Aos 80 anos, Harrison Ford ainda exala o mesmo carisma único. É pena que “A Reliquia do Destino/The Dial of Fate”, em lançamento mundial nesta quinta-feira (29), não saiba fazer jus aos seus dois heróis, Ford e Dr. Henry Jones, arqueólogo e aventureiro. O primeiro longa da saga Indiana Jones a não ser dirigido por Steven Spielberg, o filme mostra alguma inspiração em alguns momentos, mas serve como um triste testemunho de suas próprias deficiências. Encarregado da tarefa monumental de corresponder às expectativas de um legado imponente, o diretor James Mangold mostra-se razoavelmente engenhoso nas cenas de ação, mas possui apenas uma pequena dose da física inventiva e da astúcia de Spielberg, bem como aquele dom de nos deixar sem palavras. E falta – imperdoável!

Não há dúvida de que esta quinta aventura com o personagem se esforça para viver de acordo com seu DNA. Os ingredientes básicos estão lá: uma busca por artefatos enraizados na história, um toque de sobrenatural e vilões fascistas fáceis de odiar. Mas algo está errado com os cálculos feitos na prancheta. Para mexer em uma obra de ficção tão amada, seria preciso ter uma ideia muito clara e muito boa de como fazê-lo. Nesse caso, você pode sentir como os quatro roteiristas creditados se agarram à inspiração, mas acabam ficando aquém. O que eles conseguiram fazer seria perfeitamente bom se fosse um filme de aventura independente estrelado por algum outro personagem. Mas não é digno da tradição e atributos de Indy.

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A ação se passa no verão do pouso na Lua (1969), com um Indy solitário e bêbado dando aulas em Nova York e vivendo existência deprimente e isolada. Sua rotina é interrompida pela chegada de sua afilhada, Helena (Phoebe Waller-Bridge, a criadora de “Fleabag”), mulher astuta e espirituosa em busca de um artefato perdido, aparentemente obra de Arquimedes. Conhecemos seu falecido pai, Basil (Toby Jones) em um flashback no início do filme, que nos dá uma paisagem da Alemanha no final da Segunda Guerra Mundial, completa com caças e um trem em alta velocidade. Nessa parte do filme, eles envelheceram (ou “rejuvenesceram”), um efeito tão terrivelmente convincente quanto eticamente perturbador.

No novo filme, o Indy de Harrison Ford parece um cara mais velho que foi arrastado para um lugar ao qual não pertence
No novo filme, o Indy de Harrison Ford parece um cara mais velho que foi arrastado para um lugar ao qual não pertence | Foto: Divulgação

TESOURO

Indy logo se vê envolvido na busca pelo tesouro de Helena, perseguido por um amargurado cientista nazista chamado Voller (Madds Mikkelsen), que espera poder reparar sua própria derrota viajando no tempo. Há cenas em Manhattan, no Marrocos, debaixo d'água (realmente eu não precisava ver o mergulho de Indiana Jones) e na Sicília. Eles são discretamente divertidos, mas não excitam da mesma forma que suas antigas aventuras ainda o fazem.

Pelo menos Ford parece estar em forma razoável, mas eu gostaria que, pela primeira vez, um personagem recuperado ao longo dos anos em uma nova sequência não carregasse tanto peso de tristeza. Indy parece um cara mais velho que foi arrastado para um lugar ao qual não pertence, não se encaixando na vibe do filme. Se a franquia tiver prosseguimento (o que não é improvável), deixem o bom e velho Indy se divertir, se ainda estiver por aí. Ou melhor, e mais justo: que repouse no brilho da memória, convertida para sempre em ícone.