Demi Moore precisava de um sucesso. Após três fracassos seguidos (A Letra Escarlate, A Jurada e Striptease), a esposa de Bruce (Duro de Matar) Willis resolveu produzir e estrelar um filme que exigisse mais de seu talento físico do que de seus dotes artísticos. Com direção de Ridley (Blade Runner) Scott, ‘‘Até o Limite da Honra’’ (G.I. Jane - EUA 1997), teve três mudanças de título e seu lançamento americano adiado por duas vezes. Para surpresa de todos, inclusive da Disney, produtora do filme, o último trabalho de Demi Moore, a atriz mais cara de Hollywood (cachê de 12 milhões de dólares), não fez tão feio assim nas bilheterias e a crítica em geral não foi tão negativa, como de costume.
Demi é a oficial Jordan O’Neil, funcionária do serviço de inteligência da Marinha americana. Por meio de uma manobra da senadora DeHaven (Anne Bancroft), O’Neil torna-se a primeira mulher a ingressar no seletíssimo e masculino grupo de treinamento da elite da Marinha, os ‘‘Navy SEALs’’.
Ridley Scott, um diretor que sabe trabalhar bem as imagens, montou um espetáculo visual convincente, porém, sem muita inspiração. Em muitas sequências, ‘‘Até o Limite da Honra’’, parece um filme publicitário das Forças Armadas.
Preconceitos O filme começa dando a impressão que irá mostrar as desigualdades cruéis que existem contra a mulher e provar que elas são tão capazes quanto os homens. A oficial O’Neil inicia seu treinamento, feito sob a supervisão do sádico instrutor Urgayle (Viggo Mortensen) e sofre todo o tipo de humilhação possível. Apesar de tudo isso, ela tem um tratamento diferenciado por ser mulher. A partir de um certo ponto, O’Neil rebela-se contra seus superiores e exige as mesmas condições dadas aos homens do batalhão. Começa aí o ponto negativo do filme.
Para provar que é tão boa quanto seus companheiros, a mulher O’Neil começa aos poucos a se transformar em um homem: raspa a cabeça, passa a dividir o alojamento e o banheiro com os colegas e no final do dia, junta-se a eles no barzinho para tomar uma cerveja. A impressão que fica é que uma mulher precisa tornar-se homem para vencer em um mundo masculino. Uma maneira maniqueísta demais para mostrar que somos todos iguais.
Apesar de todos os defeitos, ‘‘Até o Limite da Honra’’ consegue prender a atenção durante suas duas horas de projeção. A grande maioria das personagens é psicologicamente rasa, somente três se sobressaem: a própria O’Neil, que apesar do intenso desempenho físico de Demi Moore, tem um forte motivo que a move a ir em frente; o instrutor Urgayle, carrasco e poético, um ambíguo na medida certa e a senadora DeHaven, uma interpretação luminosa de Anne Bancroft.
(M.M.)
• Até o Limite da Honra (G.I. Jane - EUA 1997). Direção: Ridley Scott. Elenco: Demi Moore, Viggo Mortensen, Anne Bancroft, Jason Beghe e Scott Wilson. Duração: 124 minutos.