Idosos londrinenses participam de espetáculo italiano
O grupo italiano Imperfect Dancers Company criou um elenco de apoio em Londrina para apresentar balé sobre o Mal de Alzheimer
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terça-feira, 15 de outubro de 2019
O grupo italiano Imperfect Dancers Company criou um elenco de apoio em Londrina para apresentar balé sobre o Mal de Alzheimer
Marcos Roman - Grupo Folha
Acostumada a cantar em coros da cidade e em encontros informais na casa de amigos, Rosa Bárbara de Jesus viveu uma das maiores emoções de sua vida no último domingo (13). Ela foi convidada para interpretar a canção “Torna a Surriento” no início do espetáculo "Empty Floor", encenado pelo grupo italiano Imperfect Dancers Company no encerramento do 17º Festival de Dança de Londrina. Aplaudida em cena aberta, a cantora londrinense de 73 anos emocionou a plateia que lotou o Teatro Ouro Verde.
“Nos anos 1980 eu já havia subido ao palco do Ouro Verde para cantar no coro do maestro Othonio Bevenuto. Nunca imaginei que 30 anos depois me apresentaria cantando sozinha na abertura de um evento como esse”, resumiu. Bárbara fez parte de um elenco local de apoio formado por 11 idosos londrinenses convidados para participar do espetáculo que aborda o universo oculto e privado das pessoas que enfrentam o Mal de Alzheimer, jogando luz sob a dor e o constrangimento que a doença pode causar.
“Durante a primeira reunião que tivemos com o grupo no último sábado, brinquei com o diretor [Walter Matteini] dizendo que se ele bobeasse eu sairia cantando pelo palco. Ele gostou da ideia e acabou mudando o roteiro do espetáculo que normalmente traz o elenco de apoio apenas nas últimas cenas. Ele pediu que eu saísse de trás das cortinas cantando logo na abertura, antes dos bailarinos entrarem no palco”, diz Bárbara ao comentar que aprendeu canto lírico aos 17 anos, quando estudava em um convento.
O biólogo, ator e diretor teatral Cláudio Muller também participou da cena inicial juntamente com Bárbara. “Saí da sala de iluminação e cruzei toda a plateia do teatro até chegar ao palco para reverenciá-la. Foi uma experiência muito legal. Também foi emocionante fazer uma cena completa com a dançarina principal da companhia, Ina Broeckx, que na Europa é considerada no mesmo nível profissional de Pina Bausch”, afirma.
A montagem italiana também foi responsável pelo retorno ao palco do artista plástico Júlio Gentil aos 87 anos. “Eu já havia participado de grupos de teatro décadas atrás. Foi bom voltar à cena. A gente que está acostumado ver o palco da plateia vive uma experiência totalmente diferente ao inverter essa dinâmica, ainda mais para participar de um grupo tão experiente como esse”, salienta.
O espetáculo “Empty Floor” foi criado originalmente para arrecadar fundos para a luta contra o Alzheimer. Em parceria com a Associação Italiana de Alzheimer (A.I.M.A), a montagem ganhou uma dimensão ainda maior e passou a colaborar com associações ou instituições de acolhimento de idosos dos locais por onde passa. Em Londrina, organização do Festival de Dança convidou pessoas que já tinham alguma ligação com movimentos artísticos da cidade para participar do elenco de apoio do espetáculo do grupo europeu. No palco, juntamente com os bailarinos da companhia, os atores convidados participam da apresentação tornando-se verdadeiros artistas que mostram seus sentimentos, medos e alegrias.
Festival atraiu público de 12 mil espectadores
Após 11 dias de uma extensa e diversificada programação artística a 17ª edição do Festival de Dança de Londrina chegou ao fim no último domingo (13). Foram 14 espetáculos de dança, performance e teatro (sendo três internacionais), seis oficinas e duas atividades paralelas que levaram cerca de 12 mil espectadores aos palcos do Teatro Ouro Verde, Divisão de Artes Cênicas da Casa de Cultura da UEL, Bar Valentino e Zerão. Além disso, o evento reuniu mais de 150 profissionais da arte como bailarinos, atores, técnicos, diretores e coreógrafos que trabalharam em conjunto à equipe técnica e produção do Festival.
Em 2019, o Festival de Dança trouxe como tema norteador “Potências incendiárias”. Não só o conjunto de espetáculos, mas também imagens e textos lançados pela curadoria na revista e no site, convidaram o público o pensar o território de conflitos sociopolíticos em que se transformou o país e nos incêndios reais e metafóricos que consomem patrimônios materiais e imateriais, vidas e a própria história. Com curadoria assinada por Danieli Pereira e Renato Forin Jr., o evento reafirmou a urgência da arte como lugar de reconquista da empatia, do diálogo, do respeito, da liberdade de expressão, das garantias democráticas.
“Como nunca, sentimos o abraço do público de Londrina e de pessoas que vieram de fora para aproveitar os espetáculos e a oficinas a preços populares. Sentimos a paixão, o desejo e a necessidade da arte nestes tempos em que estamos tão desapegados e segregados. Graças às leis municipal e estadual de incentivo, além do apoio da Copel e de antigos parceiros, pudemos realizar nossa maior edição até aqui e jamais poderemos mensurar o impacto que as ações do Festival têm, em termos reais e simbólicos, na vida de tantas pessoas. Acreditamos e continuaremos acreditando na potência transformadora da arte”, explica a coordenadora geral Danieli Pereira.
Extensão em dezembro
A programação do 17º Festival de Dança prossegue com uma Extensão Especial no Aniversário de Londrina em meados do mês de dezembro. Já está confirmada para o dia 12 de dezembro a participação do incensado Odin Teatret (Dinamarca), com a presença de Eugênio Barba e da atriz Julia Varley, que apresentarão um espetáculo/demonstração de trabalho, e irão realizar uma masterclass em que vão comentar a exibição de um filme sobre o grupo, que completa 55 anos de trajetória. A programação de extensão também contará com a apresentação de grupos locais, cujo edital de seleção deve ser aberto em breve no site oficial do Festival