Los Angeles (EUA) - Na mesma semana em que Harvey Weinstein, um dos produtores mais poderosos de Hollywood, foi condenado por estupro, uma nova versão de "O Homem Invisível" chega aos cinemas subvertendo o clássico de H. G. Wells em uma história sobre abusos e relacionamentos tóxicos.

"O caso [de Weinstein] surgiu quando já estava escrevendo o roteiro, e nunca analiso o texto durante o processo. Vomito as páginas e deixo o subconsciente comandar", explica o diretor e roteirista Leigh Whannell. "Pensei apenas como seria a melhor maneira de contar uma história tensa e assustadora. E a resposta foi sob o ponto de vista da vítima."

A vítima, no caso, é Cecilia Kass (Elisabeth Moss), uma arquiteta que vive um relacionamento tóxico com o namorado, Adrian Griffin (Oliver Jackson-Cohen), um milionário da indústria de tecnologia. Depois de aguentar vários abusos e não conseguir mais diminuir a depressão e a paranoia com remédios, ela foge.

Tentando se recuperar do trauma, Cecilia recebe a notícia de que o companheiro se matou depois do episódio e deixou uma fortuna para ela. O problema é que Griffin não morreu: ele criou um traje que o torna invisível e decide infernizar a vida da ex-namorada.

“O Homem Invisível” traz uma abordagem da ansiedade contemporânea através de  um personagem que pode seguir e perseguir sua presa graças à tecnologia
“O Homem Invisível” traz uma abordagem da ansiedade contemporânea através de um personagem que pode seguir e perseguir sua presa graças à tecnologia | Foto: Reprodução

Ninguém parece acreditar nas alegações da arquiteta, que diz estar sendo perseguida - uma metáfora poderosa sobre as mulheres vítimas de abuso que têm suas histórias questionadas. "Adrian é um personagem pesado, mesmo quando não está presente na tela", diz Whannell. "Ele é um completo narcisista, como muitos políticos da nossa época. São pessoas charmosas, mas obcecadas por controle."

O controle assume a forma da tecnologia. Com um celular, um homem invisível pode observar, seguir e descobrir os hábitos de uma presa. "Queria falar sobre essas ansiedades modernas. Se alguém quiser te encontrar, tem mil maneiras de fazer isso. A tecnologia capacita o bullying e a intimidação", explica o diretor.

Apesar de se passar em San Francisco, "O Homem Invisível" foi filmado na Austrália em 40 dias e sob um orçamento pequeno. O longa representa um caminho diferente para as ideias megalômanas da Universal em recriar seus monstros clássicos: há pouca relação da nova obra com o filme de 1933.

Na  primeira versão, de 1933,  foi muito difícil fazer o filme, a começar pelo truque de segurar a roupa do personagem invisível
Na primeira versão, de 1933, foi muito difícil fazer o filme, a começar pelo truque de segurar a roupa do personagem invisível | Foto: Reprodução

"A mitologia de 'O Homem Invisível' está bem inserida na cultura pop, então é como lidar com o Drácula, que pode ser inserido em qualquer gênero", afirma Whannell, que apresentou ao estúdio sua ideia de fazer um terror moderno usando o protagonista apenas como "pano de fundo" de uma trama para os tempos de #MeToo. "Parecia que eu estava forçando a barra para que recusassem o projeto", brinca. "Mas me deram total liberdade."

Isso significa que o estúdio não o forçou a inserir participações especiais de personagens ou qualquer referência à franquia Dark Universe, que a Universal tentou criar com "A Múmia", de 2017. "Não tem nada disso, é uma história completa. Ninguém me pediu para colocar uma aparição do Dr. Jekyll. É um filme isolado."

A ideia, aparentemente, funcionou. "O Homem Invisível" está com projeções de bilheteria em torno dos US$ 25 milhões (R$ 109 milhões) para o fim de semana de estreia. Por causa do baixo custo, o projeto pode ser o grande terror desde "It: Capítulo Dois". "Não penso em sequências. Odeio filmes que terminam com ganchos. Gosto de ir para o cinema para ver começo, meio e fim. Cinema não é TV", diz o diretor.