Gal Gadot e o embranquecimento de personagens
A atriz israelense foi selecionada para ser a protagonista de um longa sobre a Cleópatra, uma rainha africana
PUBLICAÇÃO
domingo, 25 de outubro de 2020
A atriz israelense foi selecionada para ser a protagonista de um longa sobre a Cleópatra, uma rainha africana
*Tamiris Santos/ Estagiária
“Whitewashing” é uma palavra de língua inglesa e significa branqueamento. O termo tem sido usado recentemente para se referir à escolha de atores e atrizes brancas para personagens de outras etnias. A polêmica mais recente envolvendo o termo envolve a atriz de a “Mulher Maravilha”, Gal Gadot.
A artista israelense foi selecionada para ser a protagonista do clássico de 1963, “Cleópatra”, que já teve Elizabeth Taylor no papel. A notícia gerou críticas imediatas do público, já que Gal Gadot é branca e não tem origem africana. As críticas também trouxeram à tona um debate histórico sobre a ancestralidade e tipo físico da rainha do Egito, que pode ter sido branca por ter descendência grega.
Apesar das controvérsias, a escolha de pessoas brancas para papéis de outras raças não é nada nova. O próprio Jesus Cristo sempre foi representado como um homem branco, de cabelos lisos e olhos claros, quando historicamente sua pele teria sido escura e seus traços seriam outros.
Nas produções cinematográficas de Hollywood, exemplos de “whitewashing” não faltam. Em “A Vigilante do Amanhã: Got in the Shell”, a personagem principal Major Motoko Kusanagi, uma ciborgue de origem oriental, que vive em uma cidade japonesa, foi interpretada por uma mulher branca e loira, a atriz Scarlett Johansson.
No filme "Nina" que conta a história da cantora negra Nina Simone, a atriz Zoe Saldana que a interpretou precisou usar prótese no nariz e escurecer a pele com maquiagem. Se era necessário modificações físicas na atriz, por que não selecionar alguém com mais semelhanças? A resposta mais uma vez é racismo.
As principais justificativas quando acontecem situações de branqueamento em produções é a preocupação com a bilheteria. Como bem diz, Sílvio de Almeida em seu livro “O que é racismo estrutural?”, as instituições são racistas porque a sociedade é racista.
A bandeira por mais representatividade nas telas de cinema e também na televisão é recente, mas tem avançado. E a bilheteria do longa “Pantera Negra” pode provar que colocar atores e atrizes negras em maior número nas produções nem de longe deve interferir nos lucros da indústria do cinema, já que a produção superou em bilheteria até mesmo “Os Vingadores”, chegando a arrecadar US$ 630,9 milhões.
Supervisão: Célia Musilli
Editora da Folha 2