'Fórmula 1, o Filme': frágil, superficial, estéril e machista
Brad Pitt, no papel principal, não segura a trama que estreia esta semana, um astro não é suficiente para se fazer um bom filme
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terça-feira, 24 de junho de 2025
Brad Pitt, no papel principal, não segura a trama que estreia esta semana, um astro não é suficiente para se fazer um bom filme
Carlos Eduardo Lourenço Jorge/ Especioal para a FOLHA

Nesta barulhenta estreia mundial, num multiplex perto de você, Brad Pitt interpreta um ex-astro da Fórmula 1, um veterano à frente do novo filme-pipoca proporcionado pela mesma equipe que esteve por trás de “Top Gun: Maverick”.
O personagem de Brad Pitt, Sonny Hayes, passou por momentos difíceis. Como mostrado em flashbacks rejuvenescidos e com perucas enormes, ele costumava ser o menino de ouro da Fórmula 1, mas sofreu um acidente horrível há 30 anos que destruiu sua vida. Perdeu a carreira, teve vários casamentos fracassados e fez algumas tatuagens imprudentes; e agora ele se arrasta de um evento de corrida nada glamouroso para outro em sua van, quando não está jogando ou dirigindo um táxi por dinheiro. Para sua sorte, seu velho amigo Ruben (Javier Bardem) está no comando de uma equipe de Fórmula 1 que continua perdendo.
Então ele entrega a Sonny uma passagem de avião para a Inglaterra e implora para que ele volte a competir no mais alto nível do automobilismo.
Isso, você pode pensar, parece uma tarefa difícil. Sonny pode estar um pouco enferrujado, um pouco desatualizado com os últimos avanços da Fórmula 1. Ele pode até ter alguns medos e dúvidas em relação ao acidente traumático que arruinou sua vida.
Confira o trailer:
Mas não. Um dos problemas de “F1”, do diretor Joseph Kosinski e do pessoal da equipe de “Top Gun: Maverick” (excluindo Tom Cruise) é que Sonny se recuperou psicológica e fisicamente antes da cena de abertura. Seus defeitos foram corrigidos, seus demônios estão mortos e agora ele não tem nenhuma fraqueza, exceto a arrogância descontraída que é de se esperar de alguém que se parece com Brad Pitt.
Desde o momento em que entra em Silverstone com seu jeans duplo e seus óculos escuros de “Era Uma Vez em Hollywood”, Sonny está extremamente relaxado e confiante, e logo se mostra um gênio tático, um líder inspirador, um leal jogador de equipe, um cavalheiro charmoso e um designer de carros inovador, além do tipo de cara irreverente que faz truques com cartas durante reuniões importantes e não se importa com troféus ou dinheiro. A grande questão do filme é por que esse super-herói abandonou a Fórmula 1.
É divertido conviver com um sujeito tão carismático, claro, mas é difícil se envolver emocionalmente quando a jornada do herói o leva de “cara legal, mas um pouco convencido” a “cara legal, mas um pouco menos convencido”. O maior problema da F1, porém, não é a insistência em mostrar seu protagonista sob uma luz lisonjeira, mas sua atitude bajuladora equivalente em relação à própria Fórmula 1.

Filmado em circuitos reais com a total cooperação dos organizadores e participantes (Lewis Hamilton é creditado como produtor), é essencialmente um filme promocional corporativo, e com tanta publicidade de produtos que é muito provável que você se lembre mais das marcas do que dos personagens.
No roteiro não há nenhum resquício de crítica, ou ceticismo, e nenhum indício de algo explorador ou vulgar. Os fãs de Fórmula 1 podem ficar satisfeitos com os vislumbres de seus pilotos favoritos, mas a F1 está tão empenhada em ser positiva em relação ao seu ambiente que nenhum desses homens tem permissão para ser um antagonista de verdade, ou mesmo para dizer algo rude sobre Sonny. Ninguém pode se comportar mal e nada de terrível pode acontecer a nenhum dos personagens, então não há tensão digna de nota. É mais um desfile de vaidade machista, fotografado com maestria.
Combinado com o estilo visual antisséptico de Kosinski e o roteiro fraco de Ehren Kruger (com créditos do próprio Kosinski na história), "F1: O Filme" é narrativa incrivelmente estéril sobre virilidade. A história simplesmente salta pelo mundo, marcando todos os Grand Prix de uma temporada, ao som em volume máximo da trilha sonora de Hans Zimmer, feita sob medida para deixar o espectador animado. O que é de vital importância, já que o filme fica sem gás muito rápido.

