''Quando uma criança desaparece, o espaço que ela ocupava é imediatamente invadido por dezenas de pessoas. E essas pessoas parentes, amigos, agentes da polícia, repórteres da televisão e da imprensa escrita criam uma atmosfera de energia ruidosa, dominada pela sensação de grande intensidade coletiva, de uma feroz determinação de compartilhar uma tarefa.
Mas em meio a todo esse barulho, nada é mais ensurdecedor que o silêncio da criança desaparecida. É um silêncio de setenta e nove centímetro de altura, e você o sente em seu quadril e o ouve erguendo-se das tábuas do assoalho, gritando para você de todos os cantos, de todos os recantos, e do rosto impassível de uma boneca caída ao lado da cama. É um silêncio diferente do silêncio que fica depois dos enterros e dos velórios. O silêncio dos mortos exprime o sentimento de conclusão; é um silêncio ao qual você sabe que terá que se acostumar. Mas o silêncio de uma criança desaparecida não é algo a que você queira se acostumar; você se recusa a aceitá-lo, por isso ele berra na sua cara.
O silêncio dos mortos diz: Adeus.
O silêncio dos desaparecidos diz: Encontrem-me.''

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