Vanusa:  com repertório mais sofisticado a partir dos anos 1970, ela brilhou com uma composição própria, "Manhãs de setembro"
Vanusa: com repertório mais sofisticado a partir dos anos 1970, ela brilhou com uma composição própria, "Manhãs de setembro" | Foto: Zanone Fraissat/ Folhapress

São Paulo - A cantora Vanusa morreu neste domingo (8), aos 73 anos, na casa de repouso onde vivia em Santos. A causa da morte informada foi insuficiência respiratória. A artista chegou a ficar internada por 32 dias no Complexo Hospitalar dos Estivadores, na cidade do litoral paulista, e saiu em outubro. A filha de Vanusa, Aretha Marcos, confirmou a morte da mãe em uma publicação nas redes sociais.

Logo após o anúncio, seu filho Rafael Vanucci postou um vídeo emocionado e vários artistas lamentaram a morte da cantora.

"Muito obrigado a cada mensagem, cada oração! Gratidão! Minha guerreira partiu! Deus te receba de braços abertos, minha mãe! Orgulho de você!", escreveu Vanucci na legenda da publicação.

"Minha amiga linda. Só quero lembrar de você assim. Você foi minha inspiração como mulher. Independente, determinada, livre e que viveu de verdade. A primeira música que eu aprendi a cantar foi 'Manhãs de Setembro'. Com certeza você está sendo recebida por Deus como você merece. Amo você. Rafael Vannucci conte comigo", escreveu Gretchen, em seu perfil no Instagram.

"Em Paz! Minha querida! Grata por encantar nossa música! Ricardo e eu seremos eternamente gratos!, escreveu a cantora Angela Ro Ro.

"Que pena, descanse em paz rainha Vanusa, que Deus te receba de braços abertos e ampare aos seus familiares aqui", disse Buchecha, em seu perfil no Twitter.

O jornalista Xico Sá também comentou sobre a morte de Vanusa. "Numa bodega de canto de rua, ouvindo Vanusa, óbvio, e um vira-lata acompanhando um elegante homem que portava uma crônica dor de amor", escreveu.

ANOS 1960

Ótima cantora e bonita, Vanusa usou essa combinação para ganhar popularidade na TV. Os anos 1960 foram o ápice do entrelaçamento entre música e televisão no Brasil. A programação era farta em programas musicais, de vários gêneros. Vanusa Santos Flores, paulista nascida em Cruzeiro, em 1947, mas criada na mineira Uberaba, chegou a São Paulo e não demorou a ser notada.

Ela pegou a fase final do programa "Jovem Guarda", na Record. Embora pudesse gravar canções românticas intensas, dramáticas, Vanusa tinha um jeito moleque que exibia com desenvoltura nos estúdios. Assim, acabou escolhida para a segunda formação do elenco de "Os Adoráveis Trapalhões", que foi produzido na TV Excelsior entre 1966 e 1968.

Ela gravou cinco álbuns entre 1968 e 1974, todos levando como título apenas seu nome, "Vanusa". Sua evolução a cada disco é inegável, acompanhando uma mudança de repertório. Os primeiros álbuns eram marcados por um pop romântico, de refrão fácil, deixando espaço para uma ou outra faixa de sonoridade psicodélica, influenciada pelo rock americano e inglês do fim dos anos 1960. A partir de seu terceiro álbum, ela gravou sob influência do cantor e compositor Antônio Marcos, com quem casaria e teria duas filhas, Amanda e Aretha.

MUDANÇA NO REPERTÓRIO

Mais sofisticado, o repertório do quarto disco, de 1973, incluiu seu primeiro hit nacional, "Manhãs de Setembro". Nessa faixa, Vanusa se arriscou como compositora, em parceria com Mário Campanha, e levou ao país os versos libertários da canção: "Eu quero sair/ eu quero falar/ eu quero ensinar o vizinho a cantar/ nas manhãs de setembro...".

Vanusa figurou constantemente na mídia por três motivos: sua música, sua presença intensa em programas de TV (a ponto de ser eleita por dois anos seguidos "a rainha da televisão") e pelas notícias nada boas sobre seu relacionamento com Antônio Marcos, cujos excessos etílicos e químicos minaram a relação dos dois. Depois da separação do cantor, ela se casou com o produtor e diretor de TV Augusto César Vannucci, com quem teve um filho, Rafael.

Depois de estourar com outra canção, "Sonhos de um Palhaço", de Antônio Marcos e Sérgio Sá, Vanusa gravou em 1975 seu álbum mais ambicioso, "Amigos Novos e Antigos". O título do disco vem de uma das faixas, composta por João Bosco e Aldir Blanc. A lista de autores reflete uma clara virada de Vanusa em busca de um repertório nobre. Sua versão de "Paralelas", de Belchior, é impecável.

Nos anos seguintes, ela conseguiu pelo menos mais um sucesso comparável a "Manhãs de Setembro" e "Paralelas": "Mudanças" (1979), parceria com Sérgio Sá, em que retorna ao mote da mulher em busca de superação.

Seu ritmo de trabalho foi diminuindo gradativamente, gravando pouco, e ela sentiu a perda do marido e do ex. Antônio Marcos morreu em 1992, aos 46 anos, de insuficiência hepática. Vannucci morreu no mesmo ano, aos 58 anos, de isquemia cerebral.

Em 2009, Vanusa protagonizou um episódio vexatório num evento na Assembleia Legislativa de São Paulo. Ela cantou o hino nacional de forma bizarra, errando a letra e desafinando, e o vídeo explodiu na internet. Boatos de que estaria bêbada ou drogada foram espalhados. A cantora disse que estava sob efeito de um remédio muito forte para labirintite.

Em 2015, a cantora teve um novo momento de brilho com o álbum de inéditas "Vanusa Santos Flores", projeto criado para ela por Zeca Baleiro. Lançado pelo selo do cantor, Saravá Discos, o álbum tem canções de compositores como Angela Ro Ro, Zé Ramalho e o próprio Baleiro.

Pouco tempo depois, Vanusa começou a mostrar sinais de Alzheimer, interrompendo uma carreira de 18 álbuns e um reconhecimento popular que transformou seu nome em sinônimo de mulher loira e bonita. E também uma cantora extraordinária.

O filho da cantora, Rafael Vannucci, organizou no domingo o transporte do corpo da cantora para São Paulo, onde serão realizados o velório e o enterro.

Confira Vanusa cantando um de seus maiores sucessos: Manhãs de Setembro