No cartaz do Festival de Dança de Londrina 2023, temos uma ilusão de ótica. Aparentemente, um dente-de-leão espalha suas sementes ao vento, mas, quando fixamos o olhar, reparamos que é o tutu de uma bailarina clássica que se expande, uma referência, talvez, à obra "A Dança De Tarassaco" (1944), de Salvador Dalí. A lufada que enche o quadro de movimento e eriça a textura de pele ao fundo da imagem é o prenúncio da necessidade de “sentir e inventar sentidos” em uma sociedade anestesiada.

O Festival tem início no próximo sábado (7) e segue até o domingo (15), com uma curadoria que evoca reflexões sobre como as artes podem contribuir para resgatar os valores oferecendo caminhos para uma educação centrada no humanismo e no respeito à alteridade. O tema surge, segundo a organização, dos episódios de violência e evasão na escola, no pós-pandemia, e das preocupantes transformações que as matrizes curriculares vêm sofrendo no Paraná.

Ao todo serão dez espetáculos nos palcos do Teatro Ouro Verde e Divisão de Artes Cênicas da Casa de Cultura da UEL, trazendo à cidade nomes consagrados do cenário nacional e internacional da dança e do teatro, que se apresentam ao lado de talentos locais. “Este ano, em razão da queda do nosso orçamento, optamos por centrar a programação no essencial: organizar poucos espetáculos, mas todos de grande qualidade estética e técnica. São montagens com reflexões sobre os temas que escolhemos tratar, para o público não perder nenhum”, destaca a coordenadora geral Danieli Pereira, que divide a curadoria com Renato Forin Jr.

Houve uma queda de três vezes no orçamento deste ano em relação ao do ano passado, o que justifica a falta da tradicional grade de oficinas. Mas o evento persiste em sua política de democratização de acesso aos espetáculos, com gratuidade na abertura e ingressos a preços populares: R$20 e R$10 (meia-entrada) nas demais apresentações. Os bilhetes já podem ser adquiridos pelo Sympla, com acesso pela página oficial do Festival.

ANTÔNIO NÓBREGA NA ABERTURA

Logo na primeira noite (7), o Festival de Dança convida o público a celebrar a riqueza da cultura popular brasileira com a especial presença dos mestres Antônio Nóbrega e Rosane Almeida, entusiastas das práticas lúdicas na transmissão de saberes. Eles apresentam, após a cerimônia de abertura, às 20 horas, no Teatro Ouro Verde, o espetáculo “Mestiço Florilégio”. A montagem é uma rica costura de canções, momentos teatrais e peças coreográficas desta versátil dupla de artistas, em fusão cenográfica com imagens projetadas, principalmente do filme “Brincante”. A entrada é gratuita, com direito à retirada de dois ingressos por pessoa, via Sympla.

O tema central do Festival estará também em espetáculos como “Memória de Brinquedo”, apresentado pela Curitiba Cia. de Dança. A montagem nos lembra que a infância é uma das mais importantes fases da educação e da formação do indivíduo. Coreografado por Luiz Fernando Bongiovanni, o espetáculo chama a atenção para os efeitos do excesso de tecnologia no mundo em que vivemos e para a importância de unirmos esforços para resguardar a atividade do brincar. O programa da Curitiba Cia. de Dança inclui ainda a suíte do balé de repertório “Dom Quixote”, uma ode à imaginação baseada na obra de Miguel de Cervantes. A versão tem direção geral de Nicole Vanoni, além de ensaio e coordenação de cena assinados por Ana Botafogo.

Já a Cia. do Tijolo, de São Paulo, leva ao palco da Divisão de Artes Cênicas da Casa de Cultura da UEL o espetáculo teatral “Ledores no Breu”, uma emocionante reflexão sobre o poder transformador da educação, aquela que ensina não apenas a decifrar os códigos do alfabeto, mas também a ler o mundo. A montagem é baseada no texto “Confissão de Caboclo”, do poeta paraibano Zé da Luz, e no pensamento e prática do educador Paulo Freire. A direção é de Rodrigo Mercadante, também responsável pela dramaturgia, ao lado de Dinho Lima Flor.

A aceitação do “diferente”, desafio que deve ser enfrentado diariamente por educadores e pais, será abordada por três cativantes bailarinas da Grita Cia. de Palhaças, de Londrina, em espetáculo apresentado na véspera do Dia das Crianças. “As Multidançarinas” apresenta ao público Adelaide, Cora e Frida, que devem arrancar gargalhadas de todos enquanto mostram que a dança é para todos que querem dançar. A montagem tem direção de Gerson Bernardes.

O Festival relembra também a trajetória da bailarina Carina Corte, que dedicou grande parte de sua vida a um dos mais respeitados projetos socioeducativos desenvolvidos na cidade, o Faces de Londrina, que, por 13 anos, levou dança a milhares de crianças e adolescentes de bairros periféricos. A montagem “A Bênção do Grande Urubu” mescla diferentes linguagens artísticas e nasceu da percepção do bailarino Aguinaldo de Souza, do artista visual Maurício de Oliveira, da atriz Michelle Florêncio e do jornalista e produtor cultural Álvaro Canholi que resgatam o trabalho de Carina após sua prematura morte, em 2021.

