Índio contesta o descobrimento
PUBLICAÇÃO
sexta-feira, 07 de maio de 1999
Nem todo mundo está embarcando nesse oba-oba que a Rede Globo está promovendo em cima dos 500 anos de descobrimento do Brasil. O professor Olívio Jekupé, descendente de índios Guaranis, é um dos que reforçam o time dos descontentes, resolveu demonstrar por escrito toda sua insatisfação através do livro 500 Anos de Angústia, que acaba de ser lançado. O protesto vem em forma de poemas que falam do cotidiano e da luta diária dos indígenas para preservar sua cultura e principalmente seu espaço territorial.
Esse é o terceiro livro de Jekupé que sai com uma tiragem de 300 exemplares. O custo total foi de R$ 600,00 saídos do próprio bolso do autor. 500 Anos de Angústia tem 54 páginas onde estão contidos versos ora singelos ora instigantes.
Nas entrelinhas, a revolta pelo descaso histórico dos brancos com os índios. Desde a chegada dos portugueses, os índios vivem em estado de sofrimento- afirma ele. Os índios já estavam aqui antes de os portugueses chegarem. Portanto, o Brasil não foi descoberto, foi invadido- complementa.
Jekupé, que estudou filosofia na Universidade de São Paulo (USP) e foi professor da Apeart em Londrina, mora atualmente na reserva indígena de Laranjinha, em Santa Amélia (a 63 quilômetros de Cornélio Procópio, na região Norte do Estado). De acordo com suas informações, antes da chegada dos portugueses havia cerca de 10 milhões de índios distribuídos em 1,2 mil nações e 1,2 mil línguas faladas.
De lá para cá, houve uma redução drástica. Ainda segundo Jekupé, atualmente há cerca de 350 mil índios em território brasileiro divididos em 215 nações e 180 línguas diferentes. E ainda tentam mostrar com muito oba-oba que o índio vive num paraíso- diz.
Os interessados em adquirir o livro 500 Anos de Angústia devem remeter um vale postal de R$ 12,00 para o seguinte endereço: Olívio Jekupe. Posto Indígena Laranjinha. Santa Amélia (Pr). Cep: 86.370.000
Um poema
Este País Já Foi Nosso
Brasil, ó terra querida
Do meu povo ela,
É muito amiga.
Só que agora esta terra
Já não pertence a nós
Porque fomos roubados.
Se esta terra estivesse
Ainda em nossas mãos,
Não haveria poluição,
Nem matas em destruição.
E os animais viveriam
Porque eles são bons.
Hoje a terra está nas mãos,
Dos brancos capitalistas
Só que eles não sabem
Viver como irmãos,
Por isto poucos são donos,
E muitos passam fome.Arquivo FolhaO professor Olívio Jekupé, da reserva Laranjinha, estudou Filosofia na USP e está lançando um livro de poemas para expressar a indignação pela situação dos índiosAntônio Mariano Júnior