Mariza Marchetti sempre se imaginou fazendo novela. E nem as inúmeras negativas que recebeu abalaram esta convicção. Finalmente, aos 30 anos, ela foi aprovada no teste para atuar no primeiro folhetim de sua carreira como a Dra. Márcia, em "Flor do Caribe". Antes disso, no entanto, precisou lidar com outros percalços, demonstrando ainda mais sua obstinação.
Com 20 peças no currículo, há três anos a atriz decidiu mudar-se de São Paulo para o Rio de Janeiro com o objetivo de investir em televisão. No início, morou, durante dois meses, em um albergue. "Dormia com 12 pessoas no quarto, um monte de argentinos falando alto de madrugada...", recorda.
Acostumada a fazer publicidade, Mariza teve sua primeira oportunidade na tevê como atriz através de uma participação em "Máscaras", da Record, na pele de uma ginecologista. "A Márcia é a primeira personagem que faço do início ao fim de uma novela. Nossa, é um orgulho ver meu nome na abertura", vibra.
Mas, para conseguir estudar interpretação, Mariza precisou atender a um pedido do pai. Ele só pagaria um curso de Teatro para a filha caso ela ingressasse em alguma faculdade. Decidida, resolveu prestar vestibular para Direito. "Pensei que, se a carreira artística não desse certo, eu poderia 'atuar' nos tribunais", diverte-se.
Quando já estava na faculdade, Mariza deu início às aulas de teatro em São Paulo, onde morava na época. Fez cursos como Fátima Toledo, Beto Silveira e Actors Studio. E, aos domingos, estudava em outro curso no Rio de Janeiro. Como não tinha dinheiro para se hospedar na cidade, pegava um ônibus sábado para chegar na manhã seguinte e voltar à noite. "Eu não tinha mais final de semana. Foram dois anos assim", revela ela, que chegou a se formar em Direito.
Agora, Mariza canaliza sua energia para a construção de sua personagem em "Flor do Caribe". Como, na trama, Márcia é médica, a atriz se preocupou em aprender a se portar como tal e a manusear os instrumentos da profissão, como o estetoscópio.
Para isso, contou com a ajuda de um ator que também é médico, que conheceu em um curso de teatro. "O Dr. Peterson escreveu e fez os desenhos dos procedimentos. Conforme recebo as cenas, vejo o que preciso fazer", explica ela, que gosta de entender o passo a passo do atendimento de um médico dependendo do estado do paciente.
Durante a sequência em que Juliano, papel de Bruno Gissoni, foi examinado pela Dra. Márcia após ter batido a cabeça, Mariza sabia que a primeira coisa a fazer era olhar as pupilas. E nem sempre esse tipo de detalhe recebe atenção durante as gravações. "Decidi levar aquela luz para examinar pupila porque não tinha lá", conta.
Antes do início das gravações, Mariza participou de um workshop para conhecer a história da novela e entender o que o diretor Jayme Monjardim esperava do elenco. "Ele foca muito no olhar do ator", destaca. E o trabalho de preparação continua ao longo do folhetim. Toda dia antes de entrar no estúdio, ela conta com o auxílio da preparadora de atores Rossela Terranova. "A gente vai em uma salinha e ela passa o texto, vê a entonação, o que está bom, o que não está...", lista Mariza, que esquece ser tímida quando está na pele de alguma personagem. "Posso virar cambalhota, usar um cabelo verde, todo para cima porque não sou eu. Ser atriz é viver várias vidas em uma só", define.