Jotabê Medeiros
Agência Estado
O disco ‘‘Manera Frufru Manera’’, do cantor e compositor cearense Raimundo Fagner, corre o risco de entrar para o livro dos recordes como o mais problemático da música popular brasileira. Depois de ter sido comprovado, em 1981, que Fagner gravou duas canções que eram plágios de poemas de Cecília Meireles (‘‘Canteiros’’, também de ‘‘Manera Frufru’’, e ‘‘Motivo’’, de um disco chamado ‘‘Fagner’’, de 1979), um novo imbróglio se criou em torno de um dos seus sucessos mais conhecidos, ‘‘Penas do Ti꒒. Fagner alegou, quando do lançamento do disco, que ‘‘Penas do Ti꒒ era uma adaptação sua para uma canção recolhida do domínio público.
Na verdade, ‘‘Penas do Ti꒒ nada mais é do que uma regravação de ‘‘Voc꒒, uma composição de Hekel Tavares (1886-1969) e Nair Mesquita, editada em 1928 e dedicada à cantora lírica Gabriella Besansoni Lage. O ‘‘deslize’’ de Fagner, apontado inicialmente pelo jornalista Tárik de Souza, do ‘‘Jornal do Brasil’’, demorou 26 anos para ser descoberto (de 1973 até hoje).
E isso só aconteceu porque o filho do compositor Hekel Tavares, Alberto Hekel Tavares, ouviu uma gravação recente da Orquestra Pró-Música do Rio de Janeiro, tendo como solista a cantora Ithamara Koorax, e pôde comparar com as gravações anteriores de Fagner. ‘‘É inacreditável: tratava-se da mesma canção’’, diz Alberto Hekel Tavares.
Segundo ele, chegou a mudar algumas palavras. ‘‘Ele chama a fruta gabiroba de guabiraba, coisa que não existe’’, diz Tavares. Desde sua gravação inicial, em 1973, ‘‘Penas do Ti꒒ (ou ‘‘Voc꒒) teve diversas regravações. Joanna a gravou no CD ‘‘Vidamor’’, pela BMG. A Philips a relançou duas vezes. Nana Caymmi a canta em dueto com Fagner no CD ‘‘Amigos e Canções’’, também da BMG.
A gravadora Warner Chapell, com quem Fagner assinou contrato para a gravação original de ‘‘Manera Frufru Manera’’, admite o equívoco do crédito e está em contato com os advogados dos herdeiros de Hekel Tavares. Fagner, também contatado, reconhece que houve um problema, mas acha muito alta a quantia pedida como indenização: R$ 400 mil.
‘‘A canção não só não era do folclore como era bastante conhecida e de um dos grandes compositores brasileiros’’, diz Alberto Hekel Tavares. ‘‘Nós queremos indenização financeira e também moral, porque a obra do meu pai foi usurpada’’, afirma. Caso não haja um acordo, Tavares pretende processar Fagner.
Hekel Tavares foi um compositor de grande sucesso na primeira metade do século. Compunha música popular e também música sinfônica. Nos anos 50, seu ‘‘Concerto em Formas Brasileiras’’ foi apresentado nos Estados Unidos tendo como solista a pianista Guiomar Novaes e sob a regência do maestro Karl Kruger.