Em meio à efemeridade de um mundo disforme, em que o amor, a compaixão e o respeito parecem estar corroídos, a arte ocupa espaço central para lembrar que a vida é breve. Em três quadros, o espetáculo solo “Habite-me”, da artista Carolina Garcia, cria um alerta de que a morte está à espreita, e que é necessário habitar o nosso tempo.

A obra é uma coprodução entre a Cia 4 Produções (Brasil) e a Territoire 80 (Canadá) e apresenta um teatro que mistura bonecos, máscaras e música para contar histórias e envolver a plateia. Não há diálogos, mas uma mistura sensível entre o vivo e o inanimado para conduzir as narrativas da vida e da morte.

Garcia lembra que a criação das máscaras e dos bonecos surgiu a partir de uma residência feita no Canadá com a artista plástica Emilie Racine, da companhia canadense, e dos apontamentos do diretor Paulo Balardim, que também é responsável pela dramaturgia.

“Todos esses elementos fazem parte da dramaturgia visual, aportando signos que irão compor um tecido de imagens oníricas”, acrescentando que a música do compositor belga Tuur Florizone é o fio condutor da narrativa.

“Habite-me” estreia no FILO (Festival Internacional de Londrina) nesta quinta-feira (22), às 19h, no Espaço Villa Rica. O espetáculo será reexibido na sexta-feira (23).

A seguir, confira entrevista completa com Carolina Garcia e o diretor do espetáculo Paulo Balardim.

Qual é o conceito de ‘Habite-me’ e qual a história que vocês querem contar no palco?

A ideia de ‘Habite-me’ gira em torno da percepção de um mundo efêmero no qual estamos inseridos, do sentido de pertencimento e das relações de afeto que criamos. A temática da morte é reincidente nos três quadros que apresentamos, como um alerta de que ela atinge todas as idades e de que devemos aproveitar e ‘habitar’ nosso tempo. Tentamos apresentar a ideia de que o ciclo de morte e vida são permanentes e se refazem a cada instante.

Como foi a parceria com outros artistas para a criação do espetáculo?

A concepção do espaço cênico maleável, pulsante, traz consigo o apelo a essa vida que nos envolve, bem como o uso das máscaras e dos bonecos tentam equalizar a existência do ‘inanimado’ e do ‘animado’, na tentativa de dar o mesmo nível de importância a todos eles. A concepção plástica das máscaras e bonecos surgiu a partir de uma residência artística feita no Canadá com Emilie Racine, da Cie Territoire 80, e dos apontamentos do diretor, Paulo Balardim, que também assina a dramaturgia. Élcio Rossini assina a cenografia e Cris Lisot o figurino. Todos esses elementos fazem parte da dramaturgia visual, aportando signos que irão compor um tecido de imagens oníricas.

Qual é o papel da música na condução da narrativa de ‘Habite-me’?

A música, assinada pelo compositor belga Tuur Florizone, também é um elemento de destaque, pois funciona como um fio condutor da narrativa, ressaltando climas e propondo ambientes sonoros. Além disso, a música propõe muito dos movimentos utilizados nas coreografias - ou partitura de ações - que surgem da atriz em interação com os bonecos.

Quem são os personagens interpretados no palco, com máscaras e bonecos?

As inspirações para as máscaras e para os bonecos surgem de várias referências, desde memórias, fatos vividos até mitos ou referências pictóricas. No entanto, a construção de cada personagem ocorre nas improvisações que fazem parte da construção dramatúrgica. Basicamente, as imagens que se vão criando vão sugerindo contextos de interação entre os personagens. Não existe uma ‘história com sentido’. Assim como num sonho, existem sensações e impressões que repercutem naquilo que sentimos. É uma obra aberta que tenta desafiar o espectador a comover-se com coisas simples.

Qual é o sentimento de participar do FILO?

Participar do FILO é uma oportunidade de mantermos vivo o trabalho, de apresentar-se para um novo público e intercambiar com outros artistas. São nesses encontros que os artistas podem se renovar, alimentar-se de cultura e receber feedbacks sobre o trabalho.

Carolina Garcia: "Os dispositivos cenográficos simulam vida e respiram comigo em cena"
Carolina Garcia: "Os dispositivos cenográficos simulam vida e respiram comigo em cena" | Foto: DAVIMELLO

EU E OS PERSONAGENS

A artista Carolina Garcia fala sobre sua atuação em ‘Habite-me’

“No espetáculo, os dispositivos cenográficos simulam vida e respiram comigo em cena, sendo o lugar em que os seres ficcionais habitam e se transformam. A atuação com os bonecos exige de mim uma presença e uma preparação técnica a fim de abrir espaço à multiplicação dos personagens que surgem com os objetos animados. Eu vou respondendo aos estímulos criados pelas situações e pelos contextos da cena, que acontecem sem a fala. Como diz no poema inicial, de Rainer Maria Rilke, transitamos nesse lugar em que ‘nenhuma palavra nunca pisou’. As situações vão se construindo e relacionando todos num espaço de ausência e reconstrução de sentidos”.

SERVIÇO

FILO 2023

Habite-me - Cia 4 Produções

Local: Espaço Villa Rica (rua Piauí, 211)

Datas: quinta (22) e sexta-feira (22), às 19h

Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia-entrada) no site do FILO ou na plataforma Sympla

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Patrocínio: Prefeitura de Londrina / Secretaria Municipal da Cultura / Programa Municipal de Incentivo à Cultura (Promic).

Apoio: Universidade Estadual de Londrina – Casa de Cultura, Espaço Villa Rica, Fecomércio/Sesc-PR, Kery Grill, Rádio UEL FM, EJ Rosa Amarela, Folha de Londrina, Laboratório de Cenografia e Cenotécnica, Sanepar/Governo do Estado do Paraná, Canto do Marl e Vila Triolé Cultural. Realização: Associação dos Profissionais de Arte de Londrina.