O Festival realiza ainda a mostra local “Dança Londrina”, noite em que artistas da cidade desfilam pelo palco do Teatro Ouro Verde números de até cinco minutos ligados aos mais variados estilos. A noite é um espaço aberto, via inscrição que segue aberta até a próxima sexta (dia 6), para que bailarinos independentes, grupos amadores, escolas de dança e projetos socioeducativos exibam suas produções.

SOBREVIVEMOS. E AGORA?

O Ballet de Londrina, companhia anfitriã do Festival, estreia na cidade o programa “Humana Natureza”, composto por duas coreografias assinadas por Henrique Rodovalho. Ambas remetem à trajetória da raça humana sobre o planeta, desde a origem da vida a partir dos elementos naturais até a entrada na civilização e o salto para a virtualidade. O programa é composto por “Cinco”, que fez première de sucesso no Sesc Vila Mariana, em São Paulo, no mês de julho, e “Bora!”, empolgante coreografia que tem sido dos maiores sucessos recentes da companhia em suas últimas circulações. De 2022, esta nasceu das investigações de Rodovalho sobre as instáveis relações humanas no nosso tempo, marcadas pela pós-pandemia.

O enclausuramento causado pela Covid-19 e seus reflexos também inspiraram outros dois trabalhos que integram a programação de 2023. Um deles é “Mercúrio”, com os bailarinos Luiz Oliveira e Irupé Sarmiento, de São Paulo. A montagem, idealizada por Oliveira e também coreografada por Rodovalho, parte do texto “Fevereiro”, da poeta portuguesa Matilde Campilho, que é entoado em sua voz na trilha.

O espetáculo "T para T", da célebre Brenda Angel Cia de Danza Aérea, da Argentina, será um dos grandes momentos do Festival em 2023
O espetáculo "T para T", da célebre Brenda Angel Cia de Danza Aérea, da Argentina, será um dos grandes momentos do Festival em 2023 | Foto: Máximo Parpagnol/ Festival de Dança de Londrina/ Divulgação

A outra montagem resultante das transformações sociais deste evento histórico é a que encerra a programação do Festival, no domingo (15). “T para T”, da célebre Brenda Angiel Cia. de Danza Aérea, da Argentina, faz literalmente o mundo virar de ponta cabeça. O trabalho coreográfico foi desenvolvido pela argentina Brenda Angiel, uma das pioneiras da dança aérea na América Latina, em fusão com a dança contemporânea.

O Festival de Dança de Londrina 2023 é uma realização da APD (Associação dos Profissionais de Dança de Londrina e Região Norte do Paraná) e tem patrocínio da Prefeitura Municipal de Londrina / Secretaria Municipal de Cultura, por meio do PROMIC (Programa Municipal de Incentivo à Cultura), com apoio institucional da Casa de Cultura da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e apoio cultural da Rádio UEL FM.

* Com assessoria de imprensa.

SERVIÇO:

"Mestiço Florilégio" - Antônio Nóbrega e Rosane Almeida (São Paulo-SP) - sábado (7) - Teatro Ouro Verde (GRATUITO)

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* “Mercúrio” - Luiz Oliveira e Irupé Sarmiento (São Paulo - SP) - domingo (8) - Teatro Ouro Verde

* Mostra Local “Dança Londrina”- Grupos e artistas de Londrina e região (Londrina-PR) - segunda-feira (9) - Teatro Ouro Verde

* “Memória de Brinquedo” e “Dom Quixote” (suíte) - Curitiba Cia. de Dança (Curitiba - PR) - terça-feira (10) - Teatro Ouro Verde

* “As Multidançarinas” - Grita Cia. de Palhaças (Londrina - PR) - quarta-feira (11) - Teatro Ouro Verde

* “A Bênção do Grande Urubu” - Homenagem a Carina Corte (Londrina - PR) - quinta-feira (12) - Teatro Ouro Verde

* “Ledores no Breu” - Cia. do Tijolo (São Paulo - SP) - sexta-feira (13) - Divisão de Artes Cênicas - Casa de Cultura da UEL

* “Humana Natureza” (Cinco e Bora!) - Ballet de Londrina (Londrina-PR) - sábado (14) - Teatro Ouro Verde

* “T para T” - Brenda Angiel Cia. de Danza Aérea (Buenos Aires - Argentina) - domingo (15) - Teatro Ouro Verde

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Os ingressos para os espetáculos do Festival podem ser adquiridos na plataforma Sympla

Quanto: R$20 e R$10 (meia-entrada).

A partir de sábado (7), a bilheteria física também funcionará no Teatro Ouro Verde, diariamente, com abertura às 16 horas.

A grade de programação pode ser acessada no site oficial do evento: www. festivaldedancadelondrina.art.br

Informações em tempo real serão postadas nas redes sociais do evento.