“Oeste Outra Vez”, com indiscutíveis méritos, foi escolhido o melhor longa-metragem brasileiro da 52ª edição do Festival de Cinema de Gramado. A decisão, digamos, “conciliatória” do júri, distribuindo estatuetas a todos os concorrentes, de certa forma fez coro com o espírito que presidiu toda a edição deste ano, celebrada com absoluta justiça como uma solidária manifestação de resiliência e resistência. O festival foi o primeiro grande evento no Rio Grande do Sul depois da maior tragédia climática da história do Estado, ocorrida em fins de abril/início de maio, e que afetou a vida de mais de dois milhões de pessoas atingidas pelas enchentes.

Na abertura da cerimônia, realizada no Palácio dos Festivais, dois momentos: uma homenagem discreta, breve mas eficiente, ao apresentador Silvio Santos, que morreu na manhã de sábado (17), e um comovente vídeo, enaltecendo a capacidade de resistência e reconstrução demonstrada pelos gaúchos.

MAIS PARA UNS, MENOS PARA OUTROS

Bang bang existencialista à brasileira, rodado no interior de Goiás (Chapada dos Veadeiros). “Oeste Outra Vez", de Erico Rassi, levou o principal Kikito da noite, melhor filme, além de melhor direção de fotografia (André Carvalheira) e melhor ator coadjuvante (Rodger Rogério, um estreante de 80 anos).

Se foi pouco para o filme, já “Estômago 2 – O Poderoso Chef” obteve uma coleção de Kikitos. Sequela de sucesso nacional de 2007, levou o maior número de troféus na noite. O longa saiu contemplado com os Kikitos de melhor ator (dividido entre João Miguel e Nicola Siri), melhor roteiro (para Bernardo Rennó, Lusa Silvestre e Marcos Jorge), melhor direção de arte (Fabíola Bonofiglio e Massimo Santomarco), melhor trilha sonora (Giovanni Venosta) e melhor filme pelo júri popular. A estreia nacional está prevista para dia 29 próximo.

O júri oficial, formado por Ansgar Ahlers, Emanuelle Araújo, Liliana Sulzbach, Samuel de Assis e Vania Catani, contemplou ainda "Filhos do Mangue" (melhor direção, para Eliane Caffé, e melhor atriz coadjuvante, para Genilda Maria); "Cidade; Campo", Kikitos de melhor atriz, para Fernanda Vianna, e melhor filme pelo júri da crítica.

Com uma estatueta cada ficaram “O Clube das Mulheres de Negócios”, de Anna Muylaert, que recebeu o prêmio especial do júri pelo trabalho de suas atrizes (Louise Cardoso, Irene Ravache, Cristina Pereira, Ítala Nandi, Katiuscia Canoro, Maria Bopp, Grace Gianoukas, Polly Marinho, Helena Albergaria e Shirley Cruz); "Pasárgada", estreia na direção de Dira Paes, recebeu pela categoria de melhor desenho de som; e "Barba Ensopada de Sangue", de Aly Muritiba, vencedor de melhor montagem.

Adaptação para as telas de best-seller de Daniel Galera, autor paulista radicado em Porto Alegre, "Barba...” era uma espécie de representante gaúcho na seleção, o que fez com que o resultado da premiação fosse lamentado por parte do público. Se o público local lamentou a "derrota" gaúcha nos longas, o mesmo não aconteceu na mostra competitiva de curtas metragens, que consagrou a produção do RS "Pastrana", de Melissa Brogni e Gabriel Motta, com os Kikitos de melhor curta, melhor fotografia e melhor montagem. O júri da competição de curtas, formado por Clementino Junior, Luiz Alberto Cassol e Marília Garske, também premiou quase todos os filmes de sua seleção. Dez dos 12 curtas em competição levaram ao menos uma estatueta para casa.

O Festival de Gramado já anunciou sua edição de 2025: 14 a 23 de agosto. E com uma novidade: a atriz Camila Morgado será mais uma curadora do evento, juntando-se ao crítico Marcos Santuário e ao ator Caio Blat.

O jornalista viajou a convite da organização do Festival de Gramado