Françoise Dorléac, que teve a carreira interrompida aos 25 anos, é um dos destaques da fita2/Mar, 15:10 Por Luiz Carlos Merten São Paulo, 02 (AE) - Ela era jovem, bela, a mais promissora das atrizes francesas de sua geração. E então, em Nice, no sul da França, num dia de 1967, ocorreu o acidente brutal de carro que roubou a vida de Françoise Dorléac. O carro desgovernou-se, saiu da estrada, chocou-se com um obstáculo e pegou fogo. Françoise tentou sair, mas porta ficou emperrada e ela morreu carbonizada com seu inseparável cãozinho chihuahua. Houve uma testemunha dessa tragédia. Um motorista que passava pelo local ainda tentou ajudá-la, mas assistiu impotente ao cruel espetáculo. François Truffaut chegou a compará-la a Jeanne Moreau, a terna e cruel Catherine de "Jules e Jim - "Uma Mulher para Dois". E Catherine Deneuve, a irmã de Françoise, nunca se cansou de dizer que ela era a melhor das duas. Catherine virou a mais internacional das grandes estrelas francesas, mas faz sentido. Ela parece uma Barbie em "Os Guarda-Chuvas do Amor", seu primeiro grande sucesso, quando ainda era "a irmã de Françoise Dorléac". Françoise participou de filmes como "A Garota dos Olhos de Ouro", de Jean-Gabriel Albicocco, no qual a estrela era Marie Laforet, e "Arsne Lupin contra Arsne Lupin", de Edouard Molinaro, sobre o célebre escroque. Depois, vieram os grandes papéis. A aeromoça de "Um só Pecado", de Truffaut, a jovem de "Cul de Sac", o filme de Roman Polanski que, no Brasil, se chamou sugestivamente "Armadilha do Destino". E não se pode esquecer de "O Homem do Rio" que rodou, no Brasil, com Jean-Paul Belmondo e direção de Philippe de Broca. Era uma boa, uma ótima atriz. E tinha uma personalidade intensa, dinâmica. Quando Jacques Démy a colocou ao lado da irmã em "Duas Garotas Românticas", sua homenagem cantada e dançada ao musical americano, não há exagero algum em dizer que Françoise ofuscou Catherine, que continuava com seu jeitinho de Barbie, só consolidando o próprio mito a partir do momento em que Luis Buñuel fez dela a bela da tarde. A morte a 300 km por hora, aos 25 anos. Ex-modelo de Christian Dior, Françoise era encantadora, fina, graciosa. Ela e Truffaut se conheceram durante uma viagem a Tel-Aviv, quando a Unifrance levou um grupo de artistas franceses a Israel, com a missão de despertar o interesse pelo cinema do país. No princípio, antipatizaram. Depois, ficaram amigos. Françoise exultou quando Truffaut a convidou para o papel de Nicole. A alegria durou só até receber o roteiro. Ela achou Nicole muito dura. Truffaut, que não abria mão de tê-la como intérprete, terminou moldando a personagem à atriz. Françoise, como ele gosta de dizer, era, para ele, Framboise.