Celso Mattos
De Londrina
Narrado em tom de comédia fina, ‘‘Amor & Cia’’ é uma adaptação livre do romance ‘‘Alves & Cia’’, de Eça de Queiroz. Dirigido por Helvécio Ratton, o filme tem a preocupação de emocionar e manter um diálogo com o público. O cineasta usa a câmera como elemento eficaz e objetivo para captar os confusos sentimentos de Alves (Marco Nanini) diante do eventual adultério da esposa, Ludovina (Patrícia Pilar), com o sócio dele, Machado (Alexandre Borges).
Essa história de amor, traição e orgulho, ambientada no final do século passado e que tem como cenário a cidade de São João Del Rey (MG), envolve o espectador com uma narrativa bem-humorada que flui de forma suave. Marco Nanini é Godofredo Alves, um rico comerciante que vê seu mundo ruir ao flagrar sua bela e jovem mulher, Ludovina, nos braços de seu sócio Machado. O que alimenta a comicidade refinada do filme é a dúvida que paira no ar: será que a traição chegou a ser consumada ou não? ‘‘Amor & Cia’’ é como um bom romance: assiste-se com prazer, e a vontade é de revê-lo para melhor reparar em cada delicioso detalhe.
O filme foi o grande vencedor do Festival de Brasília/99, levando os Candangos de melhor filme, atriz (Patrícia Pilar), direção de arte e cenografia. A melhor forma de homenagear um autor da grandeza de Eça de Queiroz é fazer um bom filme a partir de sua obra e ‘‘Amor & Cia’’ consegue isso com muita competência, respeitando o talento, o humor sutil e a elegância de estilo de Eça. Outro ponto alto da fita é a trilha sonora composta por Tavinho Moura, que mistura instrumentos populares e orquestrais.
A história de um homem que encontra a esposa nos braços do sócio pode até parecer muito batida, mas a forma como Eça de Queiroz escreveu e Hevélcio Ratton filmou ‘‘Amor & Cia’’, transforma um fato comum numa crítica ao comportamento da pequena burguesia. Faz rir ao mesmo tempo em que critica a sociedade que observa. É um filme bem produzido e com um elenco que valoriza o texto do escritor português. A direção de arte de Clóvis Bueno é um mistura das culturas portuguesa, francesa e mineira. Lançamento da Filmark. Duração: 100 minutos.