Segundo a lenda, o escritor George Orwell teve a ideia de escrever o clássico “Animal Farm” após ver um menino cobrindo de chicotadas um cavalo em processo de adestramento. A cena o impulsionou a pensar sobre a condição dos animais. Naquela tarde de maio de 1949, chegou à seguinte constatação: “Percebi que, se aqueles animais adquirissem consciência de sua força, não teríamos o menor poder sobre eles, e que os animais são explorados pelos homens de modo muito semelhante à maneira como o proletariado é explorado pelos ricos.”

.
. | Foto: Reprodução

A partir dessa constatação, George Orwell decidiu analisar a teoria de Karl Marx (1818 – 1883) do ponto de vista dos animais: “Para os animais o conceito de luta de classes entre os seres humanos era pura ilusão, pois sempre que fosse necessário explorar os animais os seres humanos se uniriam contra eles: a verdadeira luta se dava entre os bichos e as pessoas. A partir deste ponto, não foi difícil elaborar o enredo.”

Orwell ruminou a ideia ao longo dos anos e somente em 1943 escreveu “Animal Farm” com o subtítulo de “A Fairy Story” (literalmente “Fazenda de Animais: Um Conto de Fadas”). Publicar o livro foi complicado. Nenhuma grande editora européia, ou americana, aceitou lançar o romance. A primeira edição só apareceu em 1945, lançada por uma minúscula editora.

Por fazer uma sátira ferina ao regime soviético, ninguém via com bons olhos criticar o governo de Josef Stalin (1878 – 1953) justamente num momento em que a União Soviética combatia o exército alemão de Hitler ajudando a Europa a se livrar do nazismo. Os militares norte-americanos, que ocuparam a Alemanha logo no final da Segunda Guerra Mundial, chegaram a queimar a primeira edição de “Animal Farm” com medo de que a distribuição da obra ofendesse o Exército Vermelho, o grande aliado.

Curiosamente, os mesmos militares norte-americanos que queimaram a obra, posteriormente, com a Guerra Fria nas décadas e 1950 e 1960, passaram a divulgá-la e distribuí-la como instrumento anticomunista de combate ao governo soviético.

“Animal Farm” recebeu várias edições no Brasil, sempre com o título de “A Revolução dos Bichos”. Agora a editora Companhia das Letras está lançando uma nova edição que resgata o título original “A Fazenda dos Animais”. O livro chega às livrarias no próximo dia 10 de novembro. Nomeada e “edição especial”, traz, além de nova tradução, ilustrações e fortuna crítica com ensaios de diferentes autores escritos em diferentes épocas sobre o clássico.

A história narrada por Orwell em “A Fazenda dos Animais” (ou “A Revolução dos Bichos”) é amplamente conhecida. Traz a aventura dos animais domésticos de uma fazenda que, cansados de serem oprimidos e maltratados pelo dono da propriedade, decidem fazer uma revolução. Resolvem tomar o poder.

Expulsando o proprietário do lugar, os bichos começam a instaurar uma sociedade justa, cooperativa e igualitária, onde todos os animais são iguais e possuem os mesmos direitos. Mas não demora muito para que alguns animais comecem a buscar poder e privilégio acima dos outros. Os porcos. Assumindo o comando da fazenda, aos poucos instalam um novo regime de opressão, fascismo e totalitarismo, semelhante ao dos humanos.

Com o passar das décadas, a leitura de “A Fazenda dos Animais” foi se modificando, mas se manteve como fábula sobre o poder. E sobre as garras dos regimes totalitários. Sejam governos de extrema esquerda ou de extrema direita. O leitor brasileiro dos tempos atuais, fatalmente será impelido a identificar as ações dos porcos da fábula com a realidade atual do país envolvendo a manipulação da realidade através de por fake news, mentiras, pós-verdade e revisionismo histórico.

Apesar de cidadão inglês, Geoge Orwell nasceu em solo indiano em 1903. Batizado com o nome de Eric Arthur Blair, era filho de pais ingleses que trabalhavam na colônia britânica da Índia. Militante antifascismo e antitotalitarismo, desde a juventude se dedicou em retratar a vida cotidiana de comunidades pobres através do jornalismo. Publicou volumes de ensaios, poesias, jornalismo, romances e contos. Faleceu de tuberculose em 1950, aos 46 anos de idade. É autor de outro clássico, “1984” (“Nineteen Eighty-Four”), um dos grandes romances distópicos do século 20 ao lado de “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley, e “Fahrenheit 451”, de Ray Bradbury.

.
. | Foto: Reprodução

Serviço:

“A Fazenda dos Animais”

Autor – George Orwell

Editora – Companhia das Letras

Organização – Marcelo Pen

Tradução – Paulo Henriques Britto

Ilustrações – Vânia Mignone

Páginas – 248 (capa dura)

Quanto – R$ 89,90 e R$ 39,90 (e-book)