Casas dos colonos na fazenda no auge da produção cafeeira: trabalho para muitos
Casas dos colonos na fazenda no auge da produção cafeeira: trabalho para muitos | Foto: Divulgação

No período em que Londrina era considerada a capital mundial do café uma propriedade rural da região metropolitana do município ganhou destaque como a maior produtora do grão no país. Localizada às margens da rodovia PR-170 em Jaguapitã (cidade localizada a 40 km do território londrinense), a Fazenda Maragogipe ostentou números impressionantes na fase áurea da cultura cafeeira. Estima-se que no local havia um milhão de pés de café, além usina termoelétrica, olaria, marcenaria, farmácia, mercado e até uma sala de cinema espalhados pelo vilarejo que abrigava cerca de três mil moradores.

Considerada um modelo de gestão com fama em todo o país, a Fazenda Maragogipe chegou e receber visitantes ilustres entre as décadas de 1960 e 1970. Entre eles o ex-presidente Juscelino Kubitschek e a eterna Miss Brasil, Martha Rocha. A memorável história da propriedade rural que começou a entrar em declínio após a fatídica geada de 1975 está sendo resgatada por meio do Projeto Memórias Maragogipe. A iniciativa inclui a reunião de um acervo com milhares de fotografias da época e a produção de um documentário audiovisual com entrevistas de antigos moradores do local.

Igreja de São Sebastião na Fazenda Maragogipe: festa do padroeiro , em 20 de janeiro, era feriado para a comunidade que tinha calendário próprio
Igreja de São Sebastião na Fazenda Maragogipe: festa do padroeiro , em 20 de janeiro, era feriado para a comunidade que tinha calendário próprio | Foto: Divulgação
Juscelino Kubitschek visitou a Fazenda Maragogipe em maio de 1963, quando já tinha deixado a presidência da República , mas era parlamentar
Juscelino Kubitschek visitou a Fazenda Maragogipe em maio de 1963, quando já tinha deixado a presidência da República , mas era parlamentar | Foto: Divulgação

Nascido na Fazenda Maragogipe, onde viveu até os 20 anos de idade, Rivaldo Pedrão é um dos idealizadores do projeto. “Tudo começou com um grupo criado por Nivaldo Palardino no Facebook com o nome da fazenda. Em meados de 2015, começamos a reunir fotografias tiradas por antigos moradores de lá e começamos a relembrar histórias vividas naquela época. Atualmente o grupo tem mais de 2.700 integrantes que postaram mais de duas mil fotografias. Também criamos um grupo no whatsapp e durante nossas conversas surgiu a ideia de produzir um documentário", relata. Ele informa que o projeto também está sendo desenvolvido pelos professores de História Renato Malacrida e Homero José Dias Filho; com as jornalistas Daiane Valentin e Ellen Caroline Lopes Nunes; e com os arquitetos Lorena Mie Irmer Murata e Elton Charles Pereira.

Pedrão comenta que a produção do documentário audiovisual teve início no segundo semestre do ano passado, mas que teve de ser interrompida devido à pandemia do novo coronavírus. “A ideia é entrevistar pessoas que viveram na fazenda no auge do cultivo de café. Como a maioria dos moradores daquela época já é idosa, preferimos adiar as gravações para não colocá-los em risco. A intenção é dar início às filmagens logo que a pandemia acabar e depois de pronto disponibilizar o documentário na internet para que todos que tenham interesse possam assisti-lo”, diz.

Além das fotos e do documentário, os ex-moradores também estão resgatando antigos objetos usados na fazenda. “Já conseguimos recuperar a chave da bomba d´água que abastecia toda a fazenda e outros maquinários e objetos. Futuramente pretendemos criar um memorial para abrigar esses itens e também uma maquete da fazenda que os arquitetos envolvidos no projeto planejam construir”, revela Pedrão, que atualmente mora em Rolândia e trabalha como vendedor em Londrina.

Igreja de São Sebastião na Fazenda Maragogipe: festa do padroeiro , em 20 de janeiro, era feriado para a comunidade que tinha calendário próprio
Igreja de São Sebastião na Fazenda Maragogipe: festa do padroeiro , em 20 de janeiro, era feriado para a comunidade que tinha calendário próprio | Foto: Divulgação

Segundo ele, entre as boas lembranças compartilhadas pela internet com os antigos amigos estão grandes eventos que aconteciam na fazenda. “A sede tinha 118 casas e para facilitar a identificação, as residências eram divididas em ruas. Era praticamente uma cidade. Lá a gente tinha de tudo, incluindo muita diversão nos finais de semana, com torneios de futebol, filmes exibidos no cinema local, bailes e festas. Muitos namoros da época acabaram resultando em casamentos entre integrantes das famílias que moravam lá. Era tudo muito divertido, todos se conheciam, não havia maldade. Éramos todos uma grande família”, resume ao comentar que recentemente tiveram a ideia de recriar camisas dos times de futebol da fazenda e mais de 500 peças foram confeccionadas.

Além das lembranças pessoais, Rivaldo destaca que a propriedade rural onde nasceu fazia jus à fama de fazenda modelo. “O fundador da Fazenda Maragogipe, seo Ulysses Ferreira Guimarães, homônimo do político, era um visionário. Ele criou uma propriedade totalmente auto-sustentável. As madeiras cortadas da mata na época da colonização da propriedade, nos anos 1940, era levadas para uma serraria montada no local. De lá, as toras eram processadas e encaminhadas para a marcenaria e transformadas em móveis e tábuas usadas na construção das casas dos trabalhadores locais. Havia também uma olaria onde eram produzidos tijolos e telhas e uma usina termoelétrica que além da fazenda chegou a fornecer energia elétrica que iluminava os municípios de São Marinho, próximo a Rolândia, e toda a cidade de Jaguapitã. Além da produção de café, que era exportada pelo porto de Santos, a fazenda produzia outros alimentos que eram vendidos para os próprios moradores do local. É uma história que vale a pena ser lembrada e contada”, enfatiza.

Rivaldo Pedrão é um dos guardiões da memória da Fazenda Maragogipe que deverá ser transformada em filme
Rivaldo Pedrão é um dos guardiões da memória da Fazenda Maragogipe que deverá ser transformada em filme | Foto: Divulgação

Cenários de filmes

Várias fazendas paranaenses guardam histórias grandiosas da época em que o Brasil se tornou o maior produtor mundial do café, na metade do século XX. Um desses exemplos é a Fazenda Califórnia, localizada em Jacarezinho (região do norte pioneiro). A sede da propriedade rural que se tornou uma das maiores produtoras da cultura cafeeira chegou a servir de cenário para as filmagens de um filme hollywoodiano. Trata-se do longametragem “Pão de Açúcar”, produzido em 1964 e estrelado pelos atores americanos Rhonda Fleming e Rossano Brazzi. A varanda e a piscina da casa do proprietário da fazenda fizeram parte das locações da filmagem que conta a história de uma mulher casada que se sente solitária pelo fato do marido se dedicar apenas ao trabalho e é seduzida por outro homem.

Visitas à Rota do Café

Fundada por uma associação criada em 2009, a Rota do Café tem levado visitantes a um mergulho na cultura cafeeira de Londrina e região. Os roteiros são elaborados conforme o perfil dos interessados e incluem visitas às fazendas históricas, centros culturais, restaurantes rurais e lugares pitorescos. Mais informações sobre a rota podem ser obtidas pelo site www.rotadocafe.tur.br ou pelo telefone (43) 99134-6104.