.

Nos poemas de “Jardim de Inverno & Verão” é possível perceber uma série de elementos cinematográficos. Como o audiovisual se manifesta em sua poesia?

Os poemas têm forte apelo visual. Os versos focam o olhar, trazem cores, espaços e objetos presentes no cotidiano. Imagens que se articulam numa espécie de edição que remete às narrativas do audiovisual. Os versos/takes dos poemas vão criando sequências/capítulos que por sua vez formam os dois panoramas, jardim de inverno e jardim de verão, que compõem o livro.

Você tem uma longa trajetória atuando no universo do audiovisual. Aonde a poesia entrou nesse processo?

A leitura da poesia é fundamental. Carlos Drummond, Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Oswald de Andrade trouxeram, lá da adolescência, essa visão essencial do mundo, um deslumbramento. Escrevo poemas desde sempre, uma forma de sobrevivência, de lidar com sentimentos que estão presentes, mas não encontram sua expressão direta no cotidiano. O livro reúne poemas de vários períodos diferentes, busca criar um tempo e um lugar para o que não tem tempo ou lugar na correria do dia a dia.

Como as ilustrações de Arrigo Barnabé começaram a fazer parte do livro?

Na década de 1970, Arrigo Barnabé fazia o curso de Música e eu o curso de Cinema na ECA, na Universidade de São Paulo (USP). Éramos amigos. E vem dessa convivência o curta-metragem que dirigi, “A Estória de Clara Crocodilo”. Ao buscar em meus arquivos os textos para compor o livro, revi algumas colagens e desenhos feitos por ele nesse período. Quando Arrigo escreveu o prefácio, gentilmente autorizou o uso de algumas dessas imagens, que estão presentes na capa e pontuando todo o livro.

No mesmo dia do lançamento de “Jardim de Inverno & Verão” será exibido seu filme “A Estória de Clara Crocodilo”, de 1980. Como você descreve o filme?

O curta-metragem foi filmado antes da gravação do LP e seu lançamento coincidiu com o sucesso do disco e do show. Elabora e mistura temas muito vivos naquele período de ditadura e autoritarismo com humor e toques de nonsense. Marca a estreia da atuação de Arrigo no cinema e tem uma gravação original da música com arranjo de Regina Porto.

Imagem ilustrativa da imagem 'Jardim de Inverno & Verão': a poesia do olhar
| Foto: Divulgação

Serviço:

“Jardim de Inverno & Verão”

Autora – Cristina Santeiro

Ilustrações – Arrigo Barnabé

Editora – Cambalache

Páginas – 112

Quanto – R$ 49

Lançamento – Quarta-feira (28), às 21h, no Cine Teatro Ouro Verde

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“A Estória de Clara Crocodilo”

Direção – Cristina Santeiro

Duração – 10min

Exibição – Quarta-feira (28), às 19h30, no Cine Teatro Ouro Verde

(Rua Maranhão, 85)