Tenho meus colunistas favoritos. Inicio a leitura de jornais e revistas por eles – e elas. Costumo até identificar os dias da semana com a publicação de seus textos. Sei que sábado é sábado porque tem José Eduardo Agualusa n’O Globo, assim como uma boa quarta-feira sempre traz Fernanda Torres na Folha de S. Paulo.

Por que estou me referindo a isso? Ando pensando na importância do cultivo de nossos hábitos e costumes. Esta coluna – A Cidade Futura –, eu a escrevo às terças de manhã, religiosamente. Criei o hábito de tomar um café, ligar o notebook, abrir o editor de textos, o dicionário e o navegador de internet e, em seguida, começar a traçar estas linhas. Sei, por exemplo, na segunda-feira à noite, que tenho compromisso inalterável na manhã seguinte. Durmo com essa certeza. Com o tempo, isso passou a fazer parte de mim. É um momento da minha semana, como tantos outros que devemos aprender a observar com mais calma e cuidado.

Não quero dizer com isso que devemos nos robotizar. Engessar demais os dias pode ser sinal de que a vida não vai bem, nada de interessante acontece, não há margens para o não pensado, o surpreendente. Desejo tão somente frisar o sabor que as coisas têm quando são de fato postas à luz, quando nossos projetos funcionam e ganham corpo, quando a existência passa a ser mensurada por nossas melhores realizações. Se pudermos alimentar hábitos e costumes que nos tragam satisfação, o que pode haver de melhor?

Gosto de prever meus passos. Tenho pouco interesse por improvisos e detesto ser surpreendido por necessidades que me façam alterar algo agendado ou combinado. Penso no tema dessas colunas, por exemplo, ao longo de toda a semana; faço anotações, cruzo informações, pesquiso nomes, lugares e datas. No momento em que me sento para escrevê-las (às terças pela manhã, como dito), tudo está à mão: é só juntar as partes, dar forma ao texto e burilá-lo, que é a parte mais gostosa do trabalho.

Hábitos e costumes não são manias. As manias tendem a atropelar os acontecimentos, atrapalhá-los. Como são incontroláveis, as manias podem estragar planos e melar acordos. Devemos tomar conta para que não nos tornemos obsessivos – as manias têm essa predisposição ao infinito, a nos obrigarem a fazer tudo de errado nas horas mais erradas ainda.

Por causa dessa mania (brincadeira!) de incentivar hábitos e costumes, não vivo sem agendas. Perco-me entre afazeres e compromissos, se não tiver tudo anotado, relacionado, esmiuçado. Não abro mão, também, da agenda eletrônica do telefone celular: suaves campainhas recordam que é hora de começar algo novo.

Os hábitos e costumes, enfim, podem ajudar numa vida mais produtiva, menos ansiosa. Quando tudo fica ao sabor do deus-dará, algo fora de controle sempre pode nos entristecer, pegando-nos de calças curtas. Cultivar (amo esse verbo!) bons hábitos – e costumes – significa, acima de tudo, ter apreço por bons momentos, não permitindo que a vida seja desperdiçada.

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A opinião do colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina.

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