Ficar ou namorar? Os dilemas do amor jovem
Psicólogo analisa problemas afetivos da nova geração; casais escolhem relações construídas com diálogo, coragem e entrega
PUBLICAÇÃO
quinta-feira, 12 de junho de 2025
Psicólogo analisa problemas afetivos da nova geração; casais escolhem relações construídas com diálogo, coragem e entrega
Pamela Destacio/ Especial para a FOLHA

As relações amorosas hoje são atravessadas por uma velocidade inédita, e isso já não surpreende mais ninguém – mas afeta. Na prática, é quase um desafio driblar vínculos que se desfazem com um deslize de dedo para assumir um relacionamento sério.
Os jovens que cresceram conectados e expostos à lógica das redes sociais parecem viver uma contradição afetiva: desejam o encontro, mas temem se entregar; querem vínculo, mas fogem dos rótulos. No consultório do psicólogo Bruno Beraldo, especialista em relacionamentos, esse dilema surge com frequência.
Com mais de 300 mil seguidores em seu perfil no Instagram, onde compartilha reflexões sobre amor e outras questões emocionais, Beraldo mostra como o contexto atual molda afetos mais fluidos e identidades mais livres. Suas publicações costumam gerar grande identificação com o público, que comenta, compartilha experiências e busca respostas para os problemas amorosos da vida moderna.
Para a FOLHA, ele explica por que amar parece ter se tornado tão difícil: embora a tecnologia tenha ampliado nosso acesso a pessoas, informações e possibilidades, trouxe de brinde mais ansiedade, comparação e incerteza.
“Vivemos em uma cultura marcada pelo imediatismo, pelo consumo e pela ideia de que tudo pode (ou deve) ser substituído se não for perfeito. Isso impacta diretamente os relacionamentos: há menos tolerância à frustração, menos paciência para o processo de construção do vínculo. O outro virou, muitas vezes, uma opção entre muitas, e não uma escolha com quem se caminha”, observa.
A exposição precoce à valorização da imagem e à validação externa contribui para uma geração que evita nomear vínculos, teme se apegar, se ferir ou “perder tempo” em relações que não atendam plenamente às expectativas. “Em muitos casos, há uma tentativa de evitar o sofrimento amoroso antecipando o fim, evitando o rótulo ou mantendo relações ‘em aberto’, o que paradoxalmente gera ainda mais confusão emocional”, explica.

AMAR COM AUTONOMIA
Ele nota que há, sim, um desejo genuíno por conexão, mas misturado ao receio de se anular dentro do potencial vínculo. “Um paciente, por exemplo, descreveu estar ‘ficando com alguém há meses’, sem saber se pode chamar aquilo de namoro, por medo de assustar, de rotular, de se prender. É uma geração que quer liberdade, mas também intimidade. Quer vínculos, mas teme repetir os padrões das gerações anteriores. E vive, muitas vezes, nesse vai e vem entre desejar o encontro… e se proteger dele”, diz.
Para o psicólogo, essa recusa em repetir modelos antigos de relacionamento, marcados por dependência, controle ou obrigação, é legítima e importante, mas merece atenção para não acabar confundindo liberdade com ausência de compromisso.
O desafio, aponta Beraldo, está em ressignificar esta ideia: “Mostrar que vínculo não precisa ser prisão, pode ser espaço de segurança, crescimento e afeto real. Liberdade e compromisso não são opostos. O que prende não é o amor, é o medo. E aprender a amar com responsabilidade e autonomia talvez seja um dos maiores aprendizados dessa geração”, reflete.
BUSCA POR AFETO
Mesmo com tantas mudanças nas formas de se relacionar hoje em dia, o desejo por vínculos verdadeiros segue presente, até mesmo naqueles que se dizem “desapegados”. Ainda que mais cautelosos ou avessos a designações, muitos ainda sonham em construir uma vida a dois, com casamento, filhos e uma parceria digna de “felizes para sempre”.
Para o psicólogo, isso diz muito sobre algo essencial da natureza humana.
“Queremos amar e ser amados, mesmo que tenhamos medo. Queremos construir algo que faça sentido, mesmo em tempos líquidos. A busca por afeto verdadeiro, por pertencimento e por intimidade continua viva, mesmo que hoje venha misturada a muitas outras vozes. E isso é bonito: mostra que o ser humano, mesmo diante de tantas mudanças externas, ainda carrega dentro de si a vontade de encontrar no outro um espelho, uma parceria, um lar emocional”, reflete.
“O amor, com todas as suas transformações, continua sendo uma linguagem essencial. Talvez mais do que nunca, seja hora de reaprender a falá-la, com presença, com cuidado, com verdade”.
RELAÇÕES COM ENTREGA
Apesar destes desafios, neste Dia dos Namorados, vale destacar aqueles que escolhem viver o amor sem pressa. Jovens de Londrina que estão construindo relações, de forma leve e natural, baseadas, segundo eles, na confiança mútua, no diálogo como caminho para resolver conflitos, no companheirismo e em sonhos compartilhados para o futuro.
Nathalia Ramos, 22, e Carlos Araújo, 25, começaram a namorar no início da pandemia e, hoje, celebram cinco anos de união. O isolamento os aproximou e ajudou a consolidar um vínculo que, segundo a estudante, foi essencial para o amadurecimento da relação.

Noivos desde janeiro, eles afirmam que a sinceridade é o valor mais importante. “Desde cedo, pactuamos que por mais que a conversa fosse difícil, não iríamos adiá-la, em razão do compromisso um com o outro. Se você tem um problema hoje, atrasá-lo fará com que ele vire um monstro, e não queremos isso”, diz Araújo.
Quem também acredita na importância da entrega mútua é Rafael Pedro Rodrigues, 26, que está há oito meses com Vinicius Henrique Araújo, 25. Neste ano, comemoram o primeiro Dia dos Namorados como casal. “Acho que é preciso ter coragem para amar, porque a gente se coloca numa posição de vulnerabilidade. Mas tanto eu quanto o Vini fomos corajosos, sempre demonstramos o que sentíamos, mesmo quando ainda estávamos só ficando. Isso ajudou a dar uma base forte para a nossa relação”, conta.
Segundo ele, o cuidado, a liberdade de ser quem se é e o espaço para expressar emoções, até nos momentos mais delicados, são o que sustentam o vínculo.

LEVEZA E MUITA CONVERSA
Já Beatriz de Almeida Ferreira, 24, e Gabriel Valenga Gomes, 28, vivem a segunda comemoração da data. Para eles, a relação é construída com leveza, confiança e muita conversa. “O que mais valorizo no nosso relacionamento, sem dúvidas, é o respeito e nossos diálogos, que mantêm a relação sempre evoluindo e nos deixando conectados cada vez mais”, destaca Ferreira. Para eles, o amor exige atenção, entrega e compreensão, e ter ao lado alguém que compreende isso faz toda a diferença.


