Lendas e causos de quatro municípios paranaenses banhados pelo Rio Tibagi serviram de inspiração para a exposição “Casas Novas não Têm Fantasmas”, produzidas pelo artista plástico londrinense Chico Santos a partir de relatos de moradores de Primeiro de Maio, Jataizinho, Telêmaco Borba e Ortigueira. Alegorias de casas que andam pelas matas, igrejas que flutuam nas águas de rios e seres que vagam pelas florestas compõem a mostra virtual, que conta com vídeos que podem ser vistos gratuitamente a partir desta quinta-feira (8) pelo site do evento. Acesse aqui .

A galeria virtual criada por Chico Santos reúne uma série de oito vídeos, que mostram as obras do artista, feitas em madeira reciclada, terracota, fios de algodão, entre outros materiais. A ideia inicial era que a exposição fosse montada em ambientes naturais, porém devido à pandemia da covid-19, o trabalho acabou migrando para a internet. Com o objetivo de preservar ao máximo o conceito do projeto original, que era levar o público a contemplar as peças em um lugar florestado, o artista plástico optou por levar suas obras até o Jardim Botânico de Londrina, onde os vídeos foram gravados.

A exposição leva o espectador a conhecer os mitos e lendas criados por Chico Santos a partir de suas inquietações a respeito das relações do homem com a natureza. As obras apresentadas pelo artista plástico foram concebidas originalmente no projeto “Mitos Paranaenses”, no qual ele se inspira em histórias verídicas para reforçar a urgência de se preservar o meio ambiente. A série de vídeos é, apresentada pela professora de artes, Suellen Stanislau. As imagens foram captadas pelo cinegrafista Marcos Assi. Entre os episódios que compõem a exposição virtual também estão o registro de um cortejo conduzido por guardiões da mata, com a participação de índios Kaigangs, que também aparecem em outro vídeo da série, desta vez narrado em sua língua materna, uma instalação artística gravada em toda a bacia do Rio Tibagi. Santos também convidou para integrar a exposição virtual “Casas Novas não Têm Fantasmas”, o artista Guilherme Gerais. Em sua participação, Gerais leva o espectador a percorrer uma exposição virtual dentro da exposição virtual.

Casas que andam pelas matas estão entre as alegorias da exposição  que resgata lendas do rio Tibagi
Casas que andam pelas matas estão entre as alegorias da exposição que resgata lendas do rio Tibagi | Foto: Divulgação

QUATRO MUNICÍPIOS

Os trabalhos foram concebidos e desenvolvidos por Chico Santos a partir de uma série de atividades desenvolvidas, antes da pandemia, em Primeiro de Maio, Jataizinho, Telêmaco Borba e Ortigueira. Esses municípios têm em comum o Rio Tibagi, que nessas regiões acabou sendo afetado pelas Usinas Hidrelétricas de Mauá e Capivara (na divisa do Paraná com São Paulo).

Para dar forma e materialidade às lendas e causos locais, Santos contou com a participação ativa dos moradores das cidades, das populações ribeirinhas e das tribos indígenas que habitam essas regiões, que contribuíram para o projeto dando depoimentos de vídeo e áudio. Na região de Primeiro de Maio e de Jataizinho, a história que alimenta o trabalho do artista é a de uma igreja que é vista flutuando pelo rio Tibagi em diferentes pontos. A construção de madeira teria pertencido à uma comunidade que vivia às margens do rio extraindo argila para fabricação de cerâmica. Com o represamento das águas que formam o reservatório da Usina Capivara, as casas e a igreja da comunidade foram encobertas pelas águas. Mas a igreja ‘sobreviveu’ e agora navega rio abaixo rio acima. Moradores antigos dizem que a construção de madeira flutua em busca de um novo local para se instalar.

Já na região de Ortigueira e Telêmaco Borba, a lenda que se conta é a de uma casa que tem sido avistada flutuando pelo rio Tibagi. A construção começou a aparecer após a formação do lago que alimenta a Usina de Mauá. Dizem que tal casa pertencia a um ermitão que vivia em uma das ilhas do Tibagi que foi encoberta com o seu represamento. Os moradores da região dizem que o ermitão se recusou a deixar o local, mesmo tendo sido alertado que as águas o encobririam. Ele representa a resistência contra a construção da usina, que houve por parte da população das cidades da região e principalmente da tribo indígena que habitava o lugar, que foi submerso.

Entre os relatos coletados pelo artista, há histórias de seres que vagam pela floresta
Entre os relatos coletados pelo artista, há histórias de seres que vagam pela floresta | Foto: Divulgação

O projeto “Casas Novas não Têm Fantasmas” foi aprovado no Programa Estadual de Fomento e Incentivo à Cultura (Profice) da Secretaria de Estado da Comunicação Social e da Cultura, Governo do Paraná, e conta com apoio da Copel.