ReproduçãoJanet Jackson: ‘‘Fazer esse disco foi o maior desafio da minha vida’’Janet Jackson está de volta com o álbum mais maduro de sua carreira. A mais criativa integrante da bizarra família Jackson acaba de lançar ‘‘The Velvet Rope’’, seu primeiro disco inédito em quatro anos, em que mostra ser uma artista em evolução. O disco, o mais conceitual e subjetivo da cantora, traz diferenças marcantes em relação aos trabalhos anteriores, tanto na produção quanto na abordagem de temas como sadomasoquismo e bissexualismo.
Pense em ‘‘The Velvet Rope’’ como ‘‘Erotica’’, de Madonna, atualizado, mas com menos hits. Guardadas as devidas proporções e impactos de cada época, é claro. Embora tenha uma carreira respeitada nos Estados Unidos - em muitos momentos ela foi melhor recebida do que o irmão Michael -, Janet ainda é pouco conhecida no Brasil. A cantora teve uma carreira interessante, partindo do funk-pop do disco ‘‘Control’’, de 1989, para o elogiado ‘‘Janet’’, em 1993. Dois anos depois foi a vez de ‘‘Janet Remixed’’, em que seu trabalho foi amplificado pelos remixes de DJs/produtores como David Morales e Brothers in Rhythm. Ao se afastar do romantismo bobo, ela revelou uma Janet mais madura e sofisticada, em que a personalidade começou a se consolidar - principalmente em faixas com apelo sexy, como ‘‘Throb’’ e ‘‘You Want This’’.
Acertos O novo disco agrada justamente por ser mais um passo acertado. Janet reuniu produtores como Jimmy Jam e Terry Lewis, que têm como crédito trabalhos com TLC e Tina Turner, respectivamente, para viabilizar suas idéias de um disco ‘‘conceitual’’. Musicalmente, o álbum funciona muito bem, trazendo muitos efeitos sonoros sampleados, ruídos e detalhes sujos como no disco ‘‘O-de-lay’’, de Beck. A primeira música, ‘‘The Velvet Rope’’, que tem um sample de ‘‘Hobo (scratch)’’, de Malcom McLaren e Trevor Horn, tem todas as características de um hit dançante de Janet Jackson, mas em versão mais fresca. A faixa tem os violinos de Vanessa Mae e um coral infantil e consegue não ficar cafona.
Um dos principais acertos da produção do disco está na exploração de diferentes efeitos e mixagens na voz de Janet. Do abafado ao sussurrado, passando pelo distorcido, os vocais acrescentam muito às faixas. Em poucos momentos ouve-se a ‘‘Janet cover de Michael’’ de alguns anos atrás. Ela lembra uma jovem Diana Ross na dançante ‘‘Together Again’’.
O que há de mais interessante nas letras é a honestidade simples, que aparece em faixas como ‘‘Got Till It’s Gone’’, que tem participação do rapper Q-Tip, do grupo A Tribe Called Quest. ‘‘Fazer esse disco foi o maior desafio da minha vida’’, diz Janet. ‘‘Fui obrigada a lidar com coisas que não sabia que faziam parte do meu passado e aproveitei para reexaminar muitos aspectos de minha vida’’. Assim, a temática bissexual aparece na funkeada ‘‘Free Xone’’, em que ela fala de troca de casais sem separação por sexo. A ambiguidade aparece também no cover de ‘‘Tonight is the Night’’, de Rod Stewart, em que ela se sente à vontade cantando para uma garota.
Surpresas É claro que há momentos em que ela derrapa. ‘‘What About’’, por exemplo, é inexplicável: uma espécie de ‘‘They Don’t Really Care About Us’’, de Michael Jackson, falando sobre sexualidade. Ou ‘‘I Get Lonely’’, tipo r&b clichê.
Mas ‘‘The Velvet Rope’’ é uma surpresa principalmente por mostrar Janet de maneira convincente, sem apelar para a associação a produtores de rap em que Mariah investiu ou depender da overprodução dos DJs de house music. A cantora conseguiu fazer um disco com inovações sem deixar de ser comercial, o que para uma artista do calibre dela, dona de um dos contratos mais milionários da indústria, é um passo simpático.