Filme 'Sol de Inverno' tem sessões especiais no Villa Rica
Nesta sexta-feira (14) será exibida a primeira produção japonesa a estrear em Londrina em 2025
PUBLICAÇÃO
sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025
Nesta sexta-feira (14) será exibida a primeira produção japonesa a estrear em Londrina em 2025
Rodrigo Grota/ Especial para a FOLHA

Dos 19 filmes japoneses lançados no circuito brasileiro no ano passado, apenas três chegaram aos cinemas de Londrina, com destaque para a animação vencedora do Oscar ‘O Menino e a Garça’, de Hayao Miyazaki; e a obra-prima ‘Dias Perfeitos’, de Wim Wenders.
Nesta sexta-feira (14), o Espaço Villa Rica exibe a primeira produção japonesa a estrear na cidade em 2025: ‘Sol de Inverno’, segundo longa do jovem realizador japonês Hiroshi Okuyama. O filme estreou em maio do ano passado na prestigiada mostra 'Un Certain Regard', do Festival de Cannes, e chegou ao circuito brasileiro no último dia 16 de janeiro.
Ambientado na Ilha de Hokkaido no Norte do Japão, ‘Sol de Inverno’ acompanha o amadurecimento de Takuya (Keitatsu Koshiyama), jovem que está vivendo a transição entre o fim da infância e a pré-adolescência. Com problemas de dicção, e geralmente distraído durante os treinos de hockey, Takuya é uma espécie de alter ego do diretor Okuyama, que também treinou patinação no gelo durante a infância. Takuya começa a se interessar pelo esporte ao se apaixonar pela jovem patinadora Sakura (Kiara Takahashi), que se destaca entre as outras atletas, e acaba de chegar de Tóquio. Sakura, por sua vez, começa a se apaixonar pelo seu treinador Arakawa (Sôsuke Ikematsu), ex-atleta de prestígio, e que agora se dedica a formar novos atletas. Arakawa, no entanto, ignora o interesse da aluna: ele vive uma relação harmoniosa com Igarashi (Ryûya Wakaba), seu namorado, com quem divide um apartamento.
POEMA VISUAL
Construído quase como um poema visual sobre a inocência do primeiro amor na adolescência, ‘Sol de Inverno’ é um filme mais centrado em personagens, do que em sua trama, em si, que é quase mínima. O diretor está preocupado em investigar o mundo interno do seu trio de personagens centrais, sem limitá-los a tipos ou estereótipos, como seria comum em filmes protagonizados por adolescentes em Hollywood.
Okuyama procura construir sua fábula a partir de elementos com uma certa plasticidade: a textura da neve, a variedade de cores que invadem as janelas do ginásio de treinamento, o som dos patins sobre o gelo - tudo contribui para a construção de um universo singelo, em que os conflitos dramáticos evoluem de forma espontânea e natural, sem precisarem seguir o ritmo acelerado tão comum em filmes deste gênero 'coming of age'.
Essa aposta na delicadeza e singularidade das personagens se apoia sobretudo na interpretação cativante do jovem Koshiyama e seu treinador Ikematsu: os momentos em que contracenam, praticando todos os elementos da patinação artística, são o coração do filme. A partir dessa relação entre mestre e pupilo - algo muito caro ao cinema japonês -, acabamos por descobrir a verdadeira questão dramática em 'Sol de Inverno’: quanto mais o treinador Arakawa ensina ao jovem Takuya, mais ele aprende sobre as relações humanas e sobre si mesmo. Não é, portanto, apenas um filme de amadurecimento para o jovem: é essencialmente um filme de autotransformação para o treinador e seu aluno.
Rodado em suporte digital com direção de fotografia do próprio diretor Hiroshi Okuyama, o filme apresenta um universo visual composto por cores pastéis e agridoces, de baixa saturação, o que nos remete aos filmes coloridos da última fase do mestre Yasujiro Ozu (1903-1963). O roteiro, aliás, está em perfeita sintonia com a estética de Ozu: tudo o que é mais importante é expresso pelas imagens e pelos sons. Quando algum conflito é expresso pelo diálogo, é sempre de forma lacônica, quase contrariada. O filme também transparece uma leveza rara na construção das cenas: tudo parece ter sido conduzido de uma forma muito serena e empática pelo diretor Okuyama, que cuidou também da montagem, da pós produção, e se diz fã do realizador sueco Roy Andersson e do pintor norte-americano Edward Hopper (1882-1967).
DIÁLOGO COM O INDIE
Por último, em diálogo com a cultura musical indie, o filme tem uma trilha sonora pop que imprime certa nostalgia, assim como já ocorria no filme de Wenders. A cena que simboliza esse estado emocional hesitante, entre a melancolia e o sublime, se passa em um lago, quando o trio de protagonistas treina patinação artística ao ar livre. Os sentimentos não correspondidos, a relação entre mentor e discípulo, a explosão da primeira paixão: todos os temas do filme surgem nessa sequência, o que torna ‘Sol de Inverno’ uma daquelas obras delicadas que o cinema oriental, com certa frequência, consegue nos oferecer.
SERVIÇO:
Sol de Inverno (2025, 90 min, fic), no Espaço Villa Rica
Quando: sexta-feira (14)
Horários: sexta (14), às 18h45; sábado (15), às 17h15; terça-feira (18), às 20h30; e quarta-feira (19), às 18h45.
Gênero: Drama/Coming of Age
Distribuição: Michiko Filmes
Classificação Indicativa: 12 anos

