Os integrantes do coletivo Rodas de Leitura usam bicicletas como meio de transporte para chegar a diversos locais de São Paulo e realizar ações culturais
Os integrantes do coletivo Rodas de Leitura usam bicicletas como meio de transporte para chegar a diversos locais de São Paulo e realizar ações culturais | Foto: Fotos: Divulgação



Pensar o desenvolvimento futuro das crianças e aprender sobre as relações humanas, sobretudo pelo viés da literatura, foi o mote do Seminário Internacional Arte, Palavra e Leitura na 1ª infância, realizado em São Paulo nos últimos dias 13, 14 e 15 de março, pelo Itaú Social e pelo Sesc São Paulo, com curadoria do Instituto Emília e da Comunidade Educativa Cedac, e apoio do Instituto C&A e da (AC/E) Associação Cultural Espanhola. O evento reuniu especialistas nacionais e internacionais para um intercâmbio de experiências e reflexões, visando a composição de um panorama teórico e prático sobre o lugar da cultura na infância, cuja programação foi dividida em oficinas, mesas-redondas e relatos de experiências práticas.

Na programação, realização de mesas-redondas como a que reuniu Bel Santos Mayer (Ibeac), Lara Meana (Tres Brujas - Espanha), Patricia Diaz (Cedac) sob o tema "Rompendo paradigmas e semeando futuros leitores". Com trabalhos distintos, relataram sobre as atividades desenvolvidas ao longo de suas trajetórias em comunidades que não tinham acesso à leitura e formação de mediadores de leitura. Já a mesa-redonda "Um mundo aberto, a cultura na primeira infância" reuniu Maria Emilia Lopez (Jardim Materno - Argentina), Patricia Pereira Leite (A cor da Letra) e Yolanda Reyes (Espantapájaros – Colômbia) que discutiram acerca da importância da leitura no processo cultural da criança. Na mesa-redonda "Arte, poesia e mundo digital na primeira infância", os autores e ilustradores Issa Watanabe (Peru), Laura Teixeira, Lucas Ramada (Espanha) e Paloma Valdivia (Chile) abordaram os prós e contras do uso da tecnologia na literatura.

Jovens mediadores de leitura que atuam no distrito de Paralheiros (SP)
Jovens mediadores de leitura que atuam no distrito de Paralheiros (SP)



Direito Humano - Bel Santos Mayer, coordenadora do Programa de Direitos Humanos do Ibeac (Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio Comunitário) desde 1997 e gestora da Rede LiteraSampa e do programa de formação de jovens da Biblioteca Comunitária Caminhos da Leitura defendeu a leitura como um direito humano. "A biblioteca é um lugar de encontro e que promove um tipo de empoderamento, trazendo outra visão de mundo, importante para as transformações pessoais e coletivas. Qualquer um pode ser um mediador, não existe um modelo correto; todos são válidos desde que sejam honestos", diz ela, sobre o programa do instituto que atua nas linhas Informação, Mobilização da Comunidade e Intervenção.

Dentre os resultados obtidos, está uma das bibliotecas gerenciadas por adolescentes e jovens em Paralheiros, distrito rural localizado na zona sul de São Paulo há quase dez anos. "Uma das motivações em iniciarmos o projeto foi pensar: por que quem está plantando não tem direitos de ter o mesmo prazer de ler? A literatura só faz sentido quando nos sentimentos pertencentes. A partir daí, contribuímos com a formação de um grupo que se tornasse referência dentro das suas comunidades", resume. Atualmente, tanto a biblioteca (cujo acervo foi e está sendo construído com a comunidade) quanto o grupo (com jovens mediadores de leitura e com as mães mobilizadoras) continuam crescendo para que os livros e as histórias cheguem às casas de cada criança daquela região.

Uma das bibliotecas gerenciadas por jovens no distrito rural de Paralheiros(SP)
Uma das bibliotecas gerenciadas por jovens no distrito rural de Paralheiros(SP)



Leitura sobre rodas - O Coletivo "Rodas de Leitura", formado por jovens oriundos de projetos sociais de mediação de histórias, como o projeto Biblioteca Viva/Mudando a História, é a prova de que iniciativas dão frutos. Munidos de bicicletas como meio de transporte, desde 2013, os integrantes tem unido o cicloativismo com leitura, deslocando-se e ocupando, de forma criativa, espaços de São Paulo propondo uma ação cultural por meio da mediação de leituras. "Geralmente vamos a praças ou feiras mais distantes e colocamos todo o acervo à disposição para pessoas que estão passando pelo local possam explorar. A primeira ação do nosso projeto é promover o acolhimento. A criação desse ambiente agradável para a leitura, desperta o prazer pelo ato de ler", conta o integrante Rafael Torres. O resultado tem sido crescente, tanto no número de lugares visitados quanto de participantes, possibilitando que crianças, jovens e adultos tenham contato com um universo nunca antes vivenciado.

Oficinas criativas - Partindo do princípio de que a escrita criativa dos adultos pode refletir diretamente na leitura das crianças, a jornalista e escritora Sara Bertrand, que ministra cursos na Universidade do Chile e oficinas para o Instituto Emilia, realizou a oficina "Não é de comer!". Para ela, escrever é um compromisso com a palavra como ato político, social e pessoal. "Mas a escrita deve surgir como um algo profundo e verdadeiro; isso só acontece quando nos afinamos com nossa música interior. Com o passar dos anos, deixamos as travas morais falarem mais alto e nossa capacidade de fantasia vai se perdendo", resume. Tendo a ferramenta da escrita mais fluida e mais plástica à realidade, ela acredita que haja maior possibilidade de conexão com as crianças. "Elas têm muito a dizer. Precisamos voltar a escutá-las e lê-las".

Entre os projetos, estão as oficinas de escrita criativa realizadas pela jornalista e escritora Sara Bertrand (no centro)
Entre os projetos, estão as oficinas de escrita criativa realizadas pela jornalista e escritora Sara Bertrand (no centro) | Foto: Sofia Colucci/ Divulgação



Programa de apoio - A Fundação Itaú Social tem como foco o apoio, elaboração e fortalecimento de programas que visam o progresso das políticas públicas de educação, a potencialização do engajamento da sociedade, por meio da cultura de voluntariado e a avaliação sistematizada de projetos sociais. "Dessa forma, formulamos, implantamos metodologias na área educacional, em conjunto com governos, empresas e organizações não-governamentais. Acreditamos que a leitura seja uma das principais bases para aquisição de conhecimento", explica Dianne Melo, gestora de programas e projetos sociais e educacionais.

* A jornalista viajou a São Paulo a convite da Fundação Itaú Social