O perfil solidário sempre esteve associado à Galeria Bahiarte, dadas as causas que abraçou. Humana, engajada e alinhada com a produção artística global, nesses 48 anos o espaço celebra o que construiu - seu nome, uma história partilhada por um número incontável de artistas e a oportunidade de o público se encantar com trabalhos tão cortejados pelo ineditismo como pela inquietude artística. O respeito à arte e o prestígio àqueles que assinam as obras é só uma consequência de um ofício sério, carregado de discernimento e boa dose de perspicácia. À frente da unidade, a galerista Ana Barreto, que em 1973 inaugurou sua primeira exposição. "Foi com a cara e a coragem", enfatiza. "Recém-casada com um médico que me deu todo o apoio fui à procura de artistas famosos para trazer para a galeria. No Brasil, naquela época, as barreiras eram grandes", lembra.

A partir de então, Ana Barreto começou a trazer para a cidade do interior do Paraná grandes nomes da pintura nacional, ao criar a primeira galeria de arte de Londrina - e está no mesmo endereço há 29 anos. Contemporânea, a galeria que sempre esteve presente na cidade alcança muitas pessoas. Diante da pandemia causada pelo Covid-19 e a necessidade de isolamento social, a marchand sentiu a importância da inserção no universo online. "Somos conhecidos nacionalmente e vimos que seria uma outra possibilidade para todos - artistas e amantes da arte. Dessa forma, podemos conectar as obras e os artistas a um número ainda maior de pessoas. A galeria também é sua: pode entrar", convida em seu site.

Barreto recorda de modo saudoso e com entusiamo, a empreitada de 73. "Lembro-me que Londrina tinha apenas 38 anos e sede de arte. "Essa baiana chegou a Londrina muito ousada, corajosa e resolveu abrir uma galeria de arte - a primeira de interior do estado", brinca. Recorda também a galerista que em um jantar teve a oportunidade de contar a João Milanez, fundador da Folha de Londrina e à época o administrador do jornal impresso, que a incentivou. "Ele disse que daria um ano de propaganda de cortesia e honrou a palavra", narra. "A imprensa sempre apoiou a Bahiarte e tenho o reconhecimento desse respaldo até os dias de hoje", reflete.

Com disposição e ânimo contagiantes, Barreto procurou e conseguiu convencer pintores famosos da importância de trazerem seus trabalhos para o interior e não apenas nas capitais. "É uma honra e uma felicidade trabalhar com essa galeria em que permanecem intactos os únicos legítimos da humanidade”, descreveu Enrico Bianco, artista que tinha atelier com Cândido Portinari quando conheceu Ana Barreto.

Ana Maria Barreto com escultura do cearense Sérvulo Esmeraldo
Ana Maria Barreto com escultura do cearense Sérvulo Esmeraldo | Foto: Walkiria Vieira - Grupo Folha

Com sensibilidade, Barreto planeja celebrar os 48 anos de atividade da casa com uma campanha: "Redescubra a Arte na Galeria Bahiarte e a proposta traz cinco atrativos: uma mini exposição com duração de duas a sete horas, com proposta online e presencial; doação de uma compoteira de cocada de coco verde de Donana com o doce de coco - o objeto de desejo é largamente cobiçado entre os amigos e frequentadores da galeria e o doce é feito pela própria Ana, como ela explica.

A programação contará também com duas tardes com um desconto de 50% nas gravuras que serão mostradas. Nesse período de praticamente meio século, muitas instituições foram beneficiadas pelo altruísmo da Bahiarte. Reforma de cozinhas e banheiros de creches, casas de atendimento a idosos, ampliação de Unidades de Terapia Intensiva de hospitais infantis e centros especializados a atendimentos a portadores de Aids. "Nunca quis aparecer, tirar foto ou me destacar por isso, pois a solidariedade é para mim um ato de gratidão e o meu sentimento é o de realização."

Além das ações citadas durante a campanha, Barreto antecipa que todos os que comprarem na galeria doarão - se quiserem, artigos de limpeza que serão distribuídos entre entidades; haverá ainda distribuição de livros de arte para os compradores de quadros e gravuras e todos os clientes receberão uma rosa com uma mensagem sobre compaixão. "Eu tive Covid-19, ainda estou me recuperando e sei que já perdemos muitas pessoas, infelizmente. Acredito que a arte tenha esse poder de tocar as pessoas e meu objetivo é continuar difundindo a arte a apoiando creches, asilos, hospitais, associações de deficientes e escolas.

Nomes como Aldemir Martins, Burle Max, Candido Portinari, Gisele Ulisse, Gustavo Rosa, Henri Machado, Juarez Carrier. Sergio Ferro, Sergio Telles, Kazuo Wakabayashi, só para citar. Gravuras, telas, esculturas, adornos, antiguidades, tapetes orientais e roupas compõem o mix da Galeria Bahiarte. "Culturalmente, eu sei do meu papel para a cidade, região e para os artistas e seus prestigiadores. "É sempre uma alegria observar o encontro entre o artista e quem o admira, vê-los conversar pessoalmente é enriquecedor e sei que criei uma escada nesse universo".

Serviço:

Exposição de 48 anos da Galeria Bahiarte

Quando: Início 26 de março (data passível de mudança devido à pandemia)

Onde: online e presencial - R. Espírito Santo, 1701 - Centro, Londrina - Telefone: (43) 3324-4707

Quanto: gratuita