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LEITURA 5m de leitura

George Orwell e o humano poder dos animais

“A Fazenda dos Animais”, obra clássica do autor também conhecida como “A Revolução dos Bichos”, ganha nova edição atualizada que chega às livrarias no dia 10 de novembro

ATUALIZAÇÃO
27 de outubro de 2020

Marcos Losnak
AUTOR

Segundo a lenda, o escritor George Orwell teve a ideia de escrever o clássico “Animal Farm” após ver um menino cobrindo de chicotadas um cavalo em processo de adestramento. A cena o impulsionou a pensar sobre a condição dos animais. Naquela tarde de maio de 1949, chegou à seguinte constatação: “Percebi que, se aqueles animais adquirissem consciência de sua força, não teríamos o menor poder sobre eles, e que os animais são explorados pelos homens de modo muito semelhante à maneira como o proletariado é explorado pelos ricos.”

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A partir dessa constatação, George Orwell decidiu analisar a teoria de Karl Marx (1818 – 1883) do ponto de vista dos animais: “Para os animais o conceito de luta de classes entre os seres humanos era pura ilusão, pois sempre que fosse necessário explorar os animais os seres humanos se uniriam contra eles: a verdadeira luta se dava entre os bichos e as pessoas. A partir deste ponto, não foi difícil elaborar o enredo.”

Orwell ruminou a ideia ao longo dos anos e somente em 1943 escreveu “Animal Farm” com o subtítulo de “A Fairy Story” (literalmente “Fazenda de Animais: Um Conto de Fadas”). Publicar o livro foi complicado. Nenhuma grande editora européia, ou americana, aceitou lançar o romance. A primeira edição só apareceu em 1945, lançada por uma minúscula editora.

Por fazer uma sátira ferina ao regime soviético, ninguém via com bons olhos criticar o governo de Josef Stalin (1878 – 1953) justamente num momento em que a União Soviética combatia o exército alemão de Hitler ajudando a Europa a se livrar do nazismo. Os militares norte-americanos, que ocuparam a Alemanha logo no final da Segunda Guerra Mundial, chegaram a queimar a primeira edição de “Animal Farm” com medo de que a distribuição da obra ofendesse o Exército Vermelho, o grande aliado.

Curiosamente, os mesmos militares norte-americanos que queimaram a obra, posteriormente, com a Guerra Fria nas décadas e 1950 e 1960, passaram a divulgá-la e distribuí-la como instrumento anticomunista de combate ao governo soviético.

“Animal Farm” recebeu várias edições no Brasil, sempre com o título de “A Revolução dos Bichos”. Agora a editora Companhia das Letras está lançando uma nova edição que resgata o título original “A Fazenda dos Animais”. O livro chega às livrarias no próximo dia 10 de novembro. Nomeada e “edição especial”, traz, além de nova tradução, ilustrações e fortuna crítica com ensaios de diferentes autores escritos em diferentes épocas sobre o clássico.

A história narrada por Orwell em “A Fazenda dos Animais” (ou “A Revolução dos Bichos”) é amplamente conhecida. Traz a aventura dos animais domésticos de uma fazenda que, cansados de serem oprimidos e maltratados pelo dono da propriedade, decidem fazer uma revolução. Resolvem tomar o poder.

Expulsando o proprietário do lugar, os bichos começam a instaurar uma sociedade justa, cooperativa e igualitária, onde todos os animais são iguais e possuem os mesmos direitos. Mas não demora muito para que alguns animais comecem a buscar poder e privilégio acima dos outros. Os porcos. Assumindo o comando da fazenda, aos poucos instalam um novo regime de opressão, fascismo e totalitarismo, semelhante ao dos humanos.

Com o passar das décadas, a leitura de “A Fazenda dos Animais” foi se modificando, mas se manteve como fábula sobre o poder. E sobre as garras dos regimes totalitários. Sejam governos de extrema esquerda ou de extrema direita. O leitor brasileiro dos tempos atuais, fatalmente será impelido a identificar as ações dos porcos da fábula com a realidade atual do país envolvendo a manipulação da realidade através de por fake news, mentiras, pós-verdade e revisionismo histórico.

Apesar de cidadão inglês, Geoge Orwell nasceu em solo indiano em 1903. Batizado com o nome de Eric Arthur Blair, era filho de pais ingleses que trabalhavam na colônia britânica da Índia. Militante antifascismo e antitotalitarismo, desde a juventude se dedicou em retratar a vida cotidiana de comunidades pobres através do jornalismo. Publicou volumes de ensaios, poesias, jornalismo, romances e contos. Faleceu de tuberculose em 1950, aos 46 anos de idade. É autor de outro clássico, “1984” (“Nineteen Eighty-Four”), um dos grandes romances distópicos do século 20 ao lado de “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley, e “Fahrenheit 451”, de Ray Bradbury.

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Serviço:

“A Fazenda dos Animais”

Autor – George Orwell

Editora – Companhia das Letras

Organização – Marcelo Pen

Tradução – Paulo Henriques Britto

Ilustrações – Vânia Mignone

Páginas – 248 (capa dura)

Quanto – R$ 89,90 e R$ 39,90 (e-book)

